—Você é a enfermeira? Por que o teto é de pedra? Aquilo ali é ouro? —pergunto, repetidamente e ansioso.
Os hospitais que frequentei eram muito diferentes desse. Não tinham vigas de pedras aparentes, não tinham arte no teto, e, muito menos, não tinham decorações em ouro. Pelo menos uma vez na vida, pareço ter tirado na sorte grande!
O lugar é imenso, e os leitos não são individuais. Não existem leitos, para ser sincero. São só um monte de camas e bacias amontoadas em um grande salão. Ao meu lado esquerdo há uma garota, que não me vê, por conta da enfermeira, que encobre o meu rosto.
No meu lado direito há um garoto, também adolescente. Ele me olha com curiosidade, analisando alguma coisa nos meus movimentos ou no meu rosto, na minha aparência, talvez. Mesmo que não haja motivo para tal.
Sempre fui dentro dos padrões de beleza, assim como meus "irmãos". Nunca aproveitei a oportunidade que o universo me deu, e, ao invés de ser popular e usufruir da minha "beleza", decidi me recostar nos livros e no intelecto, para, com sorte, sair da casa dos meus pais adotivos com 21 anos, se não menos.
A enfermeira ri com a minha afirmação de antes.
—Eu não sou a enfermeira, sou uma das Curandeiras. Tu não estás em um hospital, estás no Palácio da Saúde de Asgard. O teto é de mármore, coberto por diversas obras dos maiores pintores que o seu mundo já teve o prazer de ter. E, sim, aquilo ali é ouro, lágrimas de Freya —responde, distante.
A entonação dela faz parecer que não está brincando. A enfermeira — curandeira, como ela se auto denominou — fala com se adorasse todo o lugar. Palácio da Saúde de Asgard é um nome estranho para um hospital. A classe alta não têm nomes normais para colocar? Nunca vi um hospital classe média chamado "Céu" ou "Heaven". É sempre Valhalla, Olimpo e nomes nada comuns.
—Um nome estranho para se colocar em um hospital. Qual o meu diagnóstico? —pergunto, genuinamente interessado.
Um dos meus hobbys era — é — ler livros médicos e casos antigos de crimes. Me interesso por diagnósticos extensos e particularmente diferentes. Segundo os meus conhecimentos nada oficiais, provavelmente algum problema no sistema nervoso e no coração, mas eu não sinto nada, então não posso afirmar com certeza.
—Não é um hospital, como eu já disse antes. Você não têm um diagnóstico, foi atingido pelo Raio. O Raio, não qualquer um. Terá que andar de muleta pelas próximas semanas, e... bem, por que tu não vês por si? —responde, me estendendo um espelho.
A "Curandeira" me estende o objeto, e a visão... é aterrorizante. Meu rosto está coberto por cicatrizes roxas, causadas pela queda do raio. A mulher me dá um sorriso consolador, que não serve de nada.
—Tu precisas de ajuda para levantar-se? —pergunta, tentando minimizar os efeitos da visão que acabei de ter.
Eu não a respondo. Todavia, quanto me ergo da cama, sinto a dor na minha perna.
—Tudo bem, me alcance esta muleta logo —bufo, sendo seguido pelas risadas da enfermeira.
Eu fico de pé com a ajuda do objeto e dou uma boa olhada ao redor. A garota ao meu lado está dormindo — ou está desacordada, também é uma opção possível. É loira, de olhos azuis, e bem baixa. O padrão de beleza que a sociedade aceita. Não parece ser mais nova nem mais velha que eu. Seus lábios são carnudos, vermelhos. Tem uma beleza de se invejar, ainda mais no meu estado atual.
—Timóteo irá lhe conduzir ao seu dormitório, onde você irá trocar de roupa e ir para o Grande Salão, onde será imcubido das suas tarefas e do seu treinamento.
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Um deus à sua porta
Teen FictionSávio, Clarisse e Midas são 3 adolescentes que tiveram infâncias problemáticas. Midgard, a terra dos humanos, apresenta sinais de um eminente Ragnarök, o fim do mundo. Os 3 adolescentes são convocados pelos deuses a fim de formar a Nova Era, um exér...