—Não vai comer o seu jantar? —questiona Clarisse, alcançando minha bandeja, ainda intocada.
—Não estou com fome —respondo, desanimado.
Midas dá uma risada, enquanto dá um pedaço do peixe de para Medusa, sua cobra.
—Repugnante —digo, estremecendo com a visão.
A cobra "ataca" o peixe e o ingere por inteiro.
—Ela não é fofa? —questiona, acariciando a pele.
—Não, ela é nojenta —responde Clarisse, largando sua comida. —Abre o jogo, Sávio. Fala logo, desembucha! Eu sei que você quer dizer alguma coisa.
Sempre fui ensinando a não pôr meus sentimentos para fora. Nunca tive essa oportunidade. Nem em casa e muito menos na escola. E na Internet, então? Eu só podia usar por uma hora! Meus irmãos, por outro lado, eram viciados naquelas telinhas.
—Meus pais. Estou pensando neles. Não é uma coisa que faço com frequência, e deve fazer uns bons anos que não penso neles. Thor disse que eu tinha que honrar o meu legado. E se eles sabiam disso tudo? E se eles já foram assim, que nem nós? —questiono, pensativo.
Clarisse dá um sorriso de canto de boca, aquele tipo de sorriso que você dá quando têm que consolar uma pessoa.
—Você tem que superar isso, é sério —diz.
—É mais fácil falar do que fazer —resmungo.
Clarisse dá um suspiro longo e se aproxima de mim.
—Então, vamos lá. Por que você sente saudade deles? —questiona.
—Eu não os conheci, não sei nada sobre eles. Não sei a história, a aparência, nada! Eu preciso saber, pelo menos alguma coisa —digo —Eu me sinto vazio.
Midas dá um resmungo e revira os olhos, não aguentando a "ladainha".
—Midas, pare. Eu estou tentando ajudar —repreende Clarisse.
—Tu parece um robô falando. Não usa gíria, fala tudo certinho. Pô, aí não tem graça —diz.
Clarisse dá um olhar repreendedor para ele, que não se abala.
—Eu te entendo, mesmo. Seus pais estão mortos, você sente que falta alguma coisa. Meus pais estão vivos, assim como os de Midas, mas eu não quero nada deles. Já me deram sofrimento o suficiente. Eu sei como te ajudar, confie em mim —pondera.
"Eu te entendo". Não, Clarisse, você não entende. Não entende, pois teve seus pais. Mesmo com todos os problemas, teve. Eu não tive. Não os conheci. A única informação que tenho é o nome. Alana, minha mãe, e Uziel, meu pai.
—E como você espera me ajudar? —pergunto, intrigado.
Clarisse dá uma risada. Não do tipo que gargalha, mas aquela risada que diz "Você é burro ou se faz?"
—Seus pais estão mortos. Para onde vão os mortos?
—Nem ideia, ainda não tivemos essa aula —devolvo.
—Meu deus, você só pode ser burro!
Midas balança a cabeça em afirmação.
—Eu estou dizendo desde o começo, ele não têm neurônios —fala, depois de se estirar na cama.
—Os mortos vão para Valhalla, para o mundo subterrâneo ou para Fólkvangr. A deusa Hel é quem comanda tudo isso, e a bibliotecária possui registros de todos os mortos. Você pode tentar extrair alguma informação. Quando souber onde os seus pais estão, podemos pedir para Hermodr nos levar até lá.
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Um deus à sua porta
Teen FictionSávio, Clarisse e Midas são 3 adolescentes que tiveram infâncias problemáticas. Midgard, a terra dos humanos, apresenta sinais de um eminente Ragnarök, o fim do mundo. Os 3 adolescentes são convocados pelos deuses a fim de formar a Nova Era, um exér...