Ainda não conseguia perceber muito bem como é que me encontrava ali.
Num momento estava em casa, deitada sobre a cama a conversar com os meus pais ao telefone e no minuto seguinte estava no carro do Daniel a ser arrastada para um jogo de futebol americano entre duas equipas que desconhecia. Para dizer a verdade, o único facto que conhecia relativamente àquela modalidade era o facto de a bola ter o formato de um limão. Fora isso, os meus conhecimentos eram equivalentes ao de um miúdo de cinco anos que se deparava com uma questão à cerca da política da Eslovénia.
– Daniel, podes dizer-me pelo menos quais são as equipas que estão a jogar? – perguntei puxando-o pelo braço para que olhasse para mim. Estava sentada à pelo menos cinco minutos, diante de um Los Angeles Memorial Coliseum a transbordar de pessoas e agitação e ainda não fora capaz de desviar o olhar do rebuliço que um homem fizera quando a criança que estava sentada na bancada à sua frente, mas voltada na sua direcção lhe entornara – propositadamente – o refrigerante nas calças.
– A equipa da casa, que é também a equipa da nossa Universidade. – disse apontando para um conjunto de atletas vestidos com as cores vermelha e amarela. – E os adversários, a equipa que venceu o campeonato no ano passado, os Alabama Crimson Tide.– – concluiu fazendo o dedo flutuar no ar numa linha invisível horizontal que apontava para os jogadores com camisolas de um tom carmesim e branco.
Acenei afirmativamente com a cabeça. Pelo menos já não me poderia considerar tão inculta quando mencionasse à Sofia que fora ver um jogo de Futebol Americano. A minha discussão com a Sofia parecia já meia adormecida, todavia, nenhuma das duas dera o braço a torcer para pedir desculpa. Em vez disso, os ânimos pareciam ter-se acalmado e já partilhávamos frases minimamente inteligíveis uma com a outra. Tinha pensado convidá-la para uma ida até à praia no fim-de-semana seguinte. Quando a agitação por causa das avaliações e dos trabalhos de grupo e individuais estivesse próxima de acabar.
O Daniel sentou-se finalmente depois de ter batido palmas juntamente com o resto da multidão quando a equipa da casa entrou em campo. – Vá, podemos começar a disparatar. A partir daqui só posso imitar os outros!– tartamudeou bebendo um pouco do refrigerante que comprara antes de nos sentar-mos nos lugares que figuravam no bilhete.
Perscrutei-o em silêncio. Passaram alguns dias desde que jantáramos no KFC e por conseguinte, desde que se lembrara de dançar comigo em frente ao restaurante. Durante o tempo que decorrera após esse "incidente", esforçara-me ao máximo para não pensar no que acontecera. Tentara ignorar o momento e preocupava-me muito mais ocupar com disparates os silêncios constrangedores que se tornavam frequentes quando as suas piadas se esgotavam.
Não queria pensar no quão egoísta me havia tornado por vários motivos. O primeiro era porque me sentia demasiado abandonada nos Estados Unidos desde que o Seth partira para a estrada por motivos profissionais. O Daniel tornara-se no meu porto de abrigo desde então. E pensar que poderia nutrir qualquer tipo de sentimento excessivo por mim, consternava-me bastante apesar de considerar que ficar sem a sua amizade seria o mesmo que me retirar todo o ar dos pulmões.
Sabia que era egoísmo, maldade até. Mas seria um crime assim tão grave, alguém sentir-se bem por saber que havia outra pessoa que se importava consigo? Seria um crime tão vil que merecesse repreensão? A pontada do meu coração respondeu-me que sim. Mas o diabinho da minha mente respondeu-me que era "Ser Humana".
Senti a respiração dele junto à pele da minha cara. Com a minha mente tão absorta nem me recordava da sua presença tão próxima de mim. Perscrutei atentamente o seu olhar penetrante procurando indícios de uma piada escondida por de trás dos olhos verdes. Ri-me da sua expressão ao que ele correspondeu com um beijo ruidoso na minha bochecha. – Portanto, concordas? – perguntou certo de que não ouvira o que dissera.
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Por um Momento
Teen FictionVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...