O calor que me abraçava ao entrar no minúsculo apartamento era confortante. Ao respirar fundo, o incrível aroma da comida que Bo-ra preparava, me faz feliz por estar ali e pelo dia que tive. Não era comum me sentir daquela forma. Normalmente os dias apenas se arrastavam, mas pela primeira vez, sinto que estou vivendo de verdade.
- Amiga! - Ela grita com felicidade ao me ver. – Conseguiu entrar para a academia de dança? - Eu afirmo com a cabeça. – Eu sabia! – Ela corre alguns passos em minha direção e me agarra saltitando, eu me rendo a sua comemoração.
...
Após um jantar especialmente bom, um banho com muitas fofocas sobre a boate com Bo-ra. Nos deitamos, mas não conseguimos pegar no sono.
- Amiga você ainda está acordada? - Bo-ra pergunta, já passando para meu colchonete e me agarrando.
- Sim! O dia foi muito bom.
- E por que não está descansando? - Ela ri e me beija na bochecha.
- Tenho medo de que isso acabe mais rápido do que começou. Só de pensar nisso já fico ansiosa, prestes a ter uma outra crise. – Meus olhos começam a lacrimejar.
- Provavelmente vai acabar e começar uma nova fase ruim. – Eu a cotovelo de leve, para mostrar a minha insatisfação com sua resposta. – Não se preocupe. Depois a fase ruim também vai acabar, e começará uma fase boa novamente. Nada dura pra sempre... Se as fases boas não duram a eternidade, significa que as ruins também não serão eternas.
- Isso foi lindo, mas ainda estou acordada... – Tiro sarro de suas palavras mesmo que tenham me acalmado.
- Sua vadia! – Ela ri e me ataca com cócegas, me fazendo gritar desesperada em risos, para que ela pare. O que só acontece quando os vizinhos começam a reclamar batendo nas paredes.
…
Já se passava das onze da manhã, quando Bo-ra me acordou com leves palmadas no quadril e delicados beijos na nuca.
- Acorda moça bêbada... Sou seu salvador de bebedeiras e de pegar um vento nessa sua bunda brasileira. – Normalmente acordo de mal humor, mas por algum motivo estava feliz. – Só vim saber se está resfriada ou se quer bagunçar alguns lençóis. – Ela começa a rir de si própria e de sua imitação barata e desiste de sua brincadeira. – Levanta! Anda logo! Se troque, vamos tomar café da manhã na rua, e comprar algumas coisas para casa e quem sabe se sobrar algumas grana, compramos algumas roupas de frio. Caso contrário, a gente morre de frio antes do inverno chegar ao seu máximo.- Você recebeu? - Pergunto me levantando e colocando uma calça jeans com camiseta branca.
- Nós recebemos! - Ela me corrige. Já pagaram seus dias de trabalho. E, provavelmente seu pai já depositou o dinheiro. – Fala com empolgação. – Não sei onde conseguiu o casaco que veio ontem, mas acho melhor colocá-lo. Te adoro, mas dessa vez não vou emprestar o meu, porquê vou usá-lo.
Visto o casaco de Jay, e saímos às compras. Tudo que conseguimos pagar com os salários e minha pensão, foi alguns utensílios domésticos, algumas calças e dois sapatos. Aquilo me preocupava, por mais que nós estivéssemos nos esforçando no trabalho, nunca sobrava dinheiro suficiente para nossas necessidades no mês.
Os problemas são expulsos de minha mente e substituídos por lembranças pervertidas, após uma leve brisa se chocar com o tecido do casaco que vestia, fazendo com que o cheiro ainda presente de seu dono invadissem meus pulmões. Eu sorrio sozinha e me revolto ao lembrar que não soube aproveitar totalmente o momento íntimo que passamos.
Como sou idiota...
- Que cara é essa? - Bo-ra pergunta com um sorriso pervertido, pois já sabia que eu pensava naquele que havia bagunçado meus lençóis. Por algum motivo ela sempre tinha uma ideia do que se passava em minha mente. – Esse casaco que está usando é dele, né amiga?
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Olhando a Vida nos Olhos
Любовные романыQuando se está cansada de apenas sobreviver e resolve "olhar a vida nos olhos", a ansiosa S/n, se arrisca em uma nova forma de viver sua vida. Sem rumo ou um plano, por amor a dança e em busca de autoconhecimento; o destino faz com que ela esbarre...