Nanna acordou com o sol em seu olho. Se virou, e percebeu que Peter não estava lá; um pequeno pedaço de papel ocupava o lugar dele. Pegou-o e leu:
"Nanna,
Desculpe eu ter saído sem te dar tchau, lembrei que minha mãe tem uma consulta no médico hoje e eu preciso ir junto.
P.D xx"
Amassou o papel, o jogou no chão e voltou a dormir.
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Deus, como era entediante um hospital.
Peter estava sentado em um banco nem um pouco confortável, com as mãos enfiadas no mesmo moletom que havia usado no dia anterior, com os fones em seus ouvidos. Esperava sua mãe sair da ressonância magnética.
Uma semana atrás, Eleanor disse ao filho que seu médico suspeitava que ela estava com câncer de mama. Peter teve vontade de ligar para Nanna, só que naquela época, ainda estavam brigados. Não teve a chance de contar para ela ainda. Na próxima vez que a visse, falaria para ela.
Estava em um corredor cheio de portas brancas e bancos pretos iguais ao que ele estava sentado. As paredes eram pintadas de um tom de verde-água enjoativo, que era possível dar ojeriza.
A porta ao seu lado abriu, e viu o doutor Stewart, usando um jaleco e com mais rugas desde a última vez que o tinha visto, um ano atrás. Logo depois, viu sua mãe, com grandes olheiras debaixo dos olhos. Parecia que a mulher tinha diminuído de tamanho, pelos menos uns cinco centímetros.
O doutor se despediu de Peter e Eleanor, e os dois andaram juntos até o estacionamento do hospital. Entraram no carro da mulher, ela no banco de motorista, e seu filho no do passageiro. Ela colocou o cinto de segurança, mas não ligou o carro. Olhava para frente, até que abaixou sua cabeça, com a testa no volante, e começou a chorar.
Peter a observou chorar por alguns segundos, e a abraçou. Naquele momento, ele gostaria que seu pai ainda estivesse com eles.
O pai de Peter, Alexander Demarco, morreu tentando separar dois caras brigando em um bar, cinco anos atrás. Alexander nunca foi um alcóolatra, mas gostava de uma cerveja gelada depois do trabalho e era um pacificador; por isso que foi hippie nos anos 70. O sr. Curtis disse que conheceu o pai do garoto em uma manifestação em New York City. Quando Alexander foi separar os homens, um deles pegou uma arma e atirou, querendo acertar o outro homem. Mas a bala acertou o pai de Peter.
Eleanor continuou chorando por mais alguns minutos. Levantou sua cabeça do volante, respirou fundo, olhou para seu filho e começou a falar:
-Peter, se eu morrer, você vai morar com a Nanna – Peter franziu a testa para sua mãe – Eu sei, é estranho isso. Eu conheço a tia dela, a Amélie, nós éramos melhores amigas. Eu me encontrei com ela essa semana, e ela disse que não tem problema em você morar com ela. E você é amigo da Nanna. Eu prefiro que você more com elas do que na casa de alguma das minhas irmãs, ou com sua vó. Mas isso só vai acontecer se eu estiver mesmo com câncer, entendeu?
Peter assentiu com a cabeça. Abriu a boca para falar alguma coisa, só que a fechou logo em seguida, mudando de ideia. Eleanor ligou o carro, e os dois foram para a sorveteria perto da casa deles, a mesma que eles iam quando Peter tinha nove anos, e seu pai ainda estava vivo.
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Mais tarde naquele mesmo dia, Peter cogitou muito a ideia de ligar para Nanna e contar tudo que sua mãe tinha falado para ele, mas pensou em deixar aquilo para outro dia.
Resolveu ir beber.
Escreveu um bilhete para sua mãe dizendo que ia sair e o colou na geladeira. Pegou seu carro e foi até a cidade. Nem tomou banho para sair. O menino realmente estava na fossa e precisava afogar as mágoas em cerveja barata.
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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
Teen FictionNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...