12 de julho de 2008
A pequena van era apertada e possuía cheiro de novo, na verdade, o automóvel parecia ter acabado de sair da loja. O couro dos bancos não estava gasto, as janelas lustrosas sem nenhuma mancha e o barulho do motor era calmo como uma borboleta.A mulher, que lembrei o nome, Rosângela, entrou no carro apressada e ordenou que o motorista fosse logo, assim, o carro começou a se distanciar do hotel. Ela sentou no meio, entre mim a garotinha, que estava encolhida abraçando o próprio corpo. Eu ainda tentava assimilar o que estava acontecendo e o mais importante, o que aconteceria.
Rosângela respirou fundo diversas vezes ao meu lado, as mãos jogadas sobre o colo tremiam freneticamente em um ritmo constante que ela mal percebia, seus olhos assustados encaravam cada um de nós: eu, a ruivinha, Otávio aos prantos ao lado do motorista, um garoto gorducho de cabelo crespos à minha frente, uma menina de pele tão branca quanto a neve com o rosto colado na janela do carro, a garota que fiz chorar e o irmão dela. Sete crianças. Sete crianças chorando e perguntando o que estava acontecendo, uma mulher que mal sabia acalmar a si mesma e um motorista que apertava o volante com força e mantinha toda a atenção na estrada precária.
Estávamos naquela há algum tempo, chorando, esperneando e buscando respostas. A chuva lá fora continuava, dessa vez mais intensa, fazendo a paisagem parecer um borrão. Eu sabia que ainda era tarde, mas a cor do céu lá fora me levava a crer que era madrugada.
- E os nossos pais? - Otávio perguntou, encarando Rosângela por cima do ombro.
- E as bombas? Disseram que havia bombas! - A pálida garota questionou, a voz podia facilmente ser confundida com um sussurro. Ela estava assustada, assim como todos nós.
- Eles vão nos encontrar em Trevo, não é? - A ruivinha participou do enxame de perguntas.
Não, não vão. Eles vão morrer. Uma voz zombateira disse em minha mente e fez as palavras ficarem presas em minha língua, lutando para se libertar. Consegui me manter calada, mesmo que isso fosse sinônimo de ter a sanidade caindo aos poucos e prestei atenção na discussão que se formava.
- O que significa tudo isso?
- Por que só salvaram a nós?
- Eu quero a minha mãe.
- Eles vão ficar bem, não é?
- Calem a droga da boca! - O motorista esbravejou, freando o carro bruscamente, fazendo todos serem jogados para frente.
Bati a testa no banco da frente e permaneci naquela posição, sentindo a bile subir em forma de vômito. O grito do silêncio recém instalado só não foi mais alto que o som dos parabrisas indo de uma lado para o outro e a chuva meio abafada lá fora.
- Eu não sei o que tudo isso significa. - O motorista cuspiu suas palavras com ira, sem paciência, apenas ressentimento pela covardia de seu ato. Ele estava ali conosco enquanto seus colegas de trabalho estavam no hotel, incertos do que aconteceria. A menininha se aninhou nos braços de Rosângela e a garota da piscina fixou os olhos em mim. Não havia mágoa em seus olhos, apenas a empatia. - Sim, havia bombas lá. A Warrior tem muitos inimigos, pessoas que não gostam da política da empresa ou da fortuna que ela fatura. E só salvamos vocês porque...
- Porque só deu tempo de salvar vocês. - Rosângela concluiu.
O silêncio voltou a reinar. As respostas que recebemos não eram as mais positivas, mas não precisávamos de frases otimistas e fantasiosas, necessitávamos da verdade e a verdade nesse caso era a realidade.
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Se Essa Vida Fosse Minha
Misteri / ThrillerFlorence Campos tinha como objetivo primordial se divertir e aproveitar todas as atrações do novo hotel da Warrior Company, mas um suposto ataque terrorista pode levar seus planos por água abaixo e mudar sua vida para sempre. Sendo forçada a se sepa...