Dia 18:

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Eu já tinha tido algum tempo pra arrumar minhas coisas.Mesmo que eu não queria.Eu queria lutar,mas apenas estaria evitando o inevitável.Era uma noite de sexta-feira tanto quanto fria,e meu plano era ir me despedir de Safira em seu quarto.Eu já tinha feito ligações e mandado cartas a alguns contatos,eu pretendia ir pro exército.Afinal,não poderia ficar sem emprego.E eu não gostaria de encarar minha família agora,me sentia muito culpada por desperdiçar esse emprego.Mas era isso ou a morte,não só a minha.Eu entrei e seu quarto e ela sorriu,eu estava muito culpada de ter que desfazer aquele lindo sorriso.
-Oi,meu amor.O que você está fazendo aqui esse horário?-
ela se levantou e veio em meu encontro para um abraço-Ei,está tudo bem?
Sua voz já era carregada de preocupação e eu larguei minha mala no chão.Foi aí que ela percebeu que havia uma mala e foi tomando noção da situação.
-Safira,eu sinto muito,mas tenho que partir.
-O que?Porque??????!!
-Por favor,não faça tanto barulho,quero sair discretamente.-eu supliquei.
-Você deve me explicar isso, imediatamente!
-Eu apenas tenho que ir,um dia teria que ir.
Ela sentou no chão,apoiando as costas na parede e eu me ajoelhei em sua frente,tentando fazer com que ela se sentisse amada naquele último momento.
-Aurora,o que você está dizendo?Que absurdo é esse?Eu achei que você nunca ia me abandonar!
-Querida,eu não estou te abandonando.É necessário,para o bem de nós duas.
-O que houve?
-Foi o Josh,ele sabe da gente.
-Você não pode ir embora!
Ela desatou a chorar.
-Como não posso ir embora?Você quer morrer na guilhotina?E quer que eu morra junto?
-Isso parece melhor do que te perder!
Aquelas palavras foram egoístas,e me machucaram.Quem ama não deseja a morte!
-Saf,não diga isso.Eu vou embora mas você sempre vai estar comigo.Sempre vou te lembrar e jamais amarei alguém assim.Mas não posso largar mão da minha vida por capricho.Nossas famílias iriam ficar mal,e a minha,com menos dinheiro ainda.
-E se eu falar com ele?
-Você quer me prender aqui pra sempre?Que eu seja uma criada e te encontre as vezes?Você quer me contentar com pedaços?
-Não.Eu só não quero você longe de mim,por favor.
-Saf,eu não quero desgastar a gente agora.Por favor,podemos ter um último momento nosso?Não adianta lutar contra isso agora.Eu te amo,mas não dá.Sejamos realistas.
-Você está certa.
E ficamos abraçadas ali,encostadas na parede,chorando juntas,sorrindo juntas,alguns últimos beijos. Já estava de saída de seu quarto,quando ela me pediu pra esperar,e disse que tinha algo importante pra me dar,o único presente que ela poderia me entregar,se ela me desse jóias o castelo ia notar falta.
-Mas,eu não tenho nada pra te dar.
-O seu poema e todos nossos momentos já são suficientes pra mim,sou muito grata.
Ela me entregou seu diário,que era cheio de cordas para fechá-lo.Me senti íntima de ter algo tão secreto dela,e iria precisar daquele caderno nos momentos em que a saudade aparecesse.Demos um último abraço e um último beijo,terno e muito sentimental.As lágrimas caiam gordas e quentes em nossas faces,elas eram de tristeza mas também eram de tantas alegrias, incontáveis.Foi dolorido.Largar dela.Nunca largaria por completo,mas já havia largado ela fisicamente.Havia largado seu cheiro,o som da sua voz,seu toque,seu calor ao meu redor.Havia largado as cócegas que seus cabelos negros faziam em meu rosto.

A nova criadaOnde histórias criam vida. Descubra agora