Saímos do Hotel tentando manter uma distância mínima um do outro enquanto atravessámos o lobby.O Seth indicou-me um carro preto que estava estacionado do outro lado da rua e apressou-se a puxar o capuz da camisola de modo a não ser reconhecido. O impacto com a noite fria provocou-me um arrepio compulsivo pelo que me decidi a abotoar o casaco e a esconder as mãos nos seus bolsos quentes. Pelo canto do olho, viu-o a aproximar-sede mim e a colocar um dos braços atrás das minhas costas. Senti-me entrar imediatamente em pânico devido à pouca proximidade a que estava de mim. Era desconcertante o modo como fazia as minhas faces escaldarem tanto até doerem. Contudo, era minimamente previsível que isso acontecesse. O Seth assemelhava-se a um anjo apesar das vestes escuras que sempre envergava. A sua postura altiva e ao mesmo tempo sublime contrastavam com o ar descontraído com que caminhava. E para agravar ainda mais a situação, o meu anjo estava perigosamente perto de mim. E se eu não fosse capaz de resistir ao perfume subtil que me invadia as narinas daquele modo tão rude que me fazia querer desmaiar?
–Tens frio?– indagou ao mesmo tempo que friccionava a mão livre contra o meu braço.O meu coração fraquejou bruscamente quando as suas palavras soaram tão perto da pele da minha orelha. Afastei-me imediatamente dele, uma reacção parva e inconsciente.
A minha voz soou um pouco histérica quando as palavras se soltaram num sopro da minha boca.
– Não. Está uma temperatura relativamente agradável não está? – afirmei prontamente com o meu íntimo a desejar ardentemente que a minha tentativa de parecer calma não saísse fracassada.
Sorriu-me com o brilho incandescente.
–Pelo contrário, eu tenho muito frio e tu pareces ser bastante quentinha. – respondeu envolvendo um braço ao redor da minha cintura continuando a caminhar. Tive de engolir em seco e inspirar várias vezes de modo a conseguir controlar os pensamentos. O meu coração parecia quase cavalgar dentro do meu peito e o aroma que dele emanava não ajudava em nada à minha tentativa de permanecer concentrada em caminhar decentemente.
O carro que ele indicara estava já ao nosso lado mas ele não pareceu reparar, continuava concentrado a observar as estrelas. –Seth? – voltou o olhar cristalino para mim. – Aquele não era o carro que tinhas apontado?
Anuiu. – Sim, mas quero mostrar-te um local que descobri esta tarde e não me apetece ir de carro. Aqueles são só alguns seguranças. Não te preocupes, sabem que não quero que nos sigam hoje.– a mão tornou-se mais grave nas minhas costas. Parecia querer demonstrar que este passeio iria ser apenas nosso, o que me reconfortou muito mais.
Respondi com um sorriso, ainda estava em reabilitação dele. Levantei a cabeça para observar as estrelas ao mesmo tempo que pensava em como o facto de poder estar aqui com ele me parecia um sonho. O vento fustigou contra uma árvore desprovida de folhas fazendo-a abanar subtilmente na sua dança e lançando alguns dos meus cabelos para a minha cara. A mão do Seth escorregou das minhas costas puxando o meu braço para fora do bolso e apertando suavemente a minha mão.
Baixei o olhar constrangida, mas logo depois elevei-o suspirando. Um pouco mais à nossa frente, um aglomerado de árvores adensava-se criando um pequeno parque místico. Tinha dois baloiços de um lado e uma fonte rodeada de pequenos bancos e arbustos do outro.
Sentei-me num dos baloiços e observei-o fazer o mesmo na pequena tábua de madeira ao meu lado. Engoli em seco e achei que devia quebrar o silêncio constrangedor que se impusera entre nós. Apesar de ser reconfortante observar o ar sereno que ele emanava, era difícil suportar ouvir todos os pensamentos que o meu cérebro conjurava.
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Por um Momento
JugendliteraturVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...