PRÍNCIPE DÉRIKO II
Castelo Prime T, Tâmasus, Romênia.
24 de agosto de 1971Noite
Espero por papai em frente à entrada para as masmorras, por ele não permitir a minha entrada. Ainda é surreal imaginar meu irmão tão jovem e preso. Traição à Coroa? Será possível que isso realmente esteja acontecendo?O Rei retorna e me convoca de volta para sua sala. É engraçado como, em questão de segundos, os papeis de pai e de majestade se separam de forma tão contrastante. Ele não é o meu pai agora, o homem brando e calmo de sempre. É o Rei Dériko I na sua forma mais rígida e autoritária; forma que eu nunca havia visto nem mesmo em seus dias de pior impaciência desencadeada por Scorpion Place. Talvez queira nos dar uma lição de comportamento agindo dessa maneira. Talvez esteja até certo. Mas se para mim é difícil entender isso, imagine para Elói, encarcerado de maneira tão repentina pelo próprio pai.
Chegando na sala, começo:
- Como será daqui para frente com Elói preso? Por quanto tempo ele ficará lá? Percebe que sua decisão trará reações negativas da população tamasiana? Porque deixar o próprio filho num ambiente hostil e com vários outros presos perigosos não é bem algo que faça parte da nossa cultura.
- Primeiro: Elói está numa cela afastada dos outros. E, filho, por favor... - responde ele, como se suas intenções fossem claras. - É óbvio que não pretendo manter Elói lá embaixo por décadas a fio. Ele apenas passará a noite lá, para pensar no que fez. Mas é claro que, nem você e Ciara contarão isso para ele quando forem levar o seu jantar.
- Podemos realmente vê-lo?
Ele começa a escrever algo em uma folha qualquer. Quando termina, me entrega e anuncia:- É apenas uma autorização para os guardas não acharem que vocês estão tentando dar uma de espertos. Incluí o nome apenas de vocês três.
- "Vocês três" quem?
Leio o documento improvisado. Nele, papai autoriza a entrada nas masmorras apenas de: Príncipe Dériko II Di Tâmasus, Princesa Ciara Di Tâmasus e de... Alvin Alonzo Pavlo.- Alonzo é minha responsabilidade, agora. Minha e de sua mãe. - ele se senta, deixando claro que a conversa acabou. - Prepare uma boa porção para Elói e o entregue. Amanhã será um novo dia e espero que tudo se acalme.
※※※
Ciara, Alonzo e eu descemos acompanhados de dois guardas - um atrás de nós e um em nossa frente, guiando-nos. Ao chegarmos na cela, encontramos Elói sentado tranquilamente, lendo o Desenvolvimento da Personalidade, de Carl Jung, que provavelmente foi a única coisa que ele pediu para papai. Ao nos ver, olha-nos de forma tranquila, fecha livro e nos encara.
- Trouxemos o seu jantar. - digo, amistoso.
- Obrigado, meus carcereiros! - diz Elói, num tom empolgado e brincalhão.
Não sei identificar se ele está fingindo ou não. Elói é sempre misterioso, mas é ainda mais quando tenta mostrar o que realmente sente.
- Lamento estar nessa situação por minha causa...
- Papai deve estar muito arrependido à esta altura. - diz Ciara, completando a lamentação de Alonzo.
- Não se lamentem por mim, realmente estou bem. Sei que o que eu fiz foi gravíssimo. Desafiei a autoridade de nossos pais e traí nosso sangue. Mas foi por uma boa causa. Alonzo está conosco, e é isso que importa...
Ele para, olha para o chão e parece pensativo. Após uns instantes, questiona:
- Sabem por quanto tempo vou ficar aqui?
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Artrópota: Árvore-Mármore
De TodoO que pode dar errado no paraíso? Há milênios, um grande reino com tecnologia muito a frente do seu tempo foi criado no interior da Romênia com o intuito de guardar as Grandes Riquezas da Terra. Batizado como Tâmasus, esse recanto que outr...