Capítulo 1

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Você está com as bochechas coradas?

Você já teve aquele medo de não poder mudar

O tipo que gruda como algo em seus dentes?

― Merda! ― gritou Kageyama Tobio, ao chutar a porta do banheiro da casa de um dos seus amigos e ex-colega de clube, Sugawara Kouchi.

Kageyama sentia-se frustrado. Tão furioso consigo mesmo, com sua falta de autocontrole. Seu nariz sangrava, consequência de sua atitude ridícula mais cedo na quadra de vôlei.

Tinha sido acertado por um corte violento do antigo Ace do Karasuno, Azumani Asahi. Até aí tudo bem. Já fazia um tempo que não levava uma bolada na cara, mas não era como se fosse morrer por isso. Não, o que estava matando-o não era a dor física e sim a emocional. A dor causada pela vergonha de saber o porquê de ter sido atingido. Por que não estava prestando atenção no jogo? Era a resposta para essa pergunta que o envergonhava. E sua vergonha, assim como a frustração e raiva, só aumentou quando ele ouviu uma voz preocupada perguntar:

― Você está bem, Kageyama?

Não olhou para o dono da voz. Não precisava se dar ao trabalho, sabia exatamente quem veria: um homem em seus 22 anos, o cabelo ruivo mais curto do que costumava ser nos tempos de colégio, assim como um corpo mais definido, com músculos bem distribuídos por toda sua nova estatura de 1,82 m. E ainda assim, apesar de toda essa óbvia masculinidade, feições do rosto delicadas, olhos grandes e expressivos, lábios finos sempre exibindo a sombra de um sorriso. Esse era Hinata Shouyou, razão de sua vergonha.

Há algum Ás na sua manga?

Você não faz ideia de que é minha obsessão?

Sonhei com você quase todas as noites essa semana

Não recebendo uma resposta, o ruivo aproximou-se da pia onde estava parado após ter lavado o sangue de seu próprio rosto.

― Deixe-me dar uma olhada.

― Não! ― disse, rejeitando o toque. Ou talvez "fugindo" fosse a expressão mais apropriada para aquela ação.

― Pare de ser teimoso! Eu sou médico, é meu trabalho cuidar de machucados!

Médico. Sim, essa era a profissão de Hinata agora ― ou seria, assim que ele recebesse seu diploma. Tornar-se um jogador profissional de vôlei era só mais um dos vários sonhos que eles tiveram de deixar para trás conforme cresciam. A realidade chama por todos, uma hora ou outra. A sua própria realidade agora também incluía aulas cansativas sobre Direito, faculdade que cursava na mesma universidade que Hinata. Uma coincidência, é claro.

É. Claro.

― Tenho pena dos seus pacientes! Vão descobrir que é melhor morrer do que ser atendido por você!

Em algum lugar de sua mente, sua consciência o acusava de estar passando dos limites. Infelizmente, ela não passava de um eco distante em meio à sua crise de raiva.

― Como é?! Você tem sorte de me ter aqui, ouviu? Quando eu me formar, você vai precisar pagar pelos meus serviços! ― exclamou, indignado pelo comentário do outro. ― Agora deixa eu ver essa merda!

Seu tempo de reação não foi páreo para a agilidade que Hinata mantinha mesmo depois de anos afastado das quadras. Quando se atentou para o que acontecia, já estava encurralado contra a pia, com a mão esquerda do ruivo segurando seu braço, enquanto a direita examinava seu rosto atentamente.

Do I Wanna Know? (KageHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora