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Nathan faz uma careta para a roupa da professora, me fazendo abaixar até minha mochila para esconder a risada. Ele é um idiota e eu amo isso.

— Será que ela tinha algo mais brega? — Sussurra para mim, quando me recupero.

— Talvez ela tenha achado isso no seu guarda-roupa — sussurro de volta.

— Talvez no da minha mãe — nós dois tentamos abafar a risada, falhando miseravelmente.

— Querem compartilhar conosco o motivo das risadas? — Srta. Hudgens pergunta, suas sobrancelhas tão juntas que parecem uma só. Essa mulher deve ter acumulado mau humor durantes todos seus sessenta anos de vida ou sei lá quantos.

— Nada demais, professora — Nat diz, na maior cara de pau. Assinto.

— Bom, bom — ela nos olha com um desprezo evidente — talvez você devesse agir com mais como um homem, Woodson. Pode passar uma má impressão com esse jeito... exagerado.

É óbvia a intenção dela ao dizer isso. A sala toda está em silêncio e eu me sinto corar de raiva. Ela está insinuando que Nathan é gay para dezenas de adolescentes, que podem muito bem levar o comentário dela como uma validação para ser escroto ou constrangendo indiretamente estudantes LGBTQIA+ que, graças a pessoas como ela, não se sentem confortáveis em se assumirem.

— Pegue-a — sussurro, minha voz quase não saindo.

Um corvo entra na sala com rapidez, indo direto para a professora e atacando seu rosto. Os alunos gritam e uma confusão começa, mas ninguém tenta ajuda-la.

— Karma é uma vadia mesmo — comento, observando o estrago que o pássaro está fazendo.

— Não aja como uma psicopata — Nathan me cutuca, mas não tira os olhos da professora sendo atacada também.

É estranho o quanto situações perturbadoras podem ser quase hipnotizantes. É difícil desviar o olhar. Deve ser algo do ser humano: no fundo, gostamos de coisas ruins.

— Vamos dar o fora aqui — pego minha mochila, puxando Nathan comigo.

Toda minha classe é reunida no refeitório, onde somos dispensados e avisados que a professora já foi encaminhada ao hospital.

Uma parte de mim se sente mal pelo o que eu fiz. Você errou e precisa pagar por isso, a voz de Vivienne ecoa em minha cabeça. Balanço a cabeça, sentindo uma sensação quase paralisante. É como se eu voltasse no tempo.

— Mere? — Nathan me chama — quer ir lá pra casa?

Você errou.

— Ahn... eu — me perco por um instante, me sentindo confusa — vou para minha casa. Preciso resolver umas coisas.

E precisa pagar por isso.

— O negócio do pássaro te afetou, né? — Nat pergunta, se aproximando de mim. Ele parece preocupado. Eu é que deveria estar, considerando aquele show que a megera fez na sala.

Você errou.

— Eu tô bem — desvio o olhar do dele — sério.

E vai pagar.

— Ok — ele diz apenas, respeitando meu espaço. Nos despedimos e eu sigo até a floresta perto da escola, entrando de forma discreta e rápida.

Mando mensagem para Saturn, avisando que estou saindo da escola mais cedo.

— Guie-me até minha casa — ordeno em voz alta, sendo plenamente atendida.

Um vento passa por mim, mostrando a direção. As folhas das árvores apontam para o mesmo lugar, reforçando o caminho.

Tiro os meus tênis, segurando-os. Quando piso nas folhas, terra e grama, é como se elas quisessem aproveitar meu toque. Graças aos céus eu não tenho cócegas nos pés, porque é suave e contínuo o contato com as plantas.

Animais se juntam a mim na caminhada, seguindo meus passos com lealdade. Não posso entende-los como é a comunicação humana, com eles é mais instintivo. Um coelho ao meu lado está com fome. Um cervo está com um incômodo na barriga. Uma ave se gaba de ser a mais rápida.

— Saiam — mando, fazendo os animais se dispersarem. Minha casa pode ser vista há alguns metros. Poderei ir para lá quando acabar aqui, tento me consolar.

Respiro fundo, vendo minhas mãos tremerem. É a segunda vez que faço isso desde a morte de Vivienne.

— Vem aqui, passarinho — chamo, minha voz parece se tornar algo mais. Toda vez que eu falo com os animais, isso acontece. Como se eu fosse uma sereia, atraindo-os para a morte.

Logo, o passarinho mais próximo aparece. Ele pousa nas minhas mãos e eu encaro seus olhos cheios de vida.

— Morra — ordeno.

Me obrigo a observar o passarinho se contorcer na minha frente por um momento, antes de ficar completamente parado. Morto.

Fico de joelhos e com minhas próprias mãos cavo um buraco, no qual coloco o passarinho. Emocionalmente exausta, faço a terra voltar ao lugar apenas um aceno de mão.

— A dívida está paga, Vivienne — digo para o nada — não irei errar novamente.

Eu quase posso ouvir ela dizendo "Infelizmente, você vai. Está no seu sangue amaldiçoado causar o caos".

Assinto, mesmo sabendo que é apenas uma lembrança. Levanto-me, pego meus tênis e vou até em casa, pronta para tomar um banho e tirar um longo cochilo.

 Levanto-me, pego meus tênis e vou até em casa, pronta para tomar um banho e tirar um longo cochilo

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Vivienne, a antiga tutora das garotas, foi uma mulher de caráter questionável. ela sempre quis proteger as garotas, mas nem sempre ela acertava em educa-las de maneira correta. para ela, a eficácia é melhor que o amor. então, para corrigir Mercury (a mais difícil de lidar das três), ela fazia a garota usar seu dom, atrair e matar um animal, assim ela cresceria sabendo que suas ações teriam sempre consequências e, na pior das hipóteses, a morte de alguém inocente. Venus e Saturn sempre tentaram proteger Mercury disso, mas no final do dia, todas elas nutriam um profundo respeito (que se misturava com medo) da tutora e todas recebiam suas próprias punições.

full moon | twilightOnde histórias criam vida. Descubra agora