e joelhos ralados.

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Tanjirou Kamado nunca teve uma boa memória, então não é surpresa nenhuma que ele não consiga se lembrar das coisas que aprendeu quando era pequeno. No entanto, uma conversa em específico nunca se soltou do seu subconsciente.

Anjos da guarda.

Quando Tanjirou tinha algo entre 6 ou 7 anos, ele subiu numa árvore pra pegar goiabas pra sua irmã mais nova, um galho em falso o enviou direto para o chão e além das goiabas, ele conseguiu um torção no tornozelo e um par de machas roxas nos braços e pernas. Sua mãe, depois de quase meia hora reclamando sobre sua irresponsabilidade, o aconselhou a nunca mais repetir a ação, pois não era sempre que seu anjo da guarda estaria pronto para protegê-lo.

Na época, Tanjirou cruzou os braços e se deixou resmungar sobre a dor na perna, não dando um segundo pensamento para o assunto. O problema é que com o passar dos anos, isso era tudo que as pessoas ao seu redor podiam falar; sobre como era empolgante conversar com seus anjos, como eles quase nunca se machucavam e se sentiam queridos por terem alguém sempre lá para pegá-los.

Tanjirou não estava com inveja. Pelo menos no começo, ele não estava. Para ele, apesar do conceito ser muito legal, era impossível, não é? Não que ele não acreditasse em Deus e anjos, mas a ideia de um anjo o seguindo por aí, simplesmente não se encaixava.

E havia o ponto de que se de fato ele tinha um anjo da guarda, onde diabos estava o seu?

Como dito antes, Tanjirou nunca teve uma boa memória. Ele estava sempre perdendo borrachas, esquecendo guarda-chuvas e sua pobre mãe já perdeu a conta de quantos lápis e cadernos teve de comprar para repor os que ele largava por aí. Mas se há uma coisa que Tanjirou se lembra bem, é que desde que se entende por gente, ele está sempre cheio de machucados. No momento, ele tem um par de ralados nos tendões dos joelhos, um arranhão no cotovelo e um band-aid colado a bochecha, cobrindo o avermelhado de uma batida que deu mais cedo, contra a porta do banheiro.

Suspirando, ele chacoalha o guarda-chuva, dando uma última olhada para as nuvens cinzas soltando gotas grossas do céu.

Será que só eu não tenho um? É o último pensamento que atravessa sua mente antes dele se apressar pra dentro de casa.

Veja bem, Inosuke Hashibira meio que deveria ser um anjo da guarda.

Ele tem tudo o que é necessário pra isso; ele é bonito, tem olhos angelicais, assim como todo seu rosto. Ele tem uma boa voz, na qual faz questão de fazê-la se sobressair nos corais ocasionais dos fins de semana. Ele até usa branco, às vezes.

O problema é que algo deu errado quando Inosuke nasceu. Ele não sabe exatamente o quê ou como, mas de alguma forma, apesar de ter toda a receita para ser um anjo, ele é um demônio.

No começo não fazia diferença nenhuma pra ele. Ele sempre gostou de fazer o que queria, quando queria, na hora que queria, e ele pensava que estava tudo bem, porque ele era uma criança pequena e crianças não pensam demais.

Mas então ele percebeu o modo como as pessoas olham pra ele e as brincadeiras que Inosuke gostava de pregar nas pessoas ao seu redor por diversão, passaram a ser uma forma de tentar aliviar o aperto que passou a crescer no peito cada vez que ouvia um sussurro maldoso.

Então é claro que quando Makomo, uma arcanjo¹ superior lhe passou a tarefa de monitorar um humano, ele teve que bater o pé.

Sabito resmunga alguma coisa emburrado, cruzando os braços, enquanto olha Inosuke sob o cílio longo.

— Por que eu tenho que ficar de olho nesse idiota?

Makomo sussura um: Linguagem. — Ao mesmo tempo que Inosuke exclama: — Idiota é você, Rabito.

era sobre anjos, demônios...Onde histórias criam vida. Descubra agora