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Eu conseguia ouvir o barulho do tamborilar dos meus saltos no mármore largo e frio do salão enquanto me encontrava em uma paciente espera. Mesmo pela chamada recebida por mais cedo, com o anúncio de que era um cargo especial para mim meu coração batia descompassado pela ansiedade e nervosismo, já havia arrumado o cabelo atrás da orelha no mínimo vinte vezes nos últimos 15 minutos, e minhas unhas logo não existiriam de tanto força-las na pasta de couro preta. Ouvi de longe um barulho de salto vindo em minha direção, ficando cada vez mais forte a cada segundo, senti uma gota de suor escorrer de minha testa e no mesmo instante me prontifiquei a limpá-la. Uma moça jovem, de não mais de 30 anos parou em minha frente com os longos cabelos ruivos em uma trança lateral.

- Você deve ser Lili Reinhart, certo? – Ela disse estendendo-me a mão – Me chamo Madelaine, sou secretária pessoal de Mark, ele está pronto para a conversa.

- Sim sou eu mesma. – Respondi afirmando enquanto lhe cumprimentava com a mão direita – Prazer em conhece-la Madelaine.

O prédio da Consuelos era impecável, era todo forrado por pisos de um brilhante mármore e com colunas bem ornamentadas com detalhes em dourado, me sentia entrando em uma das igrejas do Vaticano, quando na verdade apenas estava em uma das maiores empresas de Nova Iorque. Madelaine parou em frente a uma grande porta de madeira enquanto apertava um pequeno botão, assim que um estralo estridente se deu no ambiente a porta se abriu sozinha e entramos no elevador, que era ainda mais impressionante do que o lado de dentro do prédio, uma larga parede de vidro fazia o local ter a visão perfeita da Estátua da Liberdade, e eu não conseguia parar de admirar o lugar e me imaginar subindo com essa vista todas as manhãs.

Chegamos ao 13° andar do prédio e a ruiva me indicou a sala em que Mark, CEO e fundador da Consuelos, atualmente a maior revista investigativa dos Estados Unidos, iria me receber. Abri devagar a grande porta com seu nome gravado em cima, entrando rapidamente enquanto ela se fechava atrás de mim.

- Com licença Sr. Consuelos. – Falei com cautela enquanto o senhor lia um papel em sua mesa - Bom dia.

- Sente-se por gentileza Srta. Reinhart. – Ele respondeu enquanto se levantava para um cumprimento me indicando a cadeira em sua frente. – Deve estar ansiosa e se perguntando o que nos faria querer tanto uma recém-formada na empresa correto?

- Sim senhor. – Respondi com cautela enquanto me encarava de forma intimidadora.

- Certo. Você já deve ter ouvido falar da Sprouse's Global Sales, e de todo o escândalo ocorrido no final do ano passado. – Assenti.

- Sim, envolvendo as suspeitas de tráfico de armas de fogo para fora do país. – Disse aliviada de ter assistido por muito tempo os jornais naquela época. – Mas eles foram inocentados não foram?

- Inocentados, sim. – Mark respondeu enquanto fazia o símbolo de dinheiro com suas mãos. – Seguinte Srta. Reinhart, acreditamos que ainda há muito dessa história que o governo e a própria companhia acobertou, ou omitiu da população desse país, e precisamos de alguém que possa investigar esse caso. E você é a pessoa perfeita para isso.

- Eu? – Respondi em espanto. – Por que, se permite me dizer Sr., existem muitos profissionais dentro da sua companhia com muito mais conhecimento e experiência na área do que uma mera recém-formada em jornalismo.

- Srta Reinhart, é aí que você entra, todos os meus funcionários já são conhecidos, tem grande nome. Precisamos de alguém novo, que ainda não deu as caras ao mundo para se infiltrar dentro daquela empresa. – Ok, então supostamente eu teria que me passar por funcionária da Sprouse's Global Sales. – Temos um contato no RH de lá, soubemos que Matthew demitiu sua última secretária e está em busca de outra, temos como falsificar um certificado de um curso de Gestão e Relacionamento Pessoal, basta você dizer sim e está dentro. E além do mais Srta., se me permite dizer, pode faturar uma boa bolada com isso tudo se ocorrer dentro dos conformes.

Ele me esticou um cheque, olhei em espanto, aquilo pagaria todo o restante do meu financiamento estudantil, e provavelmente compraria um bom apartamento.

- Digamos que eu aceite. – Respondi me endireitando na cadeira – Eu terei um emprego aqui após o desenrolar do escândalo?

- Claro que sim Srta. E então, o que me diz? Não precisa responder agora, daremos até quarta-feira para uma resposta, pense bem, é uma oportunidade para a vida.

- Analisarei a proposta com calma Sr. Consuelos. Quarta-feira entro em contato com Madelaine para dar uma resposta.

- Não precisa entrar em contato com ela, aqui. – Ele me estendeu um cartão pessoal. – Ligue para mim, em qualquer horário do dia, assim já peço para darem início imediato na sua papelada de contratação aqui e lá.

- Ok. Muito obrigada, tenha um bom dia.

- Igualmente para a senhorita, por gentileza peça que minha secretária venha aqui após que sair.

Sai da sala de Mark extasiada, não podia acreditar na oportunidade que pairava sob minha cabeça, se ele e sua empresa não fossem tão conhecidos pelo mundo inteiro eu podia jurar que estava sendo vítima de um golpe para roubar meus míseros trocados que ganhava para sobreviver fazendo colunas bestas sob pseudônimo para alguns jornais da região.

Peguei um táxi e fui direto para minha casa pensando sobre como não precisaria aguardar até quarta-feira, mas o faria para demonstrar análise da situação. Entrei em casa e larguei meu sapato pelo canto da porta, enquanto já me virava na cozinha pegando uma garrafa de vinho, em seguida me joguei no mini-sofá, que era tudo que cabia na mini-sala, do meu mini-cafofo naquela imensa cidade, peguei meu notebook e tomada pela curiosidade resolvi pesquisar sobre a empresa dos Sprouses e sobre suas vidas pessoais, haviam várias matérias a respeito do tráfico de armas e alguns tópicos no Reddit sobre coisas mais pesadas como, tráfico de drogas, e de pessoas, que provavelmente não eram verdade devido a todos os documentos e provas apresentados na corte no último ano. Dentre as notícias pude notar várias e várias vezes o nome de um dos filhos de Matthew, Cole, envolvido em polêmicas de festas em Ibiza, encontros com modelos, uso de drogas, nada fora do habitual de um filhinho de papai rico.

Já se passava de meia-noite, quando decidi deixar o restante das pesquisas para o próximo dia, até por já estar domada pelo sono e pelo efeito de mais de meia garrafa de vinho, mas antes decidi que não conseguiria esperar até quarta-feira, puxei o cartão do bolso do meu casaco e liguei para o número aguardando ansiosa enquanto o bipe chamava.

- Srta Reinhart, a que lhe devo o prazer, estava aguardando sua ligação, sabia que não iria durar até quarta-feira.

- Boa noite Sr. Consuelos. Eu aceito. 

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