Jennie é uma trouxa.

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Na primeira vez que te vi, estávamos no salão comunal, lembra, Lisa?

Antes mesmo de nosso nome ser chamado para a escolha da casa, já havíamos nos tornado grandes amigas, e prometemos que, independente do que acontecesse, nunca iríamos nos separar.

— Kim Jennie! — Me chamaram.

Andei à frente, subindo ao palco e me sentando no banco presente nele. Estava nervosa, e não tinha ideia de qual casa seria a minha, porém, tentei me manter calma.

O chapéu seletor foi posto em minha cabeça, e fechei os olhos com ansiedade pela resposta — que logo veio:

— Sonserina! — Exclamou o chapéu, fazendo a mesa da casa citada vibrar em alegria.

O chapéu foi retirado e andei até a mesa de minha casa, cumprimentando algumas pessoas e me sentando junto à elas.

— Lalisa Manoban! — Chamaram.

Você foi à frente e direcionei rapidamente o olhar ao palco, vendo-a se sentar e o chapéu ser posto em sua cabeça.

Pude perceber que estava tão nervosa quanto eu, que também não tinha ideia de qual seria sua casa; soltei um riso por conta disso.

Estava sorrindo, ansiosa com a resposta tanto quanto você. Porém, meu sorriso se quebrou em vários pedaços quando pôde se ouvir:

— Grifinória!

Sua casa vibrou em alegria também, e eu vi que você também ficou extremamente feliz; enquanto isso, eu estava travada com a resposta.

Respirei fundo e tentei não me abalar, oras, não é porque seríamos de casas rivais que isso influenciaria em nossa amizade, certo?

Errado.

As aulas começaram, e nosso horário era o mesmo por estarmos no mesmo ano.

Você era muito boa em feitiços, enquanto eu era mil vezes melhor em herbologia.

Passávamos o dia inteiro juntas, rindo, brincando, comendo e estudando.

E conforme os dias passavam, eu ia descobrindo que o sentimento que nutria por você não era uma simples consideração, um simples afeto.

Era amor.

Eu estava apaixonada por você, Lisa.

Eu estava metida numa paixão fodida por você, e isso me desestruturou totalmente.

Contei à minha colega de dormitório, Bae Joohyun, do porquê eu estar tão boba esses dias e porque eu parecia mais uma lufana do que sonserina.

Ela riu, gargalhou.

Apontou o dedo na minha cara e disse:

— Trouxa!

Após conseguir parar de rir, ficou séria e disse num tom que amedrontaria qualquer um:

— Você é sonserina, Jennie. Você não deve, você não pode, ficar com uma grifinoriana.

— Mas... — Tentei argumentar e fui interrompida por ela, que apontou sua varinha ao meu rosto.

— Se você sonhar, se você pensar em ter algo com aquela grifinoriana, estará se virando contra sua casa.

— Não é assim!

— É claro que é! — Aproximou ainda mais sua varinha ao meu rosto — Se você ousar tentar algo com ela, não ousarei em contar à Sonserina inteira que você é uma traidora. E aí sim, teremos motivos pra ser reconhecidos como “os vilões de Hogwarts”, ouviu?

Além de ter me ameaçado, ela mentiu.

Na manhã seguinte, a Sonserina inteira estava contra mim.

Ninguém me olhava, ninguém se aproximava de mim, ninguém queria estar no mesmo ambiente junto a mim.

Lisa me perguntou o porquê da minha tristeza, o porquê de eu estar tão sozinha.

— Sono. — Respondi, e a boba acreditou.

De noite, ao voltar para o dormitório, tive que aguentar o olhar de julgamento e repugnância de Joohyun sobre mim até ela dormir.

E com ela adormecida, me permiti chorar.

Chorar.

A noite toda.

Em todos os outros dias do ano, eu fui descriminada. A Sonserina não me tratava mais como um membro da família, e eu me perguntava por que que eu ainda estava nessa casa.

Eu concordo que sempre fui uma garota ambiciosa e determinada, isso era o que me tornava uma sonserina. Porém, depois de um tempo, minha ambição começou a sumir.

Eu não tinha mais ânimo para nada, e não aguentava olhar para o rosto de Lisa.

Eu me afastei.

De tudo.

E tive infelizmente o privilégio de ver Lisa fazer uma nova amiga, uma muito melhor do que eu por acaso.

Park Chaeyoung, Grifinória.

Ao fim do ano escolar, me recusei a participar do banquete, eu não iria ficar numa mesa onde todos me odiavam, não iria ficar observando a minha paixão dando bola para outra garota, não iria ficar lá fingindo que estava tudo bem comigo.

Assim que todos se reuniram no salão comunal, eu estava no meu quarto, parada em frente ao meu espelho e pensando muito bem no que faria.

Eu não via luz no fim do túnel, eu não sabia como lidar com tudo isso e me recusava a pedir ajuda pra alguém.

Eu, como uma excelente aluna de herbologia, cheguei a decisão mais triste da minha vida toda:

O amor é uma flor roxa...

Que nasce no coração do trouxa.

E eu sou uma trouxa.

Comecei a chorar, porém abri um sorriso.

Lisa não merece alguém como eu, a minha casa não merece alguém como eu, Hogwarts, o mundo não merece alguém como eu.

Com lágrimas escorrendo e um sorriso no rosto, apontei a varinha para mim mesma e olhando para o espelho, executei o movimento da varinha, pronunciando perfeitamente:

— Avada Kedavra.

O amor é uma flor roxa...Onde histórias criam vida. Descubra agora