Prefácio - Anjo

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Posso afirmar claramente que como qualquer outra pessoa tenho sonhos. Sonhos que representam intencionalmente aquilo que pretendemos fazer das nossas vidas. Uma conclusão de algo para a qual trabalhamos quiçá durante toda uma vida. E é perante isso que hoje posso afirmar que tenho sonhos, que tive sonhos diferentes durante toda a minha vida e que infelizmente fui perdendo ou esquecendo a maioria deles.

 Sempre me disseram que a vida representa aquilo que desejamos fazer dela, os caminhos pelas quais optei, foram as consequências de decisões tomadas muitas vezes na ânsia de encontrar respostas ou pela esperança de tomar o rumo certo como se por acaso me encontrasse perdida no meio de um cruzamento e todos os quatro caminhos me apresentassem um destino diferente, repleto de encruzilhadas inóspitas e incertas.

No entanto, por entre todos os futuros que tentei projectar para mim, nunca me foi possível imaginar que o meu amor platónico pelo meu ídolo pudesse alguma vez tornar-se real. Pareceu-me demasiado improvável, impossível até, e por isso não acreditei nele quando me confrontou. As incertezas e as dúvidas cegaram-me, atrasando a concretização de um amor que estava pré-destinado para acontecer, para mudar o meu mundo tão monótono.

Contudo, não se pode lutar contra o destino quando já sabemos que não temos a força para o fazer e por muito que o quisesse evitar, o seu amor atingiu-me com um abalo tão forte que se tornou impossível pensar e respirar junto dele mas completamente doloroso viver sem ele.

Analisando o modo como me atingiu, pergunto-me como desmoronou tão facilmente as barreiras e muros invisíveis que lutei para construir em meu redor e dei por mim a ser uma das muitas pessoas que desejam o amor como forma de vida. Sempre questionei a sanidade dessas mesmas pessoas, talvez pelo facto de me parecer irracional e um pouco masoquista o facto de se desejar tanto um sentimento que está pré-definido para magoar e fazer sofrer. Contudo, quem sou eu, um ser humano repleto de defeitos para questionar o poder do amor?

Sorrio ao recordar o brilho incessante do seu olhar a incidir sobre mim, o olhar que me deixou completamente perdida no seu ser. Como se por algum motivo que eu desconhecia, o brilho que todo o seu ser emanava desse uma nova cor ao meu mundo, a cor que eu precisava para acordar de um sono quase vitalício. Um sono de um ideal de apatia que me deixava completamente enfurecida comigo própria, mas para a qual não encontrava a força necessária para me desenvencilhar.

Comparei-o a um anjo. Ao anjo patente no meu pesadelo pronto para me salvar de tudo, até de mim, sempre que lhe pedisse para tal. Ele foi a razão pela qual o meu coração bateu incessantemente e a impotência que sentia como reacção ao seu toque, fez-me sentir que nada poderia quebrar a minha felicidade. 

Por isso, não me consigo arrepender da decisão de o ter deixado entrar na minha vida. Quaisquer que tivessem sido as razões para ter desistido de lutar contra as forças da razão, valeram muito mais do que todos os motivos que me fizeram querer permanecer racional. Quando a realidade é finalmente melhor do que todos os sonhos, não conseguimos pensar na possibilidade da necessidade de dormir, de perder todas as hipóteses de partilhar momentos inesquecíveis com ele. 

Por isso, o amor que aqueceu o meu coração correspondeu ao melhor momento de toda a minha vida. Descobri que nada dura para sempre, que não devemos tomar nada nem ninguém como garantidos, e apesar de não ter sido um sonho permanente, eu não poderia ter desejado um sonho melhor.

Porque Seth, tu foste a apoteose da minha vida.

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora