Mais que amigo (COMPLETO)

Capítulo 10

David me olhou de maneira profunda. Ele estava distante, mas ainda tão perto. Apenas poderia correr até ele, abraçá-lo e dizer

  Me desculpe. Estou um pouco atrasada. Dez, longos anos, atrasada. Mas estou aqui e quero ser apenas sua a partir de agora.

  Estava determinada a fazer isso. No entanto, David falou antes.

— Desculpa, mas eu não estou entendendo. Quero dizer, não nos vemos a alguns dias, mas...

— O quê? — Eu estava confusa e envergonhada.

— Você veio até aqui apenas para dizer isso? — Indagou ele.

  Apenas para dizer isso?

  Ele estava agindo de uma maneira completamente inesperada. Meus olhos ficaram úmidos, pisquei algumas vezes, me negando a chorar na sua frente.

— Eu… — Eu não sabia o que dizer. As palavras estavam engasgadas. — Me desculpa. Estou indo para casa. Tenha uma boa noite!

— Espera, Ye-Jin — Ele chamou, mas eu já estava saindo do estabelecimento.

   Não olhei para trás. Apenas entrei no carro, liguei o som no volume máximo e dirigi. Queria apenas me trancar no quarto e me afundar em minha amargura e burrice!

Como pude achar, por um segundo, que ele realmente sentia algo por mim? Eu sou tão idiota. É óbvio que ele estava apenas fazendo com que eu me distraísse do luto pós término. Ele estava apenas sendo gentil. Um bom amigo. Eu confundi tudo!

   Bati no volante, enquanto lágrimas e lágrimas desciam. No som, "I miss you. I' miss Sorry". Tocava alto. Meus ouvidos doíam. Minha cabeça doía. Meu coração doía.

  Como eu podia maltratá-lo tanto em espaço de tempo tão curto? Ele mal havia se curado desde a última vez.

— Sou uma burra! Burra! Burra! — Gritei, entre soluços.

*
*
*

  Por volta das duas, ouvi a porta da frente abrir. Em seguida, fechar. Ainda estava acordada, sentindo meus olhos inchados e minha garganta doer. Esperei por alguns minutos, até ter certeza de que David estava dormindo.

  Levantei, em busca de água. Minha boca estava seca. Fui até a cozinha e bebi o máximo de água que consegui, para que não precisasse voltar até fosse dia. Até que ele já estivesse partido.

Voltei para sala. A porta da varanda estava aberta. Fui até ela, para fechá-la. Uma brisa fria invadia o apartamento.

   Toquei na porta, quando percebi a presença dele.

— Eu estava pensando — Ele falou, com o olhar distante para a cidade abaixo. — Sua mãe era uma pessoa incrível.

   Eu pensei apenas em ignorá-lo e voltar para dentro. Mas os meus pés me traíram, não conseguia obedecer meus comandos e apenas ficaram lá, plantados.

— Eu soube que ela lutou até o fim contra aquela doença maldita. — Falou, se referindo ao câncer. — Ela foi muito forte. Eu a admiro.

— O que deu em você? — Perguntei.

  David finalmente me olhou, com os olhos fixos.

— Desde a morte da sua mãe, você passou por muita coisa, Ye-Jin — Disse ele. — Merece ser feliz.

  Eu não queria falar sobre a morte da minha mãe. Tampouco, naquelas circunstâncias.

— Você deveria entrar — Disse, desviando o assunto. — Está muito frio aqui fora.