Café Manet. Sim, era esse o nome da porra daquela cafeteria. Nunca deveria ter entrado por aquelas portas, mas eu não posso me culpar pois não sabia que aquilo realmente aconteceria. Tinha recém chego na cidade, me estabelecido a pouco tempo em um apartamento apertado perto daquele lugar. Era a maldita terra dos sonhos, falácias para trouxas como eu acreditar.
Haviam tido histórias sobre um iate saqueado no cais de São Domingos no mês passado. Prefeito e sua família presentes na festa, e uma cicatriz deixada na mão de cada um, apesar disso, sem outros truques. Era algo muito enigmático. Além disso a trupe de criminosos havia levado um punhado de joias e bijuterias caras. Coisa de rico, é claro. Os investigadores já haviam desistido de procurar esses vermes, não haviam deixado rastro algum e não se sabiam os motivos de terem deixados cicatrizes na família. Como um jovem ingênuo como aquele que eu era poderia acreditar que poderia solucionar um crime perfeito?
Logo desisti desse caso sem nem ao menos iniciar a investigação. Nem o melhor dos detetives conseguiria. Acharam meses depois os criminosos, boatos que um deles fazia parte da família Cardelli, mas acho isso exagero. A máfia não assaltaria o prefeito, até porque o senhor Vicente sempre foi bem chegado ao padrinho Cardelli.
Meu fracasso era previsível, tive que me contentar em exercer trabalhos menores na "cidade dos sonhos". Aluguei um carro e trabalhei como taxista, até que conseguisse arranjar uma grana pra abrir meu escritório particular. Porém a vida noturna em Magno é traiçoeira. Não podia rodar meio quilômetro na avenida Ambrosio para que meu carro fosse assediado por um bando de putas baratas. Além do mais devo ter dado carona pra um ou outro assassino. Juro ter visto alguém com uma bomba relógio em uma mochila, mas já era tarde e eu já havia bebido umas belas doses de uísque. Deveria ser um daqueles revolucionários, fato é que no dia posterior estouraram alguma bomba em um desses lugares onde trabalham os servidores públicos. Deveria ser uma lotérica, não me lembro ao certo. Talvez a conta de luz estivesse muito alta naquele mês.
Nunca consegui juntar muita grana como taxista, e quando já estava pronto para meter o pé pra longe de Magnopólis, decidi visitar a porra do Café Manet. Ah, as oportunidades da vida. Sentei naquela bancada, em um banco bem estofado. Pedi um expresso, convencido em tomar algo que não tivesse álcool em sua composição. A uns dois bancos de distância sentava-se um sujeito mal encarado, vestindo sobretudo e chapéu. Um homem noturno de Magno, era legítimo. Quando foi advertido para parar de fumar em estabelecimento público, tirou o cigarro na boca, e levantou levemente o chapéu, o bastante para silenciar a garçonete. Trazia no bolso algo que parecia uma faca grande, quiçá, na melhor das hipóteses, um canivete.
Assim que minha bebida quente chegou, tomei-a silenciosamente, sem trocar olhares com o dito cujo, que permanecia imóvel, baforando a fumaça vil aos ares. Havia largado o cigarro a um ano, apesar desse desapego de curto prazo, não suportava o cheiro do tabaco daquele sujeito. Entretanto intervir o deixaria ainda mais irritado do que já aparentava. Era claro que não era um bom homem, mas não havia nada que provasse. Contudo deduzi isso. Alguém jamais deixaria uma faca grande exposta no bolso da calça se não tivesse algo pior dentro do sobretudo. Certamente trazia uma pistola pequena, que não deixasse evidências em sua vestimenta.
Estava prestes a sair do estabelecimento quando a porta se abriu. A campainha da porta tocou e um homem, que se assemelhava até nos ínfimos detalhes ao mal encarado que sentava-se na bancada, entrou e alocou-se em uma das mesas logo atrás. A vestimenta era quase igual, com exceção das cores, já que seu traje era cinza, e levemente desbotado. Ficou ali parado, sem dizer nada, até que a garçonete chegasse. Lembro-me dela ter perguntado o que ele queria, e a resposta foi surpreendentemente normal: "Um misto-quente", e antes que ela fosse, ele completou, "com bastante queijo".
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CAFÉ MANET
Mystery / ThrillerTudo pode acontecer nas cidades dos sonhos, até mesmo pesadelos. Tudo muda radicalmente quando um homem intervém em um crime vindo de uma cafeteria. Agora ele pode fazer a diferença em um caso enigmático que nem os melhores detetives poderiam soluci...