NARRADOR OBSERVADOR
- Sente-se ao lado de Clara. - sussurrou Diego no ouvido de Jake, vendo o menino assentir e ir com dificuldade até o lado da garota, agarrando a cadeira a procura de equilíbrio, logo se sentando aliviado.
- Certo. - Gabriel disse sério. - Clara, creio que saiba por que estão aqui.
- Mais ou menos. - suspirou. - Sei que vocês descobriram algo.
- Exatamente. - Gabriel pegou um controle remoto, apertando um botão qualquer, que fez o monitor já conhecido descer. - É uma longa história, então comecemos pelo começo.
"Milhões de anos atrás, em um lugar qualquer do mundo humano, nasceu uma criatura com asas, até aí, desconhecida por todos.
Fruto vindo de uma floresta distante, seu nome foi dado como Ma... -- Mas o que isso tem a ver com minhas dores? - interrompeu Clara impaciente.
- Deixe-me terminar e verá. - disse Gabriel levemente irritado, logo continuando.
"Fruto de uma floresta distante, seu nome foi dado como Maria.
Bonita e graciosa, certa vez decidiu explorar os arredores do seu lugar de origem, saindo do mesmo.Acabou por se ver em uma pequena vila, onde recebeu olhares julgadores e assustados de todos que lá viviam. Faziam perguntas como "o que são estas coisas em suas costas?" "Ela está fantasiada?" "Quem será esta aberração?".
Maria, por sua vez, se sentiu confusa com tantas perguntas e acusações, tendo como sua única opção, correr dali com um bando de curiosos a seguindo.
Acabou por se ver em uma pequena floresta ali presente, conseguindo despistar os moradores, sozinha novamente.
Mas não completamente sozinha.
Quando a garota se virou, viu um menino a olhando curioso, mas sem nenhuma expressão julgadora, apenas desentendida.
A menina explicou brevemente tudo o que acontecera recentemente, recebendo acolhimento do menino.Os dois acabaram por virarem amigos, e depois, se viram apaixonados um pelo outro.
Mas, como nem tudo são flores, a multidão enfurecida acabou por achar a criatura, a acusando como nunca, dizendo que ela era fruto de magia e maldade.
Maria foi tirada com brutalidade do garoto, sendo obrigada a se separar de único e verdadeiro amor.
Acusada de bruxaria, a menina foi amarrada à força, sendo queimada viva e tendo suas asas cortadas pelos moradores, virando após tudo isso, um troféu para toda aquela gente.
Mas não acaba por aí, Maria morreu com todas aquelas maldades, sim. Porém, certo dia, as asas arrancadas de seu corpo, que foram expostas na praça como conquista da cidade, sumiram.
Fora um mistério para todos, até que um dia, cada pessoa que contribuiu com a morte da garota, pagou com sua própria vida.
A cidade ficou em chamas após o desaparecimento das asas, fazendo assim, matar todos os maldosos da cidade, ficando apenas: o menino que se apaixonou por Maria, o único bondoso com a garota."- Uau. - Jake falou pela primeira vez desde que Gabriel começara a história. - Que história!
- Realmente. - concordou Clara. - Mas até agora eu não entendi.
- O que não entendeu? - perguntou Diego.
- O que isso tem a ver essa história com minha dor?
- Falta pouco para você entender.
"Então, muitos anos depois, em uma vila perto do lugar onde antes era a cidade das maldades, todos ficaram sabendo da triste história de Maria. Claro, que nunca se agrada a gregos e troianos; Nem todos acreditavam nessa história, para alguns era apenas mais uma lenda.
Mas, para outros, era uma história mais verdadeira que o próprio sol. E, para essas pessoas, Maria foi considerada uma santidade, ganhando o apelido de Anjo.
Sendo assim, Maria foi o primeiro Anjo de todos os mundos."- Chegamos em uma conclusão, Clara. - continuou Gabriel. - Você é a reencarnação de Maria.
- Como é? - Clara e Jake disseram ao mesmo tempo.
- Como? Isso é possível? - Clara estava assustada com a declaração.
- Sim. Você sente dores nas costas, certo? - Gabriel questionou.
- Sim.
- Exato. Você sente dores de vidas passadas, por isso tão fortes. Você sente a dor de suas asas sendo cortadas.
- Isso é impossível. - rira sem humor.
- Não, não é. - continuou. - Quando você chegou no Mundo dos Anjos, não ganhou asas não por sua causa de morte. - Clara afundou na cadeira ao tocarem no assunto. - Mas sim por alguma causa desconhecida por todos nós. E, desde que você pisou nesse mundo, estamos estudando você, chegando logo na conclusão de que sim, Clara. Você é a reencarnação de Maria. - sorriu. - Quem você acha que Jake é? - apontou brevemente para o garoto.
Clara olhou assustada para Jake, entendendo logo.
Era por isso que eram tão ligados um ao outro.
- Jake é o menino? - Clara não estava acreditando. - O menino que ajudou Maria?
- Sim. - Gabriel cruzou os braços. - E é por isso, que vocês estão apaixonados: vidas passadas.
Jake sorriu ao ouvir aquilo.
- Isso tudo é muito doido. - Clara riu com as mãos no rosto. - Tenho uma pergunta.
- A faça. - Gabriel incentivou.
- Como faço para parar de sentir dores? - Clara percebeu Diego e Gabriel ficarem tensos. - O que? - desconfiou da expressão de ambos.
- É essa parte que queremos esclarecer.
- Esclarecer o que? - Clara ficou séria.
- Você pode morrer.
- O que? Como assim? - seus pulmões faltaram ar. - Eu posso morrer?! Pode ser impedido?!
- Sim, pode. - afirmou com a cabeça.
- Então... por que tanta tensão? - Clara continuava desconfiada, e talvez até um pouco ansiosa.
- Pois você corre risco do mesmo jeito. - Gabriel suspirou, olhando para Diego, que confirmou com a cabeça. - Tem um método.
- Que método? - apressou Clara, ficando irritada por tantas voltas.
- Forçaríamos sua morte, com a maior das espadas de prata. - Clara arregalou os olhos. - Você sentiria dor suficiente para suas asas aparecerem, fazendo você não morrer.... Ou... você morreria. - suspirou novamente. - E, caso nada fosse feito, você sentiria sua dor se intensificar a cada vez, até você acabar morrendo por se sentir a ser queimada.
- Como Maria morreu... - disse mais para si mesma que para todos na sala, recebendo uma afirmação de Gabriel.
- Deixaremos essa escolha para você. - olhou nos olhos de Clara. - Qual opção você escolhe, Clara?
Clara olhou para os olhos confusos e assustados de Jake, depois encarou o olhar acolhedor de Diego, chegando logo em Gabriel
Após pensar por certos segundos, Clara terminou por se decidir.- Eu sei o que quero. - se levantou.
- A decisão é sua. - Disse Gabriel.
- Se pode ter alguma chance... eu vou pela espada. - falou firme.
- Certo. - Gabriel expressou solidariedade pela garota.
- Eu... - Jake falou baixo, intensificando o volume da voz de pouco. - Corro risco de perder Clara?
Diego encarou com pesar o menino.
- Todos corremos esse risco, menino Jake. Todos corremos...
(...)
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Entre Anjos e Humanos - Livro 1
FantasySalvar vidas não é a coisa mais fácil de se fazer, e nem sempre está presente em nosso cotidiano, mas para Clara, uma garota brincalhona e atrapalhada que virou um tipo de anjo após sua misteriosa morte, é uma coisa de outro mundo. Clara um certo di...