Cartas

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Eu e Yasmin estávamos novamente no quarto. E por mais que estivéssemos sentadas frente a frente na cama na qual dormi essa noite, o silêncio nos rondava e apenas os olhares que não sabiam o que dizer já denunciavam tudo, ela achava que eu estava enlouquecendo, e eu, por mais que odeie admitir também.

Ergo o olhar, ela já estava olhando para mim, com um certo receio, como se esperasse que eu falasse alguma coisa antes dela colocar suas palavras em jogo. Tinhamos que quebrar aquela tensão, e como sempre teria que ser eu a dar o primeiro passo.

- Então realmente estamos na Inglaterra... - era uma afirmação, que embora eu lutasse para acreditar, também lutava para negar. Talvez viesse disso o leve, mas perceptível, tom de incerteza em minha fala.

- Sim.

"Claro que ela diria isso, já que é a verdade" parte de mim diz tentando aceitar tudo aquilo, enquanto outra dizia "Abre os olhos, isso aqui é uma loucura, não pode ser real" é talvez eu ainda estivesse em uma leve negação, pois afinal aquilo era realmente estranho. Mas não são apenas esses dois pensamento "Ela está mentindo, te manipulando, não percebe que ela está tentando tirar vantagem de você?" repetia meu lado paranoico que queria fugir e não confiar em ninguém.

Quem me dera fossem apenas esses três pensamentos que passassem em minha cabeça, que eu realmente estava confusa.

- Eu não consegui me comunicar com meus pais, nem ao menos acha-los de alguma forma - contei a Yasmin, mesmo ela já sabendo disso pelo fato de que esteve presente no momento que ocorreu. Embora dizer aquilo fosse algo teoricamente inútil, já que ela já possuía a informação, foi importante pra mim, dizer em voz alta me deu forças para acreditar que isso é real.

- É.

O silêncio inundou o local novamente. Era interessante o fato de que a maioria das nossas conversas era apenas o silêncio. Me perguntava se com o tempo isso mudaria e nos comunicaríamos com mais naturalidade, isso é se tudo isso durasse tempo suficiente.

- O que você lembra de antes de te encontrarmos? - Era a primeira vez que ela iniciava um assunto por conta própria, seria isso um avanço?

Respondi a pergunta dela contando toda a história do que tinha acontecido, mas omiti a parte de que ainda estava com a pedra, pois era uma coisa que eu preferia descobrir sozinha.

- As coisas ficaram bem mais confusas agora... - afirmou séria e concentrada.

- Você acredita em mim? - não parece possível de achar que minha história é verdade, é basicamente uma sequencia de sucessivos eventos impossíveis.

- Acredito - depois que ela disse isso minha cara de confusa deve ter denunciado minha confusão, fazendo com que ela adicionasse em seguida - Eu tenho meus motivos pra acreditar.

- Mas o que faremos agora? Será que eu vou conseguir voltar para casa?

- Talvez você consiga, mas não é nada que conseguiremos agora, tanta coisa aconteceu com você nesses dois dias, me surpreendo que esteja tão sã. Eu provavelmente estaria bem pior que você.

- Você só acha isso porque não sabe tudo que passa na minha cabeça.

- Podemos fazer algo divertido, como dar uma volta, você precisa relaxar.

- Tá... Vamos.

Yasmim segurou minha mão e foi me guiando até algum lugar, saimos da casa, e depois de alguns quarteirões vi um grupo de pessoas reunidas em uma praça. Quando chegamos mais perto consegui ver que havia um grupo se aprensentando, não sabia ao certo o quê, mas algumas pessoas pareciam entretidas ao assisti-los.

- Eles fazem algumas atuações armadoras de comédia, são estudantes que não tem mais o que fazer na vida, e o humor deles até que faz sucesso aqui no bairro. - a morena de explicou

- Que legal! - exclamei ao obsevar a situação, havia um chapéu onde pude ver alguns trocados dentro, e eles pareciam estar se divertindo enquanto aprensentavam para o pequeno público, aparentavam ter por volta dos seus desesseis anos.

Yasmin me levou até um canto, no qual sentamos e assistimos o simples espetáculo, rimos com as piadas, algumas com graça, e outras com um humor tão ruim que as tornava engraçadas. Em alguns momentos cheguei a esquecer que eu tinha regredido para os 11 anos, ou que eu nem estava em meu país. Foi bom esvaziar a cabeça por um tempo. Mas quando a manhã estava acabando, o show acabou, e eles guadaram as coisas, e nós tivemos que ir.

Quando caminhavamos calmamente até o orfanato lembravamos de momentos da peça e riamos deles. Até que em certo momento virei para Yasmin e anunciei algo como:

- O último a chegar é a mulher do padre!

Eu corri, e alguns segundos ela também. Há um tempo eu não fazia isso, não era como se alguma das minhas amigas fosse correr também. De certa forma fiquei muito feliz com isso, uma das coisas que eu amava fazer quando era menor era me divertir com essas pequenas coisas, não importando todo o resto.

Logo comecei a cansar "maldita eu sedentária de onze anos!", mas vi que Yasmin ia me ultrapassar, então tirei um folego do além e acelerei, mas não imaginava que ela faria o mesmo. Quando chegamos na casa colocamos a mão na porta quase ao mesmo tempo, porém obviamente eu tinha tocado primeiro.

- Eu venci - ri de forma debochada - pelo visto você vai casar com o padre.

- Você não venceu! Podemos ver claramente qur eu toquei antes - ela retrucou com uma risadinha - a não ser que você seja cega.

- Para sua informação eu não sou a única com miopia aqui! - não aguentei e ri alto, dei um passo para trás, e acabei tropeçando, quase caindo se costas, por sorte lá tinha uma caixa de correios, na qual eu me seguerei, porém nesse movimento algumas cartas cairam.

- Você 'ta bem? - Yasmin perguntou, indo me ajudar, mesmo não precisando - Pelo visto você gosta mesmo de cair.

- E pelo visto eu derrubei essas cartas, pode me ajudar a pegar?

Ela nem me respodeu, apenas abaixou e começou a pegar as cartas, e eu logo em seguida fiz o mesmo. Ela pegou uma carta, e ficou imobilizada quando viu uma carta, olhei mais perto e vi que ela possuia um selo, com um "H". Vi ao lado que tinha outra carta com o mesmo selo, olhei para Yasmin com uma cara de quem quer respostas.

- Eu tenho que te contar uma coisa.

Loucuras Da Minha MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora