The Girl With Red Hair

Again

- Não, Sofia, não achei - respondi sendo sincera. - Apenas não vi motivos para chamá-la.

- Ótimo, então continua me afastando de você - disse se levantando e passando as mãos nos cabelos. - Quem sabe eu não acabo me tocando e fazendo o que você quer.

- Faça isso - respondi magoada. - Se quer sumir da minha vida, então vá.

- É realmente isso que você quer? - Sofia já estava se afastando.

- Não importa - repliquei, derrotada. - É o que você vai fazer de qualquer jeito.

- É o que VOCÊ acha que vou fazer - rebateu -, porque você não confia em mim.

- O problema não é você. - Ainda. - Sou eu.

- Eu sei - respondeu Sofia, saindo da sala irritada.

Desatei a chorar no sofá. Alondra entrou no apartamento e viu minhas lágrimas, mas abaixou o rosto e foi para o seu quarto. Ouvi ela chamando Wendii, mas não consegui entender o que elas conversavam, só quando sua porta bateu. Entretanto, momentos depois, Wendii apareceu na sala e se sentou do meu lado.

- Quer assistir um filme em que alguém morre?

- Quero - ri. Enquanto eu tivesse minha minha família e amigos ao meu lado, eu ficaria bem. Acho que tinha chegado o momento de ir embora dessa casa e de achar meu próprio caminho, meu lugar ao sol, como dizia a música. Wendii escolheu o pior filme que encontrou e deitou a cabeça no meu colo.

- Sofia tem razão - ela disse tão baixo, que tive dúvidas se realmente tinha ouvido. Comecei a fazer cafuné em seus cabelos, pensando que Renata me mataria se soubesse disso. Wendii e eu nos aproximamos muito ultimamente, ela é uma pessoa incrível! Agora consigo entender o motivo de Renata estar tão apaixonada.

- Você estava ouvindo atrás das portas?

- Estava - admitiu.

- A conversa com Ryan também?

- Sabe o quanto foi difícil não vir até aqui e quebrar a cara daquele infeliz? - perguntou se sentando e se virando para me olhar de frente. - Você não está considerando que ele mudou e se transformou no melhor homem do mundo, não é?

- Claro que não. - Suspirei. - Ele não era a pessoa, Wendii.

- Sofia é a sua pessoa? - Essa foi a pergunta mais profunda que ela me fez desde que nos conhecemos. Não precisei pensar para responder.

- Ela é minha pessoa certa no meu momento errado.

Passei muitos anos sonhando com o amor da minha vida e em todos os meus sonhos, ela tinha cabelos ruivos. Já fazia muito tempo que não pensava na minha garota e hoje, comparada à Sofia, ela parecia uma invenção boba de criança. Tudo que eu mais desejei estava bem à minha frente e eu não conseguia alcançar. Se fosse em outra época, em outra vida, talvez pudéssemos começar uma história, mas a minha vida já tinha muitos "era uma vez" para eu conseguir chegar em um "foram felizes para sempre" sem deixar meu coração em pedaços no caminho. Eu não tinha mais forças para lutar por algo que talvez nem acreditasse mais. Não valia a pena o sacrifício de entregar meu coração a alguém se sabia que um dia ele seria devolvido cortado e judiado, e que eu passaria anos tentando remendá-lo para acabar com um coração "quase bom". Eu e Sofia estávamos em lados opostos da estrada da vida e era tarde demais para um retorno.

- Laura, ela nunca se apaixonou por ninguém, dá um crédito a ela.

- Não se trata de confiança, se trata da vida, Wendii.

- Então você confia nela?

- Não. - Eu não confiava, eu não confiava em relacionamento nenhum e talvez nunca voltasse a confiar.

- Então me desculpe, mas é sim uma questão de confiança.

- Mas não é só isso. - Suspirei. - Vamos supor que ela realmente não vá embora, ou no caso, me mande embora, já que a casa é dela. Vamos supor que ela fique comigo, acompanhe minha gestação, esteja lá no dia em que meu filho nascer. O que Sofia se tornaria na vida dele?

- A madrasta.

Eu precisava de uma lousa e um giz.

- Isso gera responsabilidade, Wendii, e supondo novamente que ela tenha maturidade para lidar com elas, o que eu acho que não tem, eu acabaria com a sua vida. Ela ainda pode conhecer uma boa pessoa, sem problemas, sem passado e bagagem, pode namorar sem se preocupar, e por fim pode construir uma vida ao lado dela e partir do zero, ser feliz ao invés de tentar remendar a minha ferida.

- Mas essa escolha é dela.

É o que todos me diziam.

- Mas quem vai conviver com ela sou eu. Quem vai olhar para ela daqui cinquenta anos e ver o peso disso tudo, sou eu. Quem vai conviver com a dor dela por ter tomado uma decisão errada, sou eu. Porque depois que ela se envolver nisso, será muito mais difícil sair do que se fosse um relacionamento comum.

- Você perdeu a fé - disse Wendii, com tristeza.

- Eu perdi tudo.

Mas não deixaria que Sofia também perdesse.

* * *

Tendo tomado a minha decisão, peguei meu carro e fui até a residência da família Oliveira. Eu me sentia na obrigação de contar para Renata tudo que eu sentia, porque nossa amizade estava mais ligada à minha vida sentimental que minhas calcinhas. Arrependi-me de não ter telefonado antes, porque encontrei apenas César em casa.

- Laura, eu ia mesmo procurar você, entre, por favor. - E eu tinha opção? Entrei e ele me conduziu até a mesa da cozinha. - Sente-se. Eu quero que você me desculpe pela outra noite.

- Eu é que peço desculpas, você tinha razão.

- Eu tinha? - perguntou confuso.

- Tinha sim, eu vou acabar com a vida dela. - Suspirei. - Eu ia acabar com a vida dela - corrigi. - Ela tem uma carreira brilhante, é linda, gentil, quando quer. Nunca conheci uma pessoa tão perfeita e apaixonante quanto sua filha.

- Não estou entendendo, se ela é tudo isso...

- É exatamente por ela ser tudo isso que eu não posso arrastá-la para minha vida nesse momento. - Solucei. - Eu não posso prendê-la nas responsabilidades que tenho agora, não é a obrigação dela.

- Ela já sabe?

- Não, e não vai saber até eu ir embora - confessei. - Espero que você guarde esse segredo, eu só vim me despedir da Renata. Estou indo para a casa dos meus pais.

César não me perguntou mais nada e me apressei para ir embora. Eu tinha uma mudança para organizar, de novo.