ᴅᴀʏᴅʀᴇᴀᴍs

2. ɗᥱᥲr rᥱd ᥣιρs

depois que tu foi.
minha casa ficou com esse teu cheiro de chiclete, cigarro e vinho.
os maços de cigarros amassados sobre a mesa, o sofá bagunçado ainda com resquícios de nós alí.
na cozinha, todas as garrafas dos vinhos em cima da pia uma ou outra quebrada e outras viradas, amanhã eu vejo isso. o carro do lixo passa às 10.
você veio como quem não queria nada.
estou indo. comprei vinho e o cigarro que você gosta.
você não demorou muito, chegou.
as 11h de um outro dia, quinta feira, você chegou. estava com sua melhor roupa, foi a primeira melhor coisa que eu vi em dias. entrou, e tinha um cigarro meio aos teus lábios. o batom vermelho em sua boca era destaque.
sentou no meu sofá, conversamos até de madrugada e logo o vermelho vivido do batom já não tinha mais em tua boca, a tua melhor roupa também já não estava alí, estava no chão, junto das minhas. cada curvatura do seu corpo eram longos labirintos dos quais eu já sabia de cor.
passamos uma madrugada inteira alí. a hora passou, e eu não vi.
o dia escureceu.
e clareou novamente, e eu não vi. eu estava ocupada demais ouvindo da sua faculdade nova e como você está finalmente feliz por ter se encontrado em algo tão você, depois de anos.
estava ocupada demais, dando as melhores risadas que eu jamais tinha tido tão sinceras, durante muito tempo.
por que com você nunca foi só foda.

você deitou no meu peito, acendeu um cigarro, olhou pra mim, e o castanho dos teus olhos estava vívido e intenso, meu mundo poderia girar em torno desses olhos.
deu seu melhor sorriso, beijou meu ombro e levantou-se, vestiu-se e retocou o batom, deu um último trago no cigarro, me deu um último beijo e foi embora.

porquê, nós não fomos feitas pra ficar juntas. nós aparecemos em tempos difíceis de lidar. rimos. conversamos e sempre acabamos no sofá, e sem roupa.

porquê sempre vão ser as melhores risadas, as melhores conversas e a melhor foda.