Capítulo 6

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Eu me sentia estranha. Com todos aqueles pensamentos estranhos sobre David.

  O som da chuva caindo lá fora era a única coisa que éramos capazes de escutar, enquanto nos encaravámos em silêncio.

— O que faz aqui? — Falei. A voz ecoando através das paredes. — Achei que estivesse dormindo.

  Subi alguns degraus. Os sapatos causavam dor em meus tornozelos.

— Tire-os. — Ele ordenou, apontando para os saltos.

  Eu não sabia o que ele estava pretendendo, mas os tirei. Não somente porque ele pediu, mas porque tirá-los trouxe um grande alívio.

   David desceu alguns degraus. Um abaixo de mim. E se curvou.

— O quê?

— Sobe nas minhas costas. — Pediu ele. — Irei levá-la.

— Não precisa. Eu consigo subir sozinha.

— Você passou a noite com esses sapatos. Não se torture subindo três lances de escadas.

  Não discuti, apenas coloquei minhas pernas em volta da sua cintura e abracei seu pescoço. Minha pernas estavam doloridas.

— Como foi o encontro? — Perguntou David, subindo os degraus com cautela.

— Adorável — Respondi, apoiando a cabeça em seu ombro, sonolenta.

— Estava realmente linda hoje.

— Sim, ele disse isso várias vezes — Falei com a voz preguiçosa.

— Fico feliz que eu tenha escolhido o cara certo. — Disse ele, indiferente. — Terão um segundo encontro?

— Sim.

   Escutei David engolir sua própria saliva com dureza. O que era aquilo? Ele parecia insatisfeito quando a algumas horas atrás foi ele que insistiu para que eu fosse. Como podia mudar de opinião tão rápido?

— Acho que vou abandonar o restaurante e virar um guru do amor. O que acha?

— Acho um bom negócio.

  Subimos o restante das escadas em silêncio. Estava quase adormecendo, quando ele me pôs no chão rapidamente, sem avisar. Fiquei um pouco tonta, mas logo me recompus.

   Ele calçou suas sandálias, enquanto eu trancava a porta. A chuva ainda caia forte do lado de fora.

  Fui até a cozinha. Embora as louças estivessem lavadas e a mesa limpa, constatei que David havia jantado ramen. Já que era a única coisa que tínhamos para comer.

   David entrou na cozinha.

— O que acha de irmos fazer compras amanhã quando chegarmos do trabalho? — Perguntei para ele.

— Tudo bem — Concordou David, revirando a caixa de medicamentos. Ele puxou um spray azul. — Venha até aqui.

— O que você vai fazer?

— Apenas venha.

  O segui até o meu quarto. Fechei a porta quando entrei, por hábito, me dando conta de que estávamos a sós ali. David não pareceu se importar.

   Ele apontou para cama e eu sentei, com as mãos juntas em cima da perna. Inesperadamente, David se ajoelhou na minha frente e pegou um dos meus pés sobre as mãos.

— Costumávamos fazer isso depois de um dia longo na universidade. — Falou David, espirrando um jato gelado sobre meu pé. — É relaxante.

  Ele massageou meu calcanhar com suavidade, pressionando o músculo sobre ele. Subiu um pouco para a minha panturrilha e a apertou com a ponta dos dedos. Estremeci.

— Dói? — Perguntou David, parando.

  Balancei a cabeça, com os lábios entreabertos, a respiração ligeiramente ofegante, enquanto tentava inutilmente controlar as batidas descompensadas do meu coração. Por que meu corpo estava reagindo daquela maneira?

  David continuou a massagem. Da ponta dos pés, até o fim da minha panturrilha. Ele não se atreveu a subir mais. Ainda que, em meu subconsciente, eu estivesse curiosa para sentir os seus dedos na parte interna da minha coxa. Mas jamais admitiria aquilo. Nem para mim mesma! Eu sabia que era apenas uma reação dos meus hormônios traidores ao toque de um homem.

   Nos últimos meses do meu relacionamento, já não sentia mais estes toques. Nem eu mesma sabia o quanto desejava ser tocada assim.

   David passou para o outro pé. E eu já me sentia mais relaxada. O frescor do mentol era fascinante!

  David massageou entre os dedos, abaixo do pé, por toda a panturrilha. E, então, terminou. Ele levantou e eu já estava relaxada o suficiente para estar deitada, com os olhos fechados, apenas sentindo sua mão sobre minha pele.

   Permaneci com os olhos fechados. Um calor singular preencheu meu corpo. O colchão abaixo de mim afundou. Abri os olhos, de repente. David. Ele estava literalmente em cima de mim.

  O que diabos?

  Estava prestes a empurrá-lo para longe quando percebi o que havia de errado. Ele não estava tentando me seduzir ou coisa assim. Ele havia caído em cima de mim. Estava quase inconsciente.

— David?

   Ele me olhou, uma última vez, com as pálpebras pesadas, então sua cabeça caiu ao lado da minha.

— David? — O chamei, preocupada. — Você está bem?

  Ele claramente não estava bem.

Precisei usar toda minha força para afastá-lo para o lado. Ele estava queimando. Estava com tanta febre que mal conseguia tocá-lo.

  O que eu faria naquela situação? Céus!

  Peguei o termômetro e medi sua temperatura. 39.

  A febre estava alta. Deveria levá-lo ao hospital? Estava tarde e chovendo tanto.

  Fui até a cozinha depressa e comecei a procurar por qualquer coisa que fosse capaz de baixar sua febre. Encontrei. Voltei para o quarto correndo, com um copo de água e o remédio. Coloquei no criado mudo e ajeitei sua cabeça sobre o travesseiro, de uma maneira que parecesse confortável.

— David, tome isso. — Pedi, chacoalhando seu corpo.

  Ele estava fraco e sonolento. Mas conseguiu erguer a cabeça o suficiente para que eu colocasse o remédio em sua boca. Em seguida, o ajudei a beber um pouco de água.

— Você precisa se manter hidrato, está bem? — Disse a ele, lhe oferecendo mais um pouco.

  Ele bebeu, então deitou novamente.

  Fui até suas coisas e peguei um par de meias. Calcei em seus pés. David usava uma calça moletom, com um casaco moletom. Para deixá-lo mais aquecido, peguei cobertas grossas e o encobri.

  Fui até o banheiro e molhei uma toalha, trouxe com uma bacia e coloquei no criado mudo ao lado. Sentei na cama e comecei a fazer compressas frias em sua testa, afim de ajudar a baixar a febre.

   Fiquei horas nesse ritmo: Compressa. Molhar. Espremer. Compressa.

  Até que o sono estava me vencendo. Passava das duas. Deitei ao seu lado, com a compressa sob minha mão em sua testa. Parecia ter passado apenas alguns minutos quando despertei com um som estranho vindo do peito de David.

  Ele estava prestes a vomitar.

Corri até o banheiro e peguei um balde, coloquei em baixo dele no exato momento em que David ergueu abruptamente o corpo e vomitou tudo o que havia em seu estômago. Dei leves batidas em suas costas.

Quando terminou, fui até o banheiro e descartei no vaso. Dando descarga em seguida. Era nojento. David iria ficar me devendo aquilo para sempre. Mas, para isso, ele precisava sobreviver primeiro.

  Lavei minhas mãos e meu rosto. Me olhei no espelho. Ainda usava o vestido molhado e meus cabelos estavam úmidos. Se ficasse assim, a próxima a adoecer seria eu.

   Fui até o armário e comecei a tirar minhas roupas, ignorando o fato de David está ali.

— Vejo que não usou a lingerie amarela. — Constatou ele, com a voz grave e fraca.

 Mais que amigo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora