Capítulo 10 - Fernando

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Estou sendo traído comigo mesmo.

Seria cômico se não fosse trágico. Marina se sente culpada por gostar do Felipe, mas por se sentir atraída pelo Fernando. E como disse o verdadeiro Felipe: Que merda! Eu tenho dez anos?

Não, não tenho dez anos e já passou da hora de encarar a fera. Pelo que eu conheci da Marina, entendi que ela é compreensiva e uma excelente companheira. Não é justo continuar com isso. Eu a magoei como Felipe e ela não merece esse tipo de coisa.

Como quem não quer nada bati na sala dela aproveitando que a assistente não estava. Ela parecia triste, mas sorriu quando me viu.

– Meio-dia no hall dos elevadores?

– Sim. – Ela respondeu e deu uma piscadinha.

As horas se arrastaram e eu já estava impaciente. Quando deu a hora do almoço eu reforcei o perfume, arrumei o cabelo e saí me sentindo trêmulo.

Marina apareceu tão linda como sempre.

– Tem algum lugar de preferência?

– Deixo a seu critério. – Ela respondeu.

Já que eu a levaria para comer fora e contaria a verdade, escolhi um dos melhores lugares da região. O bom é que o risco de alguém do escritório estar por lá é quase nulo.

Fomos para o estacionamento pegar meu carro e ela perguntou:

– Vamos almoçar fora?

– Claro. É um almoço fora. Por isso fiz um pedido formal.

Ela sorriu e concordou. Fizemos o curto trajeto em silêncio. Entramos e escolhemos a mesa. O horário de almoço nesse lugar geralmente é vazio, o horário de movimento deles é no jantar.

– Eu nunca vim aqui. – Ela comentou.

– Aqui eu só venho com clientes muito importantes. – Comentei.

– Imagino. O meu vale refeição não paga o almoço.

Admirei seu lindo rosto enquanto ela olhava o menu que nos entregaram. Escolhemos e fizemos os nossos pedidos.

– Você me parece um pouco triste. – Comentei.

– Não foi nada. Só uma coisinha que me chateou mais cedo.

– Quer falar sobre isso?

Marina suspirou antes de falar:

– Eu estava conversando com alguém.

– Um homem?

– Sim. Nós nos falamos muito durante esse final de semana e eu senti que tínhamos algo fantástico. Eu aceitei o seu convite, mas me senti extremamente culpada. Mas eu também não sei o que aconteceu com a gente, porque até quinta-feira nós nem sequer nos falávamos, agora eu não consigo recusar seu convite para o almoço.

– E por que você está chateada com esse homem?

– Eu disse para ele que aceitei o seu convite e ele não ficou sequer com ciúme.

– Você gostaria que ele reclamasse?

– Sim.

– Se fosse o contrário você ficaria chateada? Se ele te dissesse que estava saindo para almoçar com outra mulher?

– Não se fosse qualquer mulher, mas eu falei para ele que alguma coisa tinha acontecido na sexta-feira. Ele sabe o que rola entre mim e você.

Estiquei meu braço sobre a mesa e toquei sua mão.

– Preciso te falar uma coisa, Marina.

– O quê? – Ela me olhou cheia de expectativas.

– Eu sei tudo o que aconteceu entre você e o Felipe.

Marina puxou a mão debaixo da minha rapidamente me fazendo ficar um pouco desesperado.

– Como você sabe sobre o Felipe?

Apertei o maxilar procurando a melhor maneira de falar a verdade para ela.

– Na quinta-feira eu estava me sentindo extremamente infeliz. Eu liguei para o meu irmão e falei sobre a vida miserável que eu tenho levado desde o meu divórcio e ele me disse algumas verdades. Então ele me deu seu usuário e senha daquele aplicativo de namoro. Ele queria que eu visse a dinâmica antes de me inscrever, então eu entrei nas mensagens dele e vi a conversa de vocês. Foi muito esquisito te reconhecer ali, logo depois de ter te olhado de uma maneira diferente. Foi instintivo, eu te mandei uma mensagem e você responde na mesma hora.

Marina parecia em choque, e me partiu o coração ver as lágrimas se acumulando em seus olhos.

– Marina, eu te juro que eu não menti sobre nada. Só menti sobre o nome.

– Foi com você que eu conversei durante todo o final de semana?

– Foi.

Ela me encarou durante muito tempo.

– Meu Deus, só uma idiota como eu não teria reconhecido a sua voz pelo telefone.

– Não diga isso, Marina.

– Não, eu fui estúpida mesmo. As fotos. Você e o seu irmão são idênticos, como é que eu não percebi uma coisa dessas?

– Por favor, Marina.

– Não, Fernando. Eu estou chateada. Muito chateada para te falar a verdade.

– Eu não quis te enganar.

– Nós somos o quê? Dois adolescentes?

– Eu fui um imbecil não te falando a verdade. Mas eu jamais imaginei que você me olharia se eu falasse com você.

– Por que isso? Você é um homem bonito, inteligente e doce.

– Estou trabalhando para melhorar minha autoestima.

Marina ficou em silêncio e eu não quis forçar nada. A comida chegou e comemos em silêncio. Percebi que ela mal queria tocar na comida. Marina só comeu por educação e isso me doeu ainda mais por dentro.

– Se você soubesse como estou arrependido de não ter te falado a verdade na sexta-feira.

– Mas não me falou.

Embora estivesse muito magoada, Marina foi extremamente educada comigo.

Paguei a conta e voltamos para o escritório.

– Obrigada pelo almoço. – Falou e saiu para a sua sala.

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