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Estou há, mais ou menos, uma hora mexendo no computador, navegando pelo site da UCLA.

Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Acontece que, logo cedo, recebi uma mensagem de Corbyn que não continha nada além do link de inscrição na mesma.

Eu sei o que ele quis insinuar.

Corbyn sempre foi contra eu continuar com a carreira de modelo, ele diz que é o sonho da minha mãe e não o meu. Entretanto, nos últimos meses ele pareceu ter deixado isso de lado. Acho que só esperou a oportunidade perfeita para tentar me convencer, pela milésima vez, a entrar na universidade.

— Pode entrar. — Digo, concentrada na tela, ao ouvir alguém bater na porta. Sydney entra devagar, com cautela. Ela traz um suco de caixinha em mãos e o coloca ao lado do meu notebook. Miro a bebida e depois a garota

— É de laranja. O seu preferido. — Diz, juntando as mãos na altura do quadril, enquanto me olha nervosa. — Me desculpe por ontem. Eu não tinha pensado em tudo aquilo que você falou, nem a Abby. Ela me pediu pra não vir falar com você por enquanto, mas eu vim mesmo assim. Espero que você possa nos perdoar, ela também sente muito. — Suspiro e assinto, não sou boa em guardar rancor e nem quero ser.

— Tudo bem. — Syd se senta na minha cama e dá uma olhada, de longe, no conteúdo da minha pesquisa no Google.

— Por que você tá olhando o site da UCLA? — Pergunta e eu giro a cadeira, para ficar de frente para a morena.

— Eu nunca contei pra vocês duas, mas quando eu era mais nova eu queria entrar na faculdade e fazer Artes. — Observo minha amiga arregalar os olhos. — Resolvi que modelaria por alguns anos, só pra deixar a minha mãe feliz e depois faria o que eu queria, mas aí... — Não preciso completar a frase, Sydney sabe tudo sobre a morte da minha genitora. — Depois que ela se foi, eu não tive coragem de entrar na universidade. Sinto que preciso fazer o que ela queria, caso contrário, vou me culpar. — Continuo. — Acontece que o Corbyn nunca aceitou tudo isso muito bem, ele nem gostava dela, na real.

— Desculpa falar, Kai, mas eu não acho que ele esteja errado. — Fala. — A sua mãe te obrigava a modelar e fazia da sua vida um inferno, pelo que você diz e também pelo que o Corbyn diz. Quer a minha opinião? — Assinto. — Não deixe ela fazer isso depois de morta também. — Syd se levanta e sai do quarto, ao que me deixa pensando em suas palavras.

O que é o certo a fazer?

Antes que eu possa voltar a navegar pelo site da universidade, recebo uma mensagem de Corbyn dizendo que está me esperando na sala e que tem uma coisa para me dar.

Desço o mais rápido possível, e logo avisto o garoto em pé.

— Parece até que nunca veio aqui. — Me aproximo dele, ao que o mesmo se vira para mim e sorri.

— Antes de eu te entregar o que eu trouxe, prometa que não vai gritar comigo. — Noto que ele está escondendo algo nas costas. Dou de ombros e faço que sim com a cabeça, em seguida observo enquanto ele traz um grande envelope pardo para a frente do corpo e me entrega.

— É isso que eu queria te contar ontem. — Pego o objeto e o abro, sem entendender nada daquilo. Entretanto, ao ler apenas as primeiras linhas, noto que é uma carta de recomendação feita pelo nosso professor de Artes do ensino médio.

— Você me disse que uma das coisas que precisaria pra entrar na universidade seria uma carta dessa e que nenhum dos professores se lembraria de você, então não conseguiria. Bom, esse se lembra. — Termina e eu encaro o papel por alguns segundos, até que o ajeito de volta no envelope e estendo a mão para que meu amigo o pegue.

— Obrigada, mas eu não pretendo mais ingressar na universidade. — Digo friamente, mas o loiro não faz menção de pegar o objeto.

— Kaia... — Tenta argumentar.

— Corbyn, não.

— É a droga do seu sonho! Até quando você vai fazer o que a sua mãe queria? — Diz, quase que em um grito.

— Você precisa aceitar a minha decisão. — Recolho o braço, ao que o encaro sem expressão.

— Eu respeito todas as suas decisões, Kaia. Até as que eu considero mais idiotas, mas essa eu não vou respeitar. — Corbyn fala, ao passo em que me olha incrédulo e passa a mão pelo cabelo

— A resposta continua sendo não. — Cruzo os braços.

— Aquela mulher te maltratava, ela te criou te fazendo achar que você tinha que fazer o que ela queria, pra que ela ficasse feliz e você? Que enfiasse a sua felicidade no...

— Chega! — Grito.

Minha mãe era a pessoa mais fria e calculista que eu já conheci em toda a minha vida, e eu sei que ele está certo em odiá-la, porém, no fim das contas ela ainda era a minha mãe.

O garoto me olha, enquanto estamos ambos em silêncio. Qualquer palavra pode nos quebrar e eu nadei demais para morrer na praia.

— Eu vou pensar a respeito, é o suficiente pra você? — Falo e ele suspira.

— Eu sei que você acha que ninguém entende os seus motivos pra fazer as coisas que faz, mas eu entendo e sinto que preciso te ajudar a ver que ser infeliz não é a coisa certa a fazer, seja pelo bem de quem você julga ser. — Observo o garoto sair pela porta poucos segundos depois.

Respiro fundo e miro o envelope em minhas mãos, em seguida puxo o papel novamente para fora e volto a ler as primeiras linhas.

"Meu nome é professor James Griffin, e eu tenho muito prazer em recomendar a senhorita Kaia Elizabeth Munn para o curso de Artes."  Esse professor era o único que não me fazia querer morrer durante as aulas, mas eu não era muito participativa. Ele elogiava os meus trabalhos e só. Nunca me destaquei. Por que diabos ele lembra de mim?

Me viro e caminho de volta para o meu quarto.

No momento, prefiro derreter ao ser confrontada sobre mais alguma decisão minha.

não sei se vocês pegaram, mas durante os capítulos anteriores eu deixei algumas dicas de como a mãe da kaia era

xoxo

𝒄𝒍𝒊𝒄𝒉𝒆 ↺ corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora