"Feliz Natal"

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Silêncio absoluto. Nem um único ruído sem ser o som bonançoso da neve caindo do lado de fora do carro. Quietos. Quietos até demais.

Alexander olhava impaciente pelo vidro do Ford esbranquiçado, camuflado pela neve, procurando por algum sinal de retorno de Madison.

Com certo esforço, pôde espiar pelo retrovisor, vendo carros se aproximarem, passarem, seguirem em frente. Um dia tivera a chance de observá-los sem preocupações, contando o número de vezes os carros pretos e brancos atravessavam a rua, por pura diversão, inocente de que esses seriam seus perseguidores até o momento. Agora eles quem teriam de ficar alerta ao verem o carro roubado.

Fusca azul!

Contar não somente o número de vezes que o viram pela região como também o número de integrantes dentro, o número de mortos fora. Já não soava tão divertido.

Recordava-se de um dia ter sentado na beira das águas salgadas que tudo levam e relevam, os pés descalços na areia ardente e calças imundas até os joelhos. Será que um dia fora livre assim ou "um dia" fora apenas mais um sonho?

Cada carro, um momento. Um movimento. Do carro amarrotado que vira seu pai dirigir quando criança ao escuro e fúnebre que roubaram de um pai de 3. Era véspera de natal. Olhou para a estrada. Lá se vai o caminhão da Coca-Cola, iluminando e despertando a euforia por onde quer que passasse. Era véspera de Natal. O pai voltava de um dia exaustivo para dar a atenção ao que mais de precioso tem na vida. Na véspera de Natal. De repente, seu carro estava sendo roubado por uma gangue de quatro integrantes, ele tinha de fazer alguma coisa para impedir. Durante a véspera de Natal. Um tiro no peito. Madison tinha boa mira. Tudo foi muito rápido, não viu direito, mesmo assim podia ver o sangue lhe escorrendo pelas mãos, tão perto que jurou sentir o cheiro de ferro. A culpa, a desonra. O fôlego, a adrenalina, agora tudo parecia escapar-lhe com a maior facilidade e a qualquer momento. Tão longe, porém tão perto a ponto de sentir o gosto.

Uma ânsia de vômito lhe invadiu o estômago.

"Feliz Natal" Murmurou Laurens. Deu um tapa amigável em seu ombro e logo voltou a ficar quieto.

Presos num silêncio, mas não estavam de luto. Nada a dizer, com muito a ser dito. Silêncio absoluto, então por que tão ensurdecedor?

Thomas mantinha as mãos no volante, pronto para dar partida assim que James retornasse ao carro. Com os olhos na cabine telefônica que entrara, aguardava pacientemente que encaixasse o telefone de volta ao gancho e desistisse de sua ligação.

Bendito coração de Madison, frágil e quase tão pesado quanto o peso nas costas. Não o culpava por seu desequilíbrio, fora uma noite traumática para todos. Principalmente para ele.

O homem havia corrido até a janela do carro, aos berros e xingões, vociferando bem ao lado de James. Sem hesitar, ele atirou. Só ouviu-se o som da bala fria na noite congelada.

Noite Feliz

Para falar a verdade, Thomas mal enxergou o ocorrido, mesmo sentado ao lado dele na hora. Foi tudo muito rápido e, do jeito que James estava paralisado, deduziu estar mais abalado do que a própria vítima. A mão, vacilante, soltou a pistola no colo e as lágrimas não tardaram a brotar e embaçar a visão de seus olhos. Logo o restante da família notou a falta do pai e avistou o acontecido. Gritos agudos e graves, o desespero e o medo por tanto tempo restritos voltavam a se revelar na escuridão. Quando menos perceberam, já estavam distantes daquela casa.

O resto da viagem foi de completa mudez. Não sabiam o que dizer. James nunca havia usado uma arma antes, apenas ameaçado. Chorava silenciosamente enquanto Thomas seguia dirigindo o mais rápido que podia, como se nada tivesse acontecido. Mãos no volante e olhos na rodovia, apenas ouvindo a respiração acelerada do mais novo assassino ao seu lado.

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⏰ Última atualização: May 07, 2020 ⏰

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