Capítulo 13 - Marina

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Meu rosto estava doendo de tanto sorrir. Me sentei no banco do carona com aquele arranjo de flores enorme. Várias flores de vários tipos e várias cores, era tão bonito e singelo, e tinha tanto a ver com o que o Fernando e eu começamos naquele final de semana.

– Agora que eu já sei algumas coisas sobre você, me fale mais sobre as suas filhas.

Percebi o sorriso de satisfação dele.

– Bom, a Jéssica é minha consultora pessoal, às vezes é inacreditável o quanto ela é madura. Ela é meu braço direito e me ajuda muito na criação da irmãzinha. A Talita é um pacotinho de amor, para ela não tem tempo ruim, ela sempre está alegre e melhorando o astral da nossa casa.

– E a mãe delas?

– Quando a Gabriele e eu decidimos nos divorciar ela resolveu sair de casa e disse para eu ficar com as meninas. No começo foi muito estranho, elas eram duas menininhas, uma de onze e outra de cinco anos e eu não sabia muito bem como me comunicar com elas, mas as minhas filhas me surpreenderam quando se tornaram minhas melhores amigas.

– E a sua mãe? Onde ela entrou?

– Ela se mudou para a casa da frente no mês seguinte. Mas o que me deixa mais grato, é que ela confia no meu critério de educação e não interfere.

– É um pouco surreal a mãe não querer ficar com as crianças, não estou sendo machista, só acho estranho.

– As meninas estão muito chateadas, pois nos últimos dois meses elas não viram a mãe. Ela as vê quinzenalmente, bom, pelo menos deveria ser assim.

– Isso deve magoar as meninas.

– Sim. A Talita parece não ligar, mas acho mesmo que ela não liga, já a Jéssica sente muito quando a mãe liga e diz que não vai vir buscá-las.

– Não consigo sequer imaginar como deve ser se sentir rejeitada pela própria mãe.

– Como é a sua família?

– Eu também tenho uma irmã. Ela é mais nova. Quando eu vi a foto na sua sala eu acabei me vendo ali.

– Onde ela vive?

– Ela foi morar fora do país. À princípio foi para estudar, mas acabou se apaixonando e ficando por lá.

– E os seus pais?

– Eles moram no interior. Eu tento visitá-los uma vez por mês.

– Você quer me contar o que aconteceu no sábado à noite. Bom, eu imagino o que aconteceu, mas quer me contar os detalhes?

– Sabe que é muito estranho, pois eu nunca tinha percebido que estar perto do Washington após o nosso divórcio me faria regredir. Nós somos amigos, melhores amigos. Quando decidimos nos separar ficou tudo bem. A gente se amava, mas sabia que nunca mais seria como antes. No nosso penúltimo ano juntos ele ficou muito doente, eu quase o perdi e isso acabou fazendo a nossa dinâmica mudar, eu praticamente virei a mãe dele e isso nos atrapalhou muito. Quando ele saiu do hospital e voltamos para a nossa casa, nós não éramos mais marido e mulher. A paixão acabou. Passamos mais um ano juntos, mas nada voltou ao normal, e antes que acabássemos destruindo tudo o que construímos, resolvemos nos separar. Cada um arrumou um lugar para si e devolvemos o apartamento que alugávamos. Por pura ironia do destino acabamos nos mudando para o mesmo bairro. Às vezes a gente se encontra na rua, no mercado, na farmácia. E no sábado eu o encontrei no mercado com outra mulher e foi como eu te falei, me doeu saber que ele tem uma vida e eu não.

– Agora você tem a chance de ter uma vida.

– Eu sei.

– Mas como foi essa conversa?

– Ele ficou triste por eu estar mal por ele conseguir recomeçar e eu não. Pelo Wash a gente jamais deixaria de se ver. Ele chorou quando eu falei que precisava de distância. Acho que ficou tão confuso que acabou até me beijando.

– Ele te beijou? – Fernando perguntou e eu percebi que não foi algo legal de se ouvir.

– Sim. Mas eu não senti nada. Eu não o amo de maneira romântica. Pelo menos eu acho que ele compreendeu os meus sentimentos.

– Espero que sim.

Enquanto ele olhava para o tráfego eu olhava para ele. Seu rosto estava tenso e eu senti vontade de rir.

Chegamos na frente do meu prédio e Fernando se virou para me olhar.

– Quer subir? – Perguntei com o coração quase saindo pela boca.

– Eu adoraria subir, mas vou deixar para subir um outro dia. Eu vou para a minha casa e vou te ligar antes de dormir.

– Mesmo?

– Mesmo.

– Vou esperar.

Fernando tirou o cinto de segurança e se aproximou de mim. Estávamos prestes a dar nosso primeiro beijo de verdade, e eu não sabia o que fazer com aquelas benditas flores. Acho que ele percebeu a minha confusão, pois olhou para o buquê, depois para mim e sorriu.

– Acho que vou ter que subir um pouco. Não vou conseguir te dar um beijo enquanto você segura essas flores.

– Concordo.

Confesso que fiquei mais do que feliz quando ele disse que ia subir comigo. Entramos no elevador e ele me olhava com um semblante feliz. Abri a porta e entramos, coloquei as flores na mesa de centro e me virei para ele.

– Esse é o meu lar. E aquele é o sofá onde eu fico conversando com você. – Falei e apontei para o sofá.

– Entendi.

Me aproximei dele, toquei seu rosto, fiquei na ponta dos pés e o beijei. Fernando deslizou as mãos pelos meus braços até a minha cintura. Abri a boca permitindo que ele aprofundasse o beijo. E que beijo. Foi lento, intenso e tão prazeroso que eu estava me contendo para não gemer. Jamais imaginei que o insosso do Fernando fosse capaz de beijar dessa maneira.

– Ainda bem que eu sou eu e pude acabar logo com o Felipe. – Ele falou e sorriu.

– Gosto de você.

– E a gente esteve tão perto por tanto tempo.

– A vida pode ser muito maluca. Mas gostei do que ela fez conosco.

– Também gostei. – Ele falou e me deu um abraço apertado.

É bom estar com o corpo pertinho do dele, sentir o perfume e saber que esse abraço é real.

– Agora você vai me abraçar quando eu precisar? – Perguntei.

– Sim. Eu sou bom em abraços.

Olhei para ele e o meu coração acelerou. Eu o achei tão bonito com aqueles olhos escuros apertadinhos quando sorri.

– Bom, agora que já demos esse primeiro beijo eu vou para casa.

– Sim. Nos encontraremos amanhã.

– Sim. Às oito no elevador.

– Podemos chegar vinte minutos mais cedo e tomar café juntos. O que acha?

Seu olhar estava repleto de carinho quando respondeu:

– Acho perfeito.

Fernando deu outro beijo em meus lábios e saiu.

Amando NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora