Era um dia tranquilo de dezembro, céu azul, nuvens, calor de verão, mas não ao ponto de incomodar.
Não conseguia imaginar o que iria acontecer naquela tarde, que seria a última vez em que o sol brilharia, o último dia quente, o último verão existente.Por volta das 4 da tarde, o sol começou a escurecer "Talvez por ser verão esteja escurecendo mais cedo" foi o que pensei, mas ao mesmo tempo que escurecia, o clima esfriava, o céu estava ficando cada vez mais escuro, a lua não apareceu aquela noite.
Não era incomum olhar para o céu e não enxergar as estrelas ou a lua, mas naquele momento tive um pressentimento horrível por não ver nenhum tipo de brilho no céu.O dia seguinte continuava escuro, pensei que talvez eu tivesse acordado na madrugada, me levantei e fui até meu celular, o liguei e vi o horário, 10:37 da manhã, achei que estava errado e fui até a TV para descobrir o horário, era o mesmo que vi em meu celular.
Troquei para vários canais para ver o noticiário e me surpreendi em ver que todos estavam falando sobre o ocorrido, afirmavam que o sol havia perdido sua energia e não voltaria a brilhar.
Lembro de ficar com a sensação de desespero total, como se eu fosse perder a cabeça, meu peito doía pela crise de pânico que me atacou no momento "Como assim o sol não voltará a brilhar?" foi o que resmunguei sem saber como reagir a toda essa situação.
A recomendação era ficar em casa e esperar até os governos absorverem toda a situação que nos encontrávamos.O céu estava totalmente escuro, apenas se via o vasto vazio do espaço e pequenos pontos que pareciam estrelas podiam ser vistos, mas estranhamente caíam em direção a Terra.
O frio começava a se tornar presente no país, em pleno o verão que sempre ficava entre 29° ou 35° graus, agora estava com seus 20° graus e descendo ao longo das horas.Lembro-me de ligar para minha mãe que morava em uma cidade tão no interior que minha memória nem fez questão de decorar, se eu soubesse como seriam as coisas, teria decorado para visita-la enquanto tinha tempo, me lembro que perguntei como ela e papai estavam, recebi uma resposta positiva e senti um pequeno alívio, mas ainda assim minha preocupação estava presente.
Assim que terminei a ligação, sai para caminhar, como estava fazendo todos os dias. Em certa parte da caminhada estava tudo até que tranquilo, mas um pouco mais afastado das avenidas as pessoas estavam assustadas, se refugiaram em suas casas e afastaram qualquer um que se aproximasse, usando porretes, pedaços de madeira, facas e alguns até mostravam armas de fogo com intuito de intimidar e expulsar possíveis ameaças.
Me recordo de ter acelerado o passo e ido em direção a uma padaria, querendo tomar um café da manhã e conversar, eu queria me distrair de tudo que estava acontecendo.
Enquanto caminhava até lá, vi mais pontos brilhantes caindo em direção ao chão, até ver um cair bem perto da prefeitura.
Ainda que não fosse uma atitude inteligente, decidi ir até lá e ver o que era aquilo... Ver aquilo me trouxe o maior arrependimento da vida, era como se minha sanidade tivesse se esgotado e eu estivesse alucinando, era como algo oval com cerca de um metro e meio de altura, de cor cinza e textura de rocha que emanava um brilho aparentemente esverdeado. Aquela coisa começou a rachar, se partir aos poucos como um ovo, vi a silhueta de algo, era alta, curvada, aparentemente bípede, braços largos e longos, também emanava o brilho esverdeado, porém era uma luz bem mais fraca.A coisa dava alguns passos tortos e aparentemente respirava com dificuldade, como se estivesse se esforçando para puxar o ar, era uma respiração pesada e cansada, começou a cair aos poucos e a agonizar, um som estranho, estridente e agonizante foi o que escutei no tempo em que aquela coisa se contorcia.
Fiquei encarando atentamente, observando a criatura imóvel e aparentemente morta, aos poucos me afastei daquilo que havia caído do espaço e fui em direção a minha casa o mais rápido possível.Enquanto andava rapidamente pensava que estranhamente ainda sem a presença do sol, tudo funcionava normalmente, redes elétricas, sinais de rádio, internet e até mesmo a TV transmitia como se fosse mais um dia comum, havia visto alguns vídeos de cientistas dizendo que sem o sol tudo entraria em colapso, mas estávamos vivendo a prova de que erraram.
Chegando a mais ou menos 400 metros de casa, escutei algo acertando uma lata que estava jogada na calçada. Naquele momento, meu coração acelerou como nunca, eu estava com medo de me virar e ver o que poderia estar lá.
Fingi tranquilidade e voltei a andar, tentando acelerar ainda mais meu caminhar. Aquele foi um dos momentos mais tensos de minha vida. Estava a talvez 150 metros de casa, pensei em correr ou virar para trás e assim fiz, me virei e vi aquele ser na luz de um poste, tinha talvez 2,30 de altura, era cinzento, forte, curvado, bípede, tinha uma boca estranha, além de pequenos buracos em seu queixo e pescoço, os olhos eram como o vazio do espaço, apenas uma cor inexplicável era perceptível naqueles buracos onde talvez deveriam ser olhos.
Sem hesitar, corri como nunca havia corrido em minha vida e apenas escutava passos fortes em minhas costas, lutei contra todos meus instintos, mas minha curiosidade foi tanta que me virei e olhei, o ser corria desengonçado, como se fosse a primeira vez, batia os pés tão forte no chão que abria pequenos buracos onde se fixava para não cair. Percebi naquele momento dedos longos, com unhas pontudas enormes que pareciam afiadas como facas, seria muito fácil aquilo rasgar minha pele e fazer um grande estrago.Gritei, gritei e gritei, esvaziando meus pulmões e perdendo toda minha velocidade e pique para fugir, mas felizmente chamei atenção de algumas pessoas que se assustaram com a criatura que me perseguia, ao mesmo tempo que muitos correram para dentro de suas casas, alguns se aproximaram com madeiras e facas, tentaram afastar aquilo de mim enquanto me puxavam para dentro de uma casa, infelizmente um deles teve o pescoço perfurado pelos longos dedos do ser, que o pegou e correu para dentro da mata que tinha ao lado.
Aquele momento, percebi que não estávamos mais sós no universo e isso me aterrorizou totalmente.
A maldita escuridão que envolveu o mundo, trouxe consigo verdadeiros demônios.
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O Sol já não brilha mais
HorrorEm um dia qualquer de verão, o dia começa a escurecer e eventualmente vem a noite, mas o que parecia ter sido apenas um pôr do sol adiantado, torna o mundo um caos, quando na manhã seguinte, não há luz, apenas a escuridão e o vazio dos céus engolind...