Capítulo XVI

187 10 0
                                    

No sábado de manhã, Benjamin acordou e, ao pegar o celular, observou-se no reflexo da tela e constatou que possuía enormes olheiras debaixo de seus olhos, elas estavam bem marcadas. Ele não dormira quase nada naquela noite.

Não dormiu por que ficou a madrugada inteira conversando com Germano? Bem... quem dera fosse isso. Ele não dormiu por causa da revelação de sua antiga melhor amiga no dia anterior.

Benjamin ainda não conseguia aceitar aquilo. Não conseguia internalizar o que ela disse e tomar como um fato, como algo que aconteceu. Ele realmente não conseguia acreditar que Lucille mentira para ele durante anos e fingiu ser alguém que ela nunca sequer chegou a realmente ser.

Ele não conseguia acreditar que Anthoniel havia traído ele com a sua melhor amiga; e acreditava muito menos que a sua melhor amiga havia lhe apunhalado pelas costas durante todo esse tempo.

Ele simplesmente não acreditava. Não depois de tudo que Lucille viu ele passar. Não depois de todos os conselhos que a garota havia lhe dado para fazê-lo se sentir melhor. Não depois de todas as noites em claro e em lágrimas que ela ajudou o garoto a superar.

É, com certeza a Lucille inventou aquilo porque estava com raiva de mim, Benjamin tentava se convencer de que tudo aquilo não passava de uma grande e exagerada mentira.

Benjamin ficava cada vez mais triste e desapontado ao relembrar todos os momentos que ele passava com a amiga, jurando para si mesmo de que ela seria a sua melhor amiga para sempre e que nunca conseguiria encontrar alguém melhor que ela. Não imaginava ser tão burro assim. Ele estava cego; cego pela amizade tóxica de Lucille.

O seu humor oscilava a todo o tempo. Ora ficava triste ao perceber que todas as pessoas ao seu redor romperam com a sua confiança, ora ficava com raiva ao lembrar que Lucille, mesmo sabendo que o que ela fez foi muito errado, não contou nada ao amigo e ainda começou a namorar com Anthoniel quando este voltou do seu intercâmbio falho.

Quantos segredos mais Lucille possivelmente esconde de mim? Ou estes seriam os únicos?, era tudo o que Benjamin pensava.

O sentimento que invadia Benjamin naquele momento era o de desconfiança, a sensação de que ninguém mais nesse mundo é confiável, de que não devemos contar com mais ninguém nesse mundo além de nós mesmos. E, então, uma imagem lhe invadiu à mente, a única pessoa em quem ele confiava naquele instante: Germano.

A simples lembrança do sorriso de Germano dava formigamentos e um frio na barriga bom em Benjamin, que sorria bobo quando essas recordações vinham à sua mente. Aquele sorriso fazia os problemas de Benjamin parecerem inexistentes por um momento. Tudo o que importava era aquele sorriso, era Germano.

Três batidas na porta do quarto de Benjamin cessou aquela mistura de pensamentos e sentimentos.

Darton Shon, o pai de Benjamin, entrou no quarto. Ele trajava um terno completamente preto, do pescoço aos pés. Ele tinha a sua postura ereta, o que destacava o seu peito malhado e o seu corpo bem detalhado de academia; apesar de trabalhar em escritório, ele gostava muito de manter o corpo saudável e malhado. Ele possuía uma barba bem feita junto com um um bigode que, somado ao seu cabelo baixo, levemente mais raspado do lado, dava uma virilidade destacável a ele. Ele era pardo, com lábios finos, olhos claros e estatura mediana, nem alto nem baixo.

- Ainda está na cama? - ele disse duramente, ao ver Benjamin debaixo das cobertas - Vamos, estarei lá embaixo lhe esperando. Sairei em dez minutos.

Benjamin deu um pulo da cama quando o pai fechou a porta do quarto. Ele tinha esquecido que naquela manhã ele iria visitar pela milésima vez o escritório do seu pai. Darton insistia que essas visitas se tornassem mais regulares já que, no futuro, Benjamin iria herdar tudo aquilo e para ele seria adequado aprender ao menos o básico da papelada da empresa.

Benjamin e GermanoOnde histórias criam vida. Descubra agora