━━━━━━━━━━ ☓ ━━━━━━━━━━
Peter Turner tinha o péssimo hábito de atrair problemas. Era difícil ignorar um cara de quase dois metros perambulando para todos os lados de cara amarrada. Sua aparência causava medo na maioria das pessoas, e os boatos que circulavam ao redor dele apenas faziam com que todos mantivessem uma longa distância de si. Os longos cabelos negros caindo sobre os ombros, conjunto aos olhos azuis opacos e quase sempre com um pirulito preso entre os lábios lhe davam o ar de 'perigo eminente'. De fato, Peter tinha alguns parafusos soltos, mas isso não o fazia perigoso, excerto se o irritassem profundamente.
No outro extremo, temos Charlie Murdock, uma garota com sérias dificuldades de controlar sua raiva. Charlie nunca foi boa em fazer amizades, pois a sua fama de valentona se estendeu do jardim de infância até a faculdade. Os motivos para que isso acontecesse foram que Charlie não baixava a cabeça para ninguém. Detestava que a humilhassem e fizessem pouco caso de si, e odiava ainda mais quando faziam isso com outras pessoas. Em outras palavras, Charlie não suportava bullying.
Enquanto as pessoas se afastavam de Peter por o acharem perigoso, Charlie colocou propositalmente um letreiro acima de sua cabeça com letras garrafais em rosa neon dizendo: 'SE AFASTE'. Fora isso, os dois não tinham nada em comum, mas por algum motivo, suas vidas se encontraram.
Peter tinha um jeito diferente de encarar as coisas, quase sempre sarcástico e despreocupado, não dava muita atenção ao que acontecia ao seu redor. Talvez por isso, Jason Barnes, atleta e com apenas massa muscular nos braços, achou que Peter estava olhando para a bunda de sua namorada. Peter era distraído, provavelmente estava pensando no cardápio do refeitório, e não na bunda de Audrey, como Jason achava. Mas, como todo popular musculoso, mesmo que Peter tivesse explicado, ele não iria escutar. Então, por esse motivo, ele havia chamado seus amigos para surrar Peter atrás das arquibancadas.
Mesmo que Peter tivesse uma fama de ser alguém perigoso, Jason não se importava, queria impressionar seus amigos com o título do cara que espancou Peter Turner. Só que como ele galinha demais para ir sozinho, chamou reforços. E a situação realmente não estava nada boa para Peter. Os socos de Jason haviam o acertado em cheio, seus amigos haviam o segurado firmemente o impedindo de revidar. Peter não queria revidar, não achava que havia motivo suficiente para gastar suas energias em algo que não fosse basquete.
Mas aos olhos dos outros, ele era apenas um fracote alto e medroso. As risadas de Jason e seus amigos após vários cuspes de sangue no chão dados por Peter, irritavam os ouvidos do mais alto. Xingamentos e mais chutes foram contra ele. Eles estavam pegando pesado, se Peter desmaiasse ali mesmo provavelmente fugiriam sem prestar socorros.
Peter sabia que muitas pessoas deveriam saber o que estava acontecendo, e o quão horríveis e ridículos eles estavam sendo com ele. Mas ninguém parecia se importar, excerto uma pessoa. Antes que Peter pudesse fechar seus olhos e se render as suas dores, ouviu um grito abafado, seguido do som de um corpo se chocando contra o solo.
– Porque não lutam mano a mano, bastardos?! – E bem ali na sua frente, pode enxergar um ser de estrutura mediana e cabelos cacheados revoltos cortados na altura dos olhos. Com um taco de baseball, ela havia acertado Jason em cheio, provavelmente ele não lembraria seu próprio nome por um bom tempo.
– Vadia louca! – Soltando Peter bruscamente contra o concreto, um deles se dirigiu ao corpo de Jason desacordado para tentar reanima-lo, enquanto os outros dois foram em direção da garota. Pela primeira vez naquela noite, Peter pensou em se levantar e reagir, mas o que viu e ouviu o surpreendeu. Incrédulo, encarou-a se defender dos outros dois com maestria. Ela sabia bem o que estava fazendo, e balançando seu taco, não demorou muito para que os dois estivessem no chão gemendo de dor por terem alguns ossos quebrados.
– Levantem porra! É a Murdock! – Machucados e mancando, os amigos de Jason o carregaram e correram para longe como ratos. Se esquecendo completamente da existência de Peter.
Peter pôde escutá-la vociferar mais alguns palavrões contra Jason e seus amigos, logo o som de sua gargalhada se fez presente no local. Caminhando até ele, estendeu sua destra, enquanto na esquerda segurava seu taco parcialmente ensanguentado contra o ombro.
– Você levou uma bela surra, poste. Vem, vou te levar para a enfermaria... – Peter encarou a mão dela por alguns segundos, e pensou em sua proposta. Peter não esperava que fosse salvo, e muito menos que fosse por uma garota. Mas, em seu âmago, algo dizia que deveria segui-la. E assim fez, ao rodear sua mão sobre a dela, Charlie o puxou com força para se reerguer, o surpreendendo mais uma vez.
– Estou vendo que consegue andar, isso é bom. Vamos não tenho muito tempo – O puxando pelo pulso, Charlie passeou com ele pelo campus. Quem os visse agora, acharia que tinham acabado de sair de uma briga de gangues. Estariam quase certos.
– A propósito, me chamo Charlie Murdock. – Disse, sem se virar para encará-lo. O nome dela parecia familiar para Peter, mas não se lembrava da onde a conhecia.
– Peter Turner – Respondeu em voz baixa. Ouviu uma risada de Charlie, e deduziu que ela pudesse saber quem ele era, e que logo se afastaria dele.
– Peter não combina com você, definitivamente – Peter não sabia o que pensar em relação a Charlie ou aquela reação. Com toda certeza ela arranjaria problemas por sair por ai batendo em estudantes com um taco de baseball, mas ela sequer havia tocado no assunto. E parecia rir da situação toda, e isso deixava Peter confuso. Ele a seguiu silenciosamente e escutou todas as suas piadas durante o caminho, talvez ela estivesse tentando distraí-lo, e Peter sorriu de lado com a ideia.
Quando chegaram a enfermaria, e encontraram os dois naquele estado, levaram um esporro de quase duas horas. Charlie havia machucado a boca e as mãos durante a briga, e Peter parecia que tinha um rosto novo. Até mesmo o diretor da faculdade fora chamado, e pareceu se irritar ainda mais ao saber que Charlie estava envolvida. Pelo que Peter escutou em meio aos gritos, Charlie já tinha uma ficha problemática, mas encarava tudo como se fosse a coisa mais normal do mundo, culpando o seu temperamento forte.
De um lado os diretores do campus discutiam com Charlie a respeito das regras, do outro as enfermeiras achando um absurdo uma garota se comportar daquela maneira, e bem no meio do caos, estava Peter enfaixado quase que da cabeça aos pés, fedendo a pomada medicinal de menta. Talvez, naquele momento, Peter sorriu genuinamente, como a anos não fazia.
(....)
Peter e Charlie haviam sido sentenciados a três meses de serviço comunitário pelo campus, e Jason e seus amigos a cinco, pois fora provado que Charlie apenas se envolveu para defender Peter, que estava sendo injustamente surrado. Não demorou muito para que os boatos mais mirabolantes possíveis se espalhassem pelo campus. Desde que Peter havia feito Charlie de refém e surrado Jason e outros por prazer, a de que ele havia contratado Charlie para fazer o serviço sujo para ele. A imaginação das pessoas é realmente algo espantoso. Mas o único boato que parecia verdadeiro, era que Peter havia ficado obsessivo por Charlie. De fato, era verdade, pois desde que Charlie o salvou, Peter a seguiu para todos os lados, literalmente.
Charlie não entendia o súbito interesse de Peter em si, talvez fosse algum tipo de forma de agradecer, mas era irritante demais ter um gigante a seguindo por ai. Se fosse apenas por segui-la, Charlie não teria se sentido tão desconfortável. Mas porque ela havia descoberto um lado de Peter que poucos conheciam.
– Essa camiseta realça os seus peitos. Eu gostei. – O lado pervertido sem filtros. Peter não parecia ligar quando Charlie o xingava ou o socava por isso. Aos olhos de Charlie ele era um incômodo ambulante. Mas aos olhos dos outros, e talvez de Peter, eles haviam se tornado um casal.
━━━━━━━━━━ ☓ ━━━━━━━━━━
VOCÊ ESTÁ LENDO
Gancho de Esquerda
Romance❝Charlie Murdock e Peter Turner não tinham nada em comum. Excerto o péssimo hábito de se meterem em problemas, os dois eram de mundos opostos. Enquanto Peter era pacífico demais e dificilmente se metia em lutas corporais, Charlie já tinha distendido...