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— Puta merda! — Ouço Corbyn falar, ao abrir a porta da casa nova dele e me ver.

— Você gostou? — Sorrio e adentro, ao que ele fecha a porta atrás de mim e continua me olhando chocado.

— Você tá brincando? Caralho! Tá muito lindo. — Não consigo parar de sorrir ao olhá-lo.

Já faz uma semana desde o dia em que Sydney me confrontou sobre Corbyn e eu não conseguia me sentir melhor a respeito do que ela me disse, então, em um surto, decidi cortar o cabelo e corri para o primeiro salão que achei aberto. O corte é reto e acima da cravícula. Uma coisa bem Luiza Scandelari ou algo do tipo.


— É a primeira vez que te vejo com o cabelo tão curto, ficou incrível. — Ele prossegue, ao que caminha até mim. Corbyn chega tão perto que consigo sentir a respiração dele, mas tudo o que o loiro faz é sorrir largo e tocar uma mecha do meu cabelo.

— Obrigada. Que bom que você realmente gostou, a sua opinião é a única que me importa. — Observo os olhos claros dele passarem da mecha para o meu rosto. Sua expressão suaviza e ele diz:

— Eu gostei porque parece mais você e menos a sua mãe. — Vejo ele se afastar e suspiro.


— O que você quer dizer com isso? — Encaro os meus pés.

— Você sabe. — Diz simplista, logo antes de começar a caminhar em direção à cozinha da casa. — Vem, vou te mostrar a Why Don't Welândia.

— Why Don't Welândia? — Digo, ao segui-lo e ele solta uma risadinha.

— Sim! É a Batcaverna da nossa banda. — Fala, ao se virar para mim com a expressão mais sapeca do mundo. Sorrio e olho ao redor, até agora a casa parece digna de uma boyband famosa como eles.

Corbyn me mostra todos os cômodos, inclusive os quartos dos meninos, que não estão em casa. Exceto por Jack, que está dormindo. Ao passar pela porta do quarto do meu melhor amigo, sorrio de orelha a orelha. É como uma versão melhorada do quarto que ele tinha em Dallas. O que me deixa feliz, pois significa que a fama não mudou a personalidade dele. O loiro se senta na cama, enquanto eu caminho até a estante de livros dele e noto alguns livros sobre astronomia.


— Você se lembra de quando eu fui na sua casa pela primeira vez? — Me viro para ele.

— Sim, — O observo sorrir. — você me perguntou se astronomia tinha algo haver com signos.

— Você era um tremendo nerd, apesar de ter a aparência mais comum do mundo.

— E você parecia uma patricinha nojenta, mas só parecia. — Diz, ao dar de ombros. Sento ao lado dele na cama e o empurro com o braço.

— Quem no mundo diria que nos tornaríamos amigos? — Deito a cabeça no ombro dele.


— Ninguém, né. Você não lembra como as pessoas ficaram confusas quando a gente começou a andar juntos na escola? Pra eles nós eramos como dinossauros e escovas de dentes. — Rio da comparação. Corbyn sempre diz esse tipo de coisa e eu acho uma gracinha, é tão único.


— E não somos? — Pergunto, ao levantar a cabeça e o olhar. Fico presa em seus olhos por alguns segundos.


Uma vez, há muitos anos atrás, nós estávamos voltando da escola quando encontramos um filhotinho de gato miando na chuva. Eu levei o bichinho para casa mas a minha mãe odiava animais, então eu fiquei extremamente triste, pois teria que abandoná-lo. Na manhã seguinte, quando acordei, eu estava pronta para ter que deixar o bichano em alguma rua ou na porta de alguém, mas quando peguei o celular, haviam diversas mensagens perguntando sobre o gatinho. Eu soube mais tarde que Corbyn tinha anunciado que o gato estava para adoção em diversas redes sociais, ele provavelmente passou a noite fazendo isso. Foi aí que eu descobri que estava apaixonada. Quando realmente vi o quão especial ele é. A essência dele me encantou.

O fato de que ele, uma vez por semana, levava algum alimento escondido para o asilo da vizinhança, o jeito que ele segurou a minha mão quando a minha mãe morreu e o fato de que ele nunca fica bravo comigo, mesmo que eu faça tudo ao contrário do que ele me pediu são pedacinhos de um todo, pedacinhos da beleza que existe no coração dele.

Ás vezes eu sinto que ele é o único homem possível, mas o medo que tenho de nos afastarmos me impede toda vez que penso em confessar a ele os meus verdadeiros sentimentos. Como nesse momento.

— Hã... — Desvio o meu olhar do dele, ao que o loiro limpa a garganta e mira os próprios pés. — E os preparativos pra festa de amanhã? — Falo, em uma tentativa de suavizar o clima pesado que se instaura entre nós.

— Bem, isso é com o Daniel. Ele é o cara mais festeiro que já conheci, então deixamos ele tomar conta de tudo. Até porque, você sabe que eu não sou experiente nisso. — Ele se levanta e vai até a janela.

— Que tipo de cara ele é, exatamente? — Pergunto, como quem não quer nada. A luz do sol bate no rosto do loiro e eu me pego pensando em como ele é bonito. Chega a ser injusto.

— Por que a pergunta? — Seus olhos capturam algo fora da casa, mas ele não parece realmente interessado no que quer que esteja vendo.

— Por nada, você falou dele e eu perguntei. Só isso. — Digo, em uma tentativa de enrolá-lo. O que percebo claramente não ter funcionado assim que ele se vira para mim e arqueia uma das sobrancelhas.

— Não tem nada a ver com o fato de que vocês estão flertando há dias?

Acho que já ficou claro que eu sou realmente ruim em esconder as coisas, né?!

— Olha só, eu... — Tento dizer, mas ele me interrompe.

— Kai, você não precisa me dar satisfações de nada. Eu só perguntei porque sinceramente, não vejo motivos pra você querer esconder isso de mim. — Ele se aproxima e segura a minha mão esquerda. — Sou eu. — Levanto o rosto e o encaro. Ele parece estar falando seriamente, então apenas suspiro e assinto.

— Não é nada demais, ok?! Ele vem dando em cima de mim e eu achei ele bonitinho, então correspondi. — Ele me lança um olhar...triste?

— Eu só espero que ele não te magoe, senão vou ter que sair da banda. — Por um momento, cogito que ele esteja falando sério mas o sorriso que se desenha em seus lábios mostra que ele só quis brincar.

— Para de falar merda! — Dou um empurrão no garoto. — Se a gente ficar, não vai demorar dois dias pra esquecermos da existência um do outro e você sabe disso! Assim como você, eu não nasci pra me envolver demais.

— É, eu sei. Precisei ameaçar ao menos 20 caras nos últimos cinco anos pra que parassem de te procurar. — Ele diz, ao se jogar na cama.

— Ei, não foram tantos assim. — Digo, ao passo em que me jogo ao lado dele. Ele me encara e sorri.

Oh, merda.

Ele é tão...

— É um número maior do que eu gostaria que fosse.

𝒄𝒍𝒊𝒄𝒉𝒆 ↺ corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora