Capítulo 6

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11 de julho de 2008


       O elevador fez sua lenta descida até o andar proibido, o tremor em minhas pernas alertavam meu corpo que eu deveria voltar e arrumar minhas coisas, o prédio estava prestes a cair e ali estava eu, no lugar onde eu não deveria estar pelo simples fato de minha curiosidade me impedir de agir racionalmente.

Um ruído metálico e o solavanco do elevador foram o melhor indicativo: você chegou ao seu destino, não há como voltar. As portas duplas se abriram e me deram o vislumbre de um corredor, idêntico aos corredores da área azul, a diferença que mal iluminado, havia apenas uma lâmpada e esta oscilava, reproduzindo uma melodia eletrizante e danificada.

A vontade de recuar e abortar a missão era grande, mas o conhecimento de que havia pessoas ali que estavam por fora do estado caótico do prédio foi o combustível que me fez respirar fundo, esquecer as informações de Maria sobre aquele lugar e dar mais um passo à frente.

Nenhum alarme soou, lazers não foram disparados e nenhum agente da S.W.A.T tentou me impedir. Nenhum barulho foi feito além da lâmpada prestes a ceder e parar de brilhar e as batidas descompassadas de meu coração.

Caminhei pelo corredor com pressa, me questionando que tipo de pessoa aceitaria se hospedar naquela parte do hotel e por que o dono permitiria que o lugar estivesse daquele jeito, esquecido.

Um cheiro forte atingiu meus sentidos e me fez cobrir o nariz e a boca, havia uma fileira de duas portas na parede à minha esquerda e outra porta à minha frente, a uns dez passos, marcando o fim do corredor.

Fui a primeira porta, que abriu com facilidade, e entrei. Ela estava vazia, literalmente. Os quartos mais simples do hotel possuíam uma cama de casal, uma cômoda e um banheiro. Aquele não tinha nada, nada além de um amontoado de caixas com livros de capa dura saltando para fora. A luz fraca que entrava no quarto me permitiu ver que os livros eram sobre psicologia, e o nome da autora, destacado em letras brancas e garrafais, me deu tontura, Lídia Rover.

Afastei-me e segui para o outro quarto, que estava no mesmo estado do outro: vazio, com várias caixas e um solitário computador, na verdade, as peças do que um dia fora um computador largadas ao chão, ali o cheiro tornava-se ainda mais forte e inebriante e metálico. Conheço esse cheiro. Mas ali a luz entrava com maior dificuldade e não pude definir a origem do odor.

Segui até o fim do corredor acompanhada do desapontamento. O andar proibido deveria ter coisas legais como barras de ouro e joias, não um monte de caixas e livros chatos. A última porta, olhando mais de perto, era de uma madeira clara e estava protegida por um portão de ferro, eu podia desistir e voltar para o saguão, porém o portão aberto era um convite tão impossível de se negar quanto passar uma semana no melhor hotel no mundo.

Toquei a madeira gélida da porta e o gesto a fez se abrir lentamente, reproduzindo um som semelhante a risada de uma bruxa. Vazio assim como os demais com a única diferença de haver uma abajur sobre uma mesa que iluminava um porta-retratos.

Eu iria embora e fingiria que nunca havia estado ali e levaria comigo, pelo resto de minha existência, a sabedoria de que os adultos são bons fazendo suspense com coisas nada interessante, no entanto, a fotografia me obrigou a continuar estática e pasma.

A imagem mostrava uma mulher negra, com lindos cabelos longos e cacheados e um sorriso invejável, ela abraçava um homem loiro e igualmente bonito, que a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. A foto de um casal apaixonado não deveria me chamar tanta atenção, contudo, o mais surreal era que a mulher da foto parecia muito comigo.

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