Bathtub Mermaid

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Com as luzes ofuscando sua visão, Kaeru se perguntou o motivo de não as ter apagado. Talvez porque queria vê-las até o fim e não se sentir sozinha? Por que imaginou que, assim, a escuridão não seria tão assustadora? Era complicado para ela encontrar uma razão. Porém, muito provavelmente, havia uma.

Com muito esforço, a mulher moveu seus olhos, tentando fugir daquela luminosidade incômoda. Sua visão estava turva, não conseguindo diferenciar mais nada. Para ela, os azulejos azuis-claros eram um só, unindo-se facilmente com a pia embutida ali presente e com a banheira onde se encontrava. Kaeru sabia que não era devido apenas a enorme quantidade de vapor.

A mulher tentou respirar mais profundamente, mas sua cabeça pareceu girar com sua atitude. Sua consciência ameaçou em desaparecer e, dando um sorriso satisfatório, Kaeru sentia que tinha feito o melhor.

Tanto para ela, quanto para Sakaido.

Havia sido tola... Uma grande idiota por acreditar que sua presença era o bastante para aquele homem. Que seus sentimentos seriam o suficiente para que trouxesse a paz que Sakaido necessitava. Era uma boba por se dedicar tanto... Uma louca por ter se apaixonado.

E o amor cega as pessoas... Ele, realmente, tira sua necessidade de pensar racionalmente.

Kaeru, até então, não se importava com aquele fato. Tinha fé de que seria capaz de tornar o homem da sua vida feliz. Por isso, desistiu de muitas coisas... E uma delas foi seu noivado com seu antigo noivo. Ela havia aceitado quem Sakaido era, seus defeitos e seus medos. Havia abraçado a tudo o que lhe constituía e, inutilmente, tentou expurgar suas trevas. Tentou recompô-lo, transformá-lo no homem que era antes de sucumbir ao desespero. Antes de perder o maior caso de sua vida e que trouxe consequências irreparáveis. Kaeru pensou que seria forte o bastante para confortá-lo... Que amaria suficientemente por ambos e o salvaria da solidão.

O quão arrogante ela tinha se tornado?

O que ela, no fim, havia ganhado durante todo esse tempo? Nada... Sakaido não retornava seus esforços da mesma forma. Aliás, deixava cacos. Pedaços inúteis que a mulher tentava juntá-los e se conformar com tão pouco. Ela respirou aqueles fragmentos de esperança, reunindo de um a um em seu coração. Era vazio... Era frio... Por quanto tempo mais ela acreditou que iria suportar o abandono? Por quanto tempo imaginou que poderia viver apenas com os restos deixados por um coração mergulhado em culpa?

Mas a culpa era toda dela...

Seu sofrimento, sua situação... Sakaido nunca lhe pediu nada. Era ela que fazia por puro capricho. Seu egoísmo era o que movia seus passos... E era por esse mesmo sentimento que morria agora.

O quão desprezível ela poderia ser?

Sim... A mulher sabia o quão cruel era. E sabia ainda mais as consequências de suas ações. O que o amor não faz com uma pessoa? O quanto esse sentimento muda e transforma as pessoas que lhe sente? Kaeru sabia e sabia melhor do que qualquer outro. Contudo, ela admitia. Ela admitia seu egoísmo, sua loucura e desespero.

Tudo por querer salvá-lo... Ou, no fim, ela queria condená-lo ainda mais?

Não importava mais. Sua decisão fora feita há muito tempo. Com seus olhos cansados, a mulher olhou para as águas quentes, notando a cor escarlate que pintava o líquido transparente, dançando em uma melodia que apenas ela conseguia sentir. Apesar de seus pulsos estarem queimando devido ao calor, na realidade, sentia frio. O cheiro doce do sabonete já não era mais o destaque que gostaria de sentir. Por mais que seus sentidos estivessem se perdendo aos poucos, tudo o que menos desejada era sentir aquele forte aroma metálico. Fato, as águas não haviam sido o suficiente para eliminar os fatores adjacentes. Elas, porém, haviam se livrado dos rastros de sua decisão.

Ele brigaria consigo? Ele se importaria?

Inocentemente, a mulher sentiu que suas lágrimas caíam lentas. Ela imaginava se conseguira... Se seu último ato de amor teria o resultado que há anos trabalhou para conseguir, mas sem sucesso.

Ela conseguiria dar seus olhos inúteis, que apenas enxergam as cores do amor?

Ela conseguiria dar suas orelhas, que permitiriam ao homem de ouvir o mundo ao seu redor?

Ela conseguiria entregar seu coração, que preencheria o vazio de seu peito?

Ela conseguira entregar sua alma, para que ele soubesse que ela sempre o amou?

Com um sorriso sem vida, aos poucos, tudo ficava escuro. A mulher se distanciou de onde se encontrava, imaginando estar em outro lugar. Um lugar onde pudesse ser livre... Um lugar onde ele poderia lhe amar.

– Kaeru?

Mesmo distante, a mulher sabia de quem era aquela voz. Estava feliz. Estava feliz por ouvi-lo lhe chamar uma última vez.

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