Dia 3

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[MIKAYLA]

Mal acabei de acordar e Jack já me mandou colher frutos. Mais uma vez me embrenhei na mata, escalei árvores, caí, me sujei, mas levei-os para a praia. Achei ter pegado o suficiente para nós dois. Achei. Quando Jack foi ver o que eu tinha conseguido, porém, não ficou satisfeito.

— Mikayla, você está com fadiga? Não pode pegar mais? Isso aqui só vai durar até o fim da tarde!

— Por que você não pega, então? Eu que sempre fico suja de terra. Eu que sempre espeto meus pés nos galhos caídos da mata. E sou eu que sempre rasgo minhas roupas para pegar comida para nós dois. Nem preciso dizer que eu cozinho também, não é? O que você faz, Jack?

Eu pego cocos, porque você não consegue escalar pequenas árvores, quanto mais uma palmeira enorme. E eu pego peixes para você ter um pouco de proteína nesse seu corpo fino.

Não sabia o que ele queria dizer com "corpo fino". Eu era alta, mas isso não me impedia de ter quadris largos e coxas grossas. Porém, no calor da discussão, deixei essa passar.

— Grande coisa. Faço mais do que você! Não sobreviveria sem mim.

— Ha-ha! — desdenhou Jack. — Duvido que você conseguiria fazer o que eu faço. Pobre Mikayla, morreria de sede.

— Posso fazer até melhor.

— Vamos testar, então. Se não houvesse cocos no chão, como faria para pegá-los?

Ele me desafiava, mas eu nunca deixaria seu jeito convencido me intimidar. Não mesmo.

Semicerrei os olhos para ele, então dei passadas firmes até o coqueiro mais próximo. Tentei escalá-lo. Como já se pode imaginar, não consegui chegar nem à metade do tronco. Mas eu era muito orgulhosa para desistir tão fácil, orgulhosa o suficiente para tentar de novo, e da segunda vez, caí, de costas na areia. Jack ria de mim, me deixando mais irritada a cada segundo.

— Sabia que não conseguiria — zombou ele quando me pus de pé, enquanto eu sacudia a areia para fora dos meus ombros. Ignorei-o. Jack, então, me puxou pelo pulso para perto do mar. — Será que conseguiria pescar?

Hesitei um pouco. Jack já entrava na água com o galho; ele olhou para mim — ainda parada na orla — e riu novamente.

— O que foi? Está com medo de se molhar? — e soltou mais alguns risinhos para os peixes que nadavam próximos à sua perna. Continuei parada, olhando para os peixes. Jack me fitou, cruzando os braços com ar de triunfo. Não sabia o que fazer, mas não podia dar esse gostinho a ele.

— Me dá esse galho logo! — eu disse irritada, tomando o galho das mãos de Jack ao passar por ele, e entrei no mar de cabeça erguida. Não queria olhar para baixo e trair o que sentia.

Parei na profundidade ideal, respirei fundo e tomei coragem para olhar para baixo. Pequenos peixinhos roçavam meus pés, e alguns beijavam meus tornozelos. Comecei a tremer, mas mesmo assim ergui o galho, pronta para atacar. Mordi o lábio.

Eu consigo! Vamos lá, Mikayla, não seja covarde.

Jack me observava, e parecia estar se divertindo.

— Anda logo, Mikayla. São só peixinhos — disse ele.

Olhei para baixo mais uma vez e senti os peixes me beliscarem. Nadavam ao redor das minhas pernas, roçando suas escamas lisas na minha pele. Suas caudas faziam cócegas. Não, eu não conseguia.

Na mesma hora, soltei o galho e saí correndo da água, aos pulos e gritinhos. Ouvi as calorosas risadas de Jack ao fundo. Logo ele parou de rir e observou uma medrosa Mikayla abraçar as pernas na areia.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora