A Prisioneira #2 • Renato Garcia (Concluída)

CAPÍTULO 22

RENATO

Depois de uma tarde surpreendente interessante, eu pude ver o porquê de Natasha estar tão ligada ao garoto. Eu realmente não sentia da mesma maneira ainda mas... eu entendia. Não foi tão dificil também, Jack não é como a maiora das crianças, ele não é falador ou irritante. E olhar para ele é como olhar para um espelho dimensional de mim mesmo, como eu poderia ter sido. 

Percebi que poder observar o garoto depois de tantos anos separados, era quase fascinante. Quando eu fui embora, ele era apenas um bebê pequeno e enrugado. Eu não sabia como um ser tão pequeno podia sobreviver em um mundo tão perigoso. 

Mas eu também fazia parte desse perigo. E sem mim, ele pôde ter uma vida normal, ao lado de uma mãe carinhosa e mentalmente saudável ao seu lado. Me perguntei o que ele poderia ter se tornado se eu nunca houvesse partido. Algo como eu, não como a Natasha? Algo dentro de mim agradeceu que isso não aconteceu.

Em frente ao pequeno restaurante onde Natasha trabalha, algo me fez contrair os dentes. Um homem se interpunha sobre Natasha quase encostando nela de tão perto. Mesmo de fora, eu soube que ele gritava, as veias do pescoço sobressalentes.

ㅡ Quem é esse idiota?

ㅡ Ele é o chefe da mamãe. É uma merda.

Ele imitou o que eu disse mais cedo. Franzi a testa pois Natasha não iria ficar alegre com ele dizendo isso mas não tirei os olhos do homem. Ele gritava com Natasha e fazia movimentos irritados com as mãos enquanto ela olhava para o chão em uma posição subalterna.

Não gostei disso. Nem um pouco.

Abri a porta com jack atrás, me seguindo.

Natasha olhou para cima percebendo nossa chegada mas o homem nem ao menos titubeou, tão concentrado na reprimenda.

Pigarriei ao chegar mais perto.

O homem franziu a testa e se virou diante o barulho.

ㅡ Estamos fechados.

ㅡ Oi, mãe. ㅡ Natasha sorriu para Jack.

ㅡViemos te buscar. ㅡ Murmurei mas sem o tom animado que pretendia. Saiu mais como um aviso para o chefe dela, que estamos indo embora, e eu o desafiava a dizer o contrário.

Natasha deu uma risada sem graça, e voltou a atenção para o filho da puta.

Ele olhou primeiro para Jack, e depois para mim com os olhos estreitos. Segurei o olhar, igualmente irritado.

ㅡ Está despensada...Conversaremos depois.

Natasha tirou o avental e pegou suas coisas em silêncio. Quando passou por nós, segurou a mão de Jack e me pediu com o olhar para a seguir. Fui atrás deles, e dei um ultimo olhar para o chefe idiota dela. Ele engoliu em seco mas continuou com a pose de machão.

Queria ver quanto ele aguentaria nessa fachada assim, comigo.

O vento la fora ao passar pela porta me distraiu e era novamente como se as coisas voltassem ao normal.

Natasha estava conversando alegremente com Jack, totalmente diferente da mulher reprimida dentro daquele restaurante. Me pergunto a quanto tempo isso está acontecendo. Aumentei o passo para alcança-los.

ㅡ Jack estava me contando que teve um otimo dia hoje.

Ele piscou para mim.

ㅡ Que bom encontrar ele como senpre. Pensei que você cortaria o cabelo dele ou algo assim.

ㅡ Há.

Ela bagunçou o cabelo dele que fez uma careta e riu ao mesmo tempo.

ㅡ Meus dois garotos vieram me buscar. Me sinto lisongeada.

ㅡ Só eu sou seu garoto!

ㅡ Aprenda a compartilhar - Repreendi com a voz seria.

Ele fez bico suspirando, mas por fim obedeceu em silencio.

Natasha arregalou os olhos com os labios mechendo sem som.

ㅡ Como você fez isso?!

Dei de ombros.

Andamos até a casa dela em um ritmo calmo, trocando brincadeiras e comentarios sobre a rua, à noite.

Chegamos alguns minutos depois.

Jack soltou a mão de Natasha e correu para casa assim que ela abriu a porta, em seguida o som da televisão foi ouvida.

Ela sorriu e balançou a cabeça.

ㅡ O que foi?

ㅡ Eu não acredito como vocês se deram bem. Mas eu devia saber, ele é muito parecido com você.

ㅡ Não. Ele é todo você. Os olhos, a bondade.

Ela sorriu e abaixou o olhar para os pés.

ㅡ Por quê aquele imbecil estava gritando com você?

ㅡ O sr barkhan? ㅡ Ela perguntou. ㅡ Oh, o de sempre. Eu esqueci alguns pratos e derramei acidentalmente algumas gotas de café em um cliente particulamente exigente.

Não correspondi ao sorriso dela numa tentativa de tirar a importancia da situação. Finalmente ela desistiu de tentar.

ㅡ O que eu posso dizer? bem vindo ao mundo adulto.

ㅡ Você não precisa disso. Maldição, sua mãe é uma das pessoas mais ricas desse bairro, se não da cidade!

ㅡ É? eu não quero depender dela. Eu não quero depender de ninguém! ㅡ No momento que ela disse, arregalou os olhos arrependida.

ㅡ Entendi. ㅡ Respondi amargo.

ㅡ Renato... olha, eu precisava disso ok? Ter algo que eu consegui sozinha. Eu não quis depender dela, droga, no começo foi muito dificil para que eu... a perdoasse.

Ela destinguiu meu semblante confundido e suspirou magoada.

ㅡ Você acha que sou tão boa assim? Que eu não me ressenti com ela por ter me tirado de você daquela maneira? Mesmo que ela tenha feito nada mais do que meu bem... Foi dificil, ok?

ㅡ Tudo o que eu queria era estar com você naquele dia.

Falei sem pensar.

Ela mordeu os lábios.

ㅡ Eu também.

ㅡ Ok, você não está errada a querer estar cuidando de si. Mas eu estou aqui agora, e eu não gosto que nenhum pedaço inutil trate você daquela maneira. Não importa o motivo.

ㅡ Eu entendo isso.

ㅡ Eu não irei fazer nada, não se preocupe. Toda essa coisa de mudança e novo recomeço de merda. Dessa vez, eu quero dizer isso. Não irei colocar vocês em risco.

Não percebi que havia incluído o garoto também até que eu ouvi o que eu disse.Pareceu certo. Afinal, ele e Natasha são um pacote inseparavel.

Os olhos dela brilharam com satisfação ante a menção dele.

ㅡ Jack está lidando tão bem com você! Você...quer entrar? Não precisa esperar até ele dormir.

Balancei a cabeça.

ㅡ Nah. Melhor deixar o garoto processar com calma. Eu estarei esperando aqui fora.

Ela concordou com um pequeno sorriso.

ㅡ A porta estará aberta para você...