Alberto
Quando chego no hospital Crystal já está me esperando.
_ Olá sumido, o que aconteceu que nem responde mais os amigos? _ ela sorri.
_ Lys e eu nos acertamos. _ vou direto ao ponto, estou feliz demais para esconder.
_ Mas agora tá tudo certo mesmo ou é só coisa de momento? _ Crystal ainda tem um pé atrás com a Lys, mas isso tem que mudar.
_ Estamos bem mesmo, ainda não podemos contar tudo que está acontecendo, mas eu estou muito feliz, mas eu ainda preciso te contar uma coisa, vem aqui _ puxo ela para uma sala vazia ao lado, conferi duas vezes antes de falar _ então, a Lys está grávida _ conto todo feliz e empolgado. Crystal me olha esperando que eu diga que é mentira.
_ E como você sabe que é o pai, ela tinha umas atitudes meio suspeitas? _ eu olho sem entender.
_ A Lys não é esse tipo de mulher não, eu sei que você não gosta dela, mas pensar e falar isso dela é muito errado, você nem a conhece, não pode sair falando isso não _ saio da sala e ela vem atrás de mim.
_ Me desculpe, eu não deveria ter falado desse jeito _ continuo andando, estou muito chateado para conversar agora, e hoje não é um bom dia aqui no hospital, mesmo que na minha vida pessoal esteja melhor impossível _ Alberto, me escuta. Para Alberto. _ eu paro.
_ Crystal eu preciso ir, tenho atendimentos agora e eu preciso ver um paciente, não quero conversar, pelo menos não agora. _ ela passa a mão no cabelo e eu saio sem ter mais o que falar.
Meu dia estava sendo normal até a metade do dia, evitei me encontrar com a Crystal de novo, não é infantilidade ou coisa do tipo, eu só estou cansado dessa birra que ela tem com a Lys, e ela nem mesmo conhece ela, sei que amizade é assim mesmo e eu não a julgo, mas não precisar agir de forma tão grossa com uma pessoa que ela nem conhece.
_ Como assim? O senhor está falando que o meu filho vai sobreviver? _ a mãe me olha com os olhos cheios de lágrimas _ deu certo? _ ela teve um problema no parto, o que fez que o bebê não recebesse a oxigenação necessária, foi um milagre, eu havia acabado de contar que o bebê ia ficar bem, e sem nenhuma sequela _ eu sei que se fosse outro teria desistido do meu filho, mas não o senhor, obrigada. _ ela agradece emocionada.
_ Só fiz o meu trabalho, fique bem, qualquer coisa peça para me avisar _ ela sorri e eu saio, mas com um peso no coração tenho que ver a mãe de outro paciente e o caso do filho dela não é para se comemorar.
Quando eu chego na sala 512, Jaqueline já estava acordada, eu a conheço a muito tempo, é batalhadora, sempre lutou pelas coisas dela, quando o marido soube da segunda gravidez ele a abandonou com um filho pequeno e outro na barriga, ele tinha o direito de ver o filho, e cinco dias atrás ele buscou a criança na casa dela e um dia depois ela recebeu uma ligação dele avisando que estava levando o filho para o hospital porque ele havia caído. Quando chegou no hospital ela descobriu que na verdade o filho tinha se afogado no lago perto da casa do pai, assim que ele deu entrada aqui no hospital eu acompanhei ele, Jaqueline denunciou o pai que está preso por negligência, abandono de incapaz, e quando o resultado sair e a perícia for concreta ele provavelmente será julgado por assassinato.
Ela passa a mão na barriga de sete meses agora.
_ Alberto, fale comigo. _ ela praticamente implora.
_ Jaque, eu sinto muito _ ela estava acompanhada da mãe, quando eu falei, Jaqueline deu um grito de dor que me quebrou o coração, ela caiu de joelhos no chão, vou até ela e me ajoelho _ ele lutou muito, mas já estava cansado, ele não queria te abandonar, mas ele precisava descansar, ele estava sofrendo e sentindo dores, tenho certeza que ele ama você e fez o possível para resistir, talvez se ele tivesse chegado um pouquinho antes, eu sinto muito mesmo, eu tentei de tudo, de tudo mesmo _ falo e a acompanho nas lágrimas, eu não consigo ter a frieza médica que todos recomendam, é uma vida humana e eu não posso ser indiferente.
_ Foi ele Alberto, como pode um pai fazer isso _ a mãe dela estava chorando desesperada do outro lado, sem conseguir ao menos se mover _ ele só tinha quatro anos Alberto, quatro, você consegue imaginar como eu estou me sentindo? _ a voz dela era doída e triste, meu coração está em pedaços.
Quando escolhi lidar com crianças eu tinha noção que coisas desse tipo poderia acontecer, mas mesmo assim continuei, eu estou destruído porque agora eu vou ser pai, tudo muda depois que você tem seu próprio filho(a), antes eu tentava confortar ao máximo mas eu não sabia como poderia ser difícil, agora pensei no meu filho(a) que ainda é muito pequeno e indefeso na barriga da mãe, e agora dói de forma diferente. Ela decidiu doar os órgãos viáveis, eu já fiz muito isso, já passei inúmeras vezes por esse momento, mas ver aquele menininho tão pequeno, perdendo a vida e eu não poder fazer absolutamente nada, porque ninguém consegue impedir a morte, eu fiz tudo que eu pude, adiei enquanto consegui, mas quando a vida daquele menino descia pelo ralo, eu senti como se estivesse segurando areia em um oceano, não tem como impedir que ela se vá, e parte de mim foi junto quando a máquina ficou em um único som e a linha reta passava sem um pico se quer, sem nenhum sinal de vida, e eu tive que anunciar que eu havia perdido ele.
Decidimos dar a ela um remédio, não para apagar, porque quando ela acordasse seria pior, optamos por um mais calmo para ajudar a baixar a pressão, ou poderia prejudicar o outro bebê.
Agora ela estava em uma cadeira de rodas e segurando meu braço com força, eu estou levando ela para ver o filho mais uma vez, a última vez, e quando chegamos lá ela estava mais calma, mas em parte era por causa do remédio que dei, ela passa a mão pelo rosto pequeno da criança, se tem coisas piores que ver uma mãe despedir de um filho eu desconheço, já vivi muitas situações assim, mas essa me quebrou completamente, eu fiquei ali no canto esperando ela terminar de se despedir do filho, abaixei a cabeça e fico só escutando o choro sofrido dela.
Ela cantou uma música e abraçou o corpinho delicado e pequeno dele e por fim me pediu para levar ela embora, na volta ela ficou quieta, estava destruída, mas como não estaria.
_ Eu já posso levar o meu filho para enterrar? _ pergunta meio grogue.
_ Por causa da denúncia que você fez, a polícia abriu um inquérito para investigar as causas, e o IML vem fazer a necropsia e fazer o atestado de óbito.
_ Você pode me dar algum remédio para dormir? Eu quero acordar apenas quando eu puder levar meu filho daqui. _ ela pede, está praticamente sem expressão e sem força.
_ Vou providenciar, você precisa de mais alguma coisa? _ pergunto preocupado.
_ Não, só preciso dormir, estou exausta. _ dou um sorriso fraco e ela tenta sem sucesso retribuir.
Quando encerro meu plantão eu já havia liberado Jaqueline e ela saiu acabada como era o esperado, a causa da morte do filho dela foi excesso de insulina, ele fazia uso de insulina para controlar o diabetes e a dose dele estava dez vezes mais alta do que o necessário, então isso só prova que sim, o pai foi o responsável, eu nem sabia o que falar, não vi Crystal, mas ele me mandou uma mensagem pedindo desculpa e disse que quando eu quiser conversar ela estará disponível, mas agora eu tenho outras preocupações.
Fui em casa e tomei um banho, eu queria dormir, mas decidi ir ver a Lys, depois de tudo que passei nesse plantão eu só preciso ver a mulher que eu amo e ficar cada vez mais próximo dela e do meu bebê, não suporto a ideia de sequer perder ela ou o meu filho.
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Gente espero que vocês tenham gostado do capítulo, foi um pouco triste, mas esses dias eu tava lembrando do caso da Isabella Nardoni que foi morta em 2008, aos 5 anos pelo pai e a madrasta, ela completaria 18 anos agora em 2020, dá para acreditar que já se passaram 12 anos? eu não consigo me conformar e sempre fico triste ao lembrar dela, esse caso surgiu quando lembrei dela mas a morte por excesso de insulina foi do menino Joaquim Ponte Marques de 3 anos, que era diabético, desapareceu da casa da família no dia 5 de novembro de 2013 e o corpo foi encontrado no Rio Pardo, em Barretos, cinco dias depois, e as suspeitas eram do padrasto e da mãe. Mas existem muitos casos tristes que se agente for relembrar parte o coração. Me contem aqui nos comentários o que vocês acharam e o que acham desses casos e do capítulo.
É isso, obrigada por acompanharem e até o próximo.
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Me deixe cuidar de você
RomanceLys tem muitos problemas, mas será que ela conseguirá supera-los com a ajuda de Alberto e das amigas? Com revelações chave vamos descobrir a origem de tudo e como essa saga termina. (Talvez) 🤫