O sol da manhã entrava entrecortado no cômodo graças as cortinas, mas a brisa gelada do início do outono não perdoava as janelas abertas e fazia questão de entrar e incomodar o pobre Kyle Broflovski.
O ruivo estava descoberto e, naquele dia, havia dormido sem roupas. Não demorou a sentir o frio lhe dar bom dia.
Seus olhos abriram lentos. Sua cabeça girava pela quantidade de álcool que bebera na noite anterior.
A primeira reação que teve foi de procurar uma aspirina, porém o que encontrou foi cem vezes mais surpreendente.
Ao seu lado, na cama, dormia um corpo também despido. Um corpo que Kyle conhecia bem, as madeixas pretas não deixavam dúvidas: Stan Marsh.
-Oh, céus! -Ele se assustou.
Ele havia dormido com seu melhor amigo e, por alguma razão, tinha a sensação de que aquela não era a primeira vez.
Ignorou o fato.
Em vez disso o ruivo pegou o celular que estava no criado mudo e discou um número que sabia de cor e salteado.
Se ele tinha dormido com um homem... Ele era gay, não? Ele deveria contar isso para a pessoa que mais lhe importava.
-Alô, mãe? -Perguntou quando a outra linha atendeu.
-Kyle? -Sheila respondeu do outro lado da linha. -São cinco da manhã, filho, o que você quer tão cedo?
-Mãe... Eu preciso te contar uma coisa. -Disse já derrubando lágrimas. -Eu acho que sou gay.
-Ah... Filho...
-E-Eu acordei com Stan, mãe. -O ruivo continuava chorando.
-Fofucho, quanto você bebeu?
-E-Eu não sei. Eu não lembro. -Ele soluçava. -Eu só seu que acordei com ele e acho que sou gay.
-Ah, Kyle... Eu tenho certeza que você é gay.
-Você tem...? -Será que as mães tinham o sexto sentido do gaydar mesmo?
-Ah mais de dez anos. -Continuou a ruiva. -Quando você casou com o Stanley.
-Eu casei com ele?! -O Broflovski afastou o celular da orelha pra olhar para a própria mão, onde viu um grande e grosso anel dourado. -Eu tenho uma aliança!
-Claro que tem, fofucho. -A mulher disse acalentadora. -Agora desligue o telefone e volte a dormir, sim?
Anuiu e terminou a chamada, mas ao invés de se deitar novamente ele levantou e andou até a penteadeira, de madeira antiga, que tinha no quarto. Encarou seu reflexo com espanto.
Ele não tinha dez anos, nem estava no ensino médio e muito menos na faculdade, aquele homem no espelho era si, quase nos quarenta, com a pele começando a ceder para as marcas da idade e barba ruiva por fazer.
Então a ficha caiu e suas lembranças começaram a voltar. O dia que se declarou, o dia que se formou, o dia que se casou... Todos foram passando diante de seus olhos de forma tão imersiva que nem se deu conta do Marsh que esticava o corpo atrás de si.
Levou um susto quando o outro colou o peito nu contra suas costas. O nariz apoiado em seu ombro e os fios negros caindo sobre os olhos azuis, ele viu pelo reflexo do espelho.
-Bom dia, querido. -Disse Stan.
Kyle sorriu, a sensação de "descobrir" que era casado com o amor de sua vida era maravilhosa, se fosse se sentir assim todas as vezes que levasse um porre, ele faria questão de levar mais vezes.
-Bom dia.