È engraçado como há pessoas que fisgam a gente pela conversa.Sim, conversa, ato de usar o dom da linguagem para massagear a alma.
Não vou ser hipócrita em dizer que a aparência externa não conta, porque conta sim. Contudo, a aparência externa é como a introdução de uma música.Ela pode atrair, ser uma isca, roubar a atenção do ouvido, porém, o que realmente faz uma pessoa gostar de uma música, o que realmente fisga, é aquilo que ela transmite além da combinação de notas, aquilo que pode até entrar pelos ouvidos, mas o que atinge mesmo é a alma. Da mesma forma, acontece com as pessoas: olhares e sorrisos podem até encantar, mas há belos olhos que não sabem apreciar além do óbvio e há lábios que por mais belos sorrisos que consigam esboçar, quando vão articular palavras viram músicas com belos arranjos, no entanto não são encantadoras o suficiente para prender a atenção.
Há pessoas que nos fisgam pela conversa.
Conheci uma menina. As primeiras notas da introdução de sua música eram comuns: talvez algo parecido com um rock ou com um pop, nada de impressionante. Ela tinha olhos castanhos, cabelo loiro e uma feição simpática. Aí começamos a conversar. Conversa banal, estilo IBGE: nome ,idade, o que faz da vida e por aí vai. Porém, ela foi capaz de puxar um fio solto de um desses temas e a conversa evoluiu e fluiu. Conversamos sobre tudo, de temas complexos a banais, de política internacional a memes. Foi uma conversa gostosa, dinâmica, suave, fez com que uma hora se passasse em uma piscada de olhos.
Há pessoas que nos fisgam pela conversa.
A conversa não foi linear e somente um ping-pong perfeito do tipo vaivém. Também teve momentos em que discordamos, mas a conversa dela me fisgou porque ela tinha duas coisas raras e encantadoras... como é mesmo o nome?... Lembrei: Bom senso e maturidade. Quando discordamos, nenhum de nós entendeu aquilo como ofensa, até porque não precisa ser, pensar diferente é ok. Na contramão das conversas que acontecem com frequência na sociedade (principalmente aquelas sobre política), respeitamos nossas diferenças, olhamos para a perspectiva do outro com uma vontade sincera de tentar compreender porque o outro pensa daquele jeito. Ela é uma daquelas raras pessoas que entende que dá pra ter empatia sem precisar concordar com o tudo o que o outro lado diz.
Há pessoas que nos fisgam pela conversa.
A conversa não foi só em palavra, foi em alma e corpo. À medida que a moça com feição simpática ia falando, eu ia me envolvendo. E nesse envolvimento, percebi que ela não falava só com a boca. Falava com os olhos, com o arqueamento das sobrancelhas para dar ênfase, com sorrisos genuínos e espontâneos para temperar as falas engraçadas. E, à medida que o papo ia fluindo, também passei a olhar para ela de forma diferente. Os olhos castanhos que antes eu via apenas como uma castanho comum, depois de conversar olhando diretamente pra eles, percebi que era um castanho cor-de-avelã.E o cabelo dela, ah, não era exatamente loiro, tinha uma tonalidade amarelada, não sei definir a cor ao certo... mas era lindo! E o jeito simpático dela... Falar que uma pessoa é simpática é uma forma educada de falar sobre alguém que não se conhece, mas que parece de alguma forma ser uma boa pessoa. Ela não era apenas simpática, era fantástica.
Há pessoas que nos fisgam pela conversa.
Depois de um tempo, a nossa conversa, que estava sendo uma experiência única, acabou. Tivemos que seguir nossas vidas, tanto eu como ela temos rotinas e obrigações a cumprir. A sensação que tive após me despedir foi a mesma que um apreciador de boa música tem quando volta de casa após um show épico. Espero que outros shows aconteçam logo.
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Encontros e afetos
RandomUma conversa com uma desconhecida, um abraço apertado de um amigo, a contemplação de uma nuvem com formato curios. Encontros que balançam a alma, lembranças de que estamos vivos, experiências que expõe a complexidade da simplicidade de estar vivo...