Maneira errada.

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Querido diário, perdoe me pelas minhas duas primeiras páginas, eu estava fora de mim , e me despi em palavras não é o certo. Certo, então vamos lá. Prazer, me chamo Tadeu, nasci em uma cidade acanhado. De família de boa condição, aos olhos dos outros, eu não passo de mais um riquinho mimado. Sou filho único. Meus pais são bem fechados, atrevo-me a dizer que ignorante é a palavra certa. Sobre a minha vida, de reclamações a fazer eu tenho apenas duas.
1- Meus apagões de memória.
2- o casamento indesejado.
Sim, eu fui obrigada a me casar com alguém que não me amo. Ainda por cima, ele é um homem. Nada contra aqueles que se casam com alguém do mesmo sexo, mas, um homem é um homem. Ele é uma espécie de pessoa que se deixa a desejar a morte do que ficar com ele. Meu pai, como um grande homem de negócios, me negociou.
Abandonando as histórias tristes, deixe-me lhe contar um pouco sobre as minhas paixões. Eu sou um louco viciado em livros. Com toda certeza, em outra vida eu era uma livraria. Holocausto é uma perfeição de palavras, apesar de seu triste contexto. O menino do pijama listrado é outro livro que sou muito apegado. Aqui sentado, escrevendo sobre livros, acabei por me lembrar de minha mãe. Que grande mulher. Sinto falta dela.
Achei o bilhete que eu havia pregado em meu espelho, aparentemente eu não continuei a escrever em meio aos meus apagões. A não ser que eu tenha escrito em outro lugar, acho melhor deixar algumas dicas de onde encontrar o diário.

Apenas eu...

Quando eu tinha 6 anos de idade, meus pais me abandonaram e eu fui parar em um orfanato. Pouco tempo se passou, até que um casal resolveu me adotar. No começo tudo estava indo muito bem, embora eu fosse bastante quieto. Eles sempre conversavam comigo, mostravam-se presentes e bons pais. A minha mãe em principal, uma mulher incrível, de uma bondade inacreditável e com um coração gigantesco. Meu pai sempre foi brincalhão. A família perfeita, bom, era o que eu pensava. O tempo foi passando e a minha mãe continuava a mesma, com o mesmo sorriso, quase como uma máquina, entende?. Já o meu "pai", aos olhos dos outros ele continuou o mesmo,  mas comigo ele mudou, e como mudou. Tudo começou com um carinho que incomodava, depois passou para tentativas de algo a mais, até que ele conseguiu... ele se permitiu entrar e sair de mim sem a minha permissão e depois de satisfeito me jogou no canto, dizendo que me amava e que eu não podia contar aquilo a ninguém, nem mesmo a minha mãe pois se não eu seria tirado dela. Já estava perto do meu aniversário, faltava menos de uma semana e então ele me deu o meu presente, abusou de mim e não satisfeito em fazer aquilo sozinho chamou o vizinho para ajudar. Depois de tudo, eu mal conseguia respirar, tudo em mim doía, caminhei até o banheiro e tranquei a porta,  liguei o chuveiro e comecei a esfregar o meu corpo por inteiro, na tentativa de apagar aquilo de mim. A água e o sangue lavavam o chão, as marcas me causavam enjoo e, junto com o sangue o meu eu também se foi. Naquele dia eu me perdi de mim por completo. Sai do banho, me vesti e fui para o meu quarto, peguei alguns comprimidos que escondia em baixo da cama e os tomei, e assim peguei no sono.
        6 anos se passaram, e ele repetia tudo, sempre. A minha mãe nem sonhava com aquilo, até que um dia ela chegou do serviço mais cedo e pegou ele em cima de mim. Ela ficou paralisada, ainda consigo ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela calada virou as costas e ele levantou dizendo que não era nada do que ela estava pensando, que ele não estava fazendo nada, ela continuou calada, e foi para o quarto se trocou e agiu como se nada tivesse acontecido. Fez o jantar, e ela fez questão de que ele sentasse a mesa para jantar, eu me sentei mas não estava nem um pouco faminto. Ela foi até a cozinha pegar o assado que ela tinha preparado e voltou com o assado, e quando eu menos esperei ela o esfaqueou e disse baixinho que sentia nojo dele. Eu travei, não consegui dizer e nem fazer nada. Ela tirou a faca e virou as costas.

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