Primeira Noite

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PARTE 1 - A VIAGEM

[MIKAYLA]

O vapor ondulava por todo o banheiro, embaçava o espelho e a janela redonda até escorrerem gotas pelos vidros. Enquanto a água caía sobre mim, eu cantarolava uma música de que gostava, satisfeita por finalmente me encontrar onde estava. A caminho de uma viagem inesquecível. A minha viagem. O sorriso se desdobrava pelos meus lábios sem eu perceber, e eu balançava suavemente com a música.

Logo que saí do banho, vi Caterina revirando minha mala. Ela ainda tinha uma toalha enrolada na cabeça e usava um roupão. Ao ver seu desespero pela roupa ideal, eu ri.

— Acho que você não vai encontrar muita coisa aí, Cat.

— Não é pra mim. É pra você que estou procurando. Vamos combinando!

Ri de novo. Era a cara de Cat.

— Nós já vamos combinando — repliquei, afastando-a da mala. — Conheço você há bastante tempo para saber que vai de preto, assim como eu. Só as roupas são diferentes.

Caterina cruzou os braços à sua frente e fez careta para mim, mas ela sabia que eu estava certa. Éramos bem parecidas. Mesmo que tentássemos nos arrumar diferente uma da outra gostávamos do mesmo estilo, então nunca daria certo.

Curvei-me sobre a minha mala para pegar meu vestido de festa, mas era uma missão impossível encontrá-lo no meio de tantas roupas reviradas por Cat.

— Outra coisa — continuei. — Não mexa mais nas minhas coisas sem pedir. Olha isso, você zoneou tudo!

Cat riu sem a menor vergonha na cara.

— Ai, me desculpe, Mikayla. É que eu nem acredito que estou neste cruzeiro chique dividindo o quarto com a minha melhor amiga. Parece um sonho! — ela bateu palminhas. — Estou super empolgada! E você sabe como fico quando estou empolgada demais.

— É, tenho boas experiências para nunca me esquecer disso.

Rimos juntas, lembrando-nos de bons momentos que passáramos durante o ano. Sim, conhecia Caterina havia apenas um ano, mas era o suficiente para já considerá-la louca. Não que isso atrapalhasse nossa amizade de alguma forma. Mesmo com esse jeitinho todo "elétrico" dela nos déramos bem logo de cara, principalmente ao descobrirmos que nós duas gostávamos de rock.

Puxei meu vestido de estampa de caveiras do fundo da mala e o vesti. Caterina ficou hipnotizada com a peça, apenas analisando o vestido de cima a baixo. Desenrolei a toalha do cabelo para começar a desembaraçá-lo e só então percebi que ela me observava.

— Gostou? — perguntei.

— É lindo. Nunca te vi com esse. Onde conseguiu?

— Bruno me deu.

Bruno, meu namorado de cinco meses, apesar de não curtir nem um pouco meu gosto musical, só me dava roupas nesse estilo. Ele sabia o quanto eu gostava e não se importava de agradar de vez em quando. Nem eu sabia onde arrumava coisas tão bonitas, mas ele me garantia que não eram tão caras.

— Bruno? — perguntou, com uma sobrancelha erguida. — Não acredito que ele te deu uma roupa tão... atrativa. Vai fazer um monte de menino te olhar.

Ah, é. A maior "virtude" do meu querido Bruno era, de longe, o ciúme. E era impressionante a intensidade daquela perseguição. Não me deixava usar um short se ele não estivesse junto. Às vezes isso me tirava do sério, e realmente fora incomum da parte dele me dar um vestido tão bonito e atrativo para seus critérios, sendo que ele nem estaria no cruzeiro para "me vigiar".

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora