3. Joe

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Andando sobre o piso frio daqueles corredores um tanto desertos para um começo de semana, ainda era capaz de sentir uma paz crescente a cada passo que dava em direção a biblioteca da faculdade que já estudava a três anos.
Meus dias no paraíso de livros já havia lido e relido. Alguns até mesmo para Phillipe, estavam contados.
Em um casual cumprimento ao homem que cuidava do local, me encaminhou até a sessão de poesia, aonde peguei alguns, dando tempo o suficiente para reler meus versos favoritos até a aula começasse. De Rupi Kaur a Florbela Espanca. 
Sempre tive um amor genuíno pelas obras de escritoras femininas, me fazendo me perder em mais um dos sonetos que tanto admirava enquanto o tempo passava diante de meus sorrisos que logo se desfizeram ao ver o horário. Havia realmente me perdido.
Segurando os livros com uma mão e a bolsa com a outra, corri o máximo que pude para não atrasar. Por sorte cheguei a tempo, tempo esse que foi capaz de fazer meu humor mudar assim como uma montanha-russa, uma hora em cima e outra em baixo. Isso causado pela presença de certas pessoas que agora sentaram de propósito ao meu lado.
-Atrasado, de novo? - O garoto sorria. 
Seus cabelos ruivos presos de um coque perfeitamente colocado o caracterizavam de um modo único.

-Olá Joseph. - Com um sorriso um tanto amarelo, disse antes de abrir uns dos livros e voltar a ler, ao menos fingir

já que estava difícil me concentrar com o comparecer de tal pessoa.

-Está chateado comigo ainda? - Perguntou de modo sínico.
-Só porque eu dei em cima do seu namoradinho? - Rindo, ele ousou tocar em meu rosto. Me esquivando, ele sorriu sem mostrar os dentes.

-Somos adultos, não estamos no ensino médio ou em uma história clichê no qual você me afete com toda sua graça de conseguir ser um tremendo babaca. - Concordando com meu próprio dito, voltei a ler. 

Estávamos na faculdade e mesmo assim Joseph parecia ainda viver em uma época aonde agir de tal forma com um ser humano parecia ser aceitável ao seu ver.

-E eu pensando que suas respostas não podiam melhorar. Pena que você continua sendo tão frágil. - Em uma surpresa fingida, ele logo voltou seu olhar ao meio da sala em uma tentativa de não parecer focado demais em me atingir.

-O que você quer? – Perguntei a ele em resposta, escondendo minhas mãos quando vi que as mesmas se fechavam enquanto minha mente trabalhava para que a insegurança não voltasse.

-Seja breve. – Completei.
-Eu? Eu quero… - Um barulho rápido de um objeto caindo sobre a mesa fez com que olhasse para cima. Um livro grosso era o motivo do barulho, logo sendo visto com uma real forma de chamar a atenção de Joseph. 
O dono do livro apenas o olhou antes de suspirar. Era

Phillipe, tal qual aquele que tinha mania de suspirar quando irritado e eu sabia disso quando o olhei e com apenas olhares, pedi que ele se acalmasse.
Não precisava disso agora.

-Posso me sentar aqui? - Perguntou sério. 
Mesmo que ele me conhecesse perfeitamente e mesmo não demonstrasse se importar com as falas do outro, Phillipe sabia o quão desnecessário era a presença de tal pessoa tão perto.

-Nós estamos conversando, mas… - Ele não cogitou antes de ordenar que seria melhor que Joseph saísse, mostrando uma cara não tão amigável quando o mesmo demorou para fazer o que foi pedido.
Quando o meu “amigo” se foi, Phillipe não demorou um segundo para se sentar aonde ele estava logo percebendo que minhas mãos estavam escondidas entre as pernas.

-Você está bem? - Perguntou.
-Estou, claro. - Com um sorriso, respondi. -Joseph é só mais um idiota, nada demais.

O olhando, respirei fundo antes de desejar perguntar mais uma vez se aquele amor realmente era verdadeiro ou se diante de tudo isso Phillipe, em seu cavalo branco feito de coragem e bravura, continuaria me protegendo de coisas fúteis como aquela que mesmo assim me afetaram.
Procurando a minha mão, o mais alto apenas entrelaçou seus dedos antes de permanecer quieto sobre esse assunto pelo resto do dia que aos poucos se passava e fazia novamente eu parecer cada vez mais incomodado com tal acontecimento.

-A chave? - Pediu ele quando chegamos na porta do apartamento, me vendo um tanto avoado ao pegar a chave na bolsa apoiada com a alça no ombro, agora forçadamente erguido. Minha postura não era desleixada, sequer acalmada enquanto meus pés balançavam no ritmo das linhas de meus pensamentos focados em um hoje já passado. 
O silêncio instalado agora a todo lugar que passávamos era torturante.

-Joe? Por favor, me fala alguma coisa. - Pediu antes de segurar minha mão, nos mantendo perto o suficiente para ver que meu peito subia e descia dramaticamente. -Eu sei que hoje não foi...
-Você sempre vai me proteger? - Perguntei a interrompê-lo, erguendo minhas sobrancelhas ao olhá-lo de modo triste.
-Enquanto você não fizer nada, vou.
-Você não precisa fazer essas coisas. Eu não me importo com essas idiotices. Você sabe disso. - Um resquício de sorriso tomou conta de meu rosto em uma tentativa de acalmar sua preocupação. Com o peito estufado parecia pronto para proteger do Dragão mais feroz existente.
-Mesmo? - Como resposta Phillipe recebeu o silêncio seguido de um engolir de palavras que escondia, fazendo a dor daquilo ser cada vez maior.
-Eu… Tô com fome, quer comer alguma coisa? - No sorriso gentil que surgiu em meu rosto que não carregava um pingo de verdade, o olhei.
Apontando pra cozinha, tentei fugir do assunto como assim fugia dos meus próprios receios, simplesmente sorrindo.
O barbudo na minha frente negou, pegando seu casaco em cima do sofá, que ontem serviu de apoio e hoje se transformou em vazio quando ele se afastou, pegando suas chaves novamente.

-Eu acabei combinando de encontrar a Maggie naquele bar, tudo bem? - Meio desconcertado, apenas concordei com a cabeça antes de receber um beijo em minha testa e ver ele partir, fechando a porta com sutileza.

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⏰ Última atualização: Jun 12, 2020 ⏰

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