blue blood; tododeku

cuidados;

Todoroki Shouto estava se esquecendo de como era ser um lobo.

Os acontecimentos da noite passada o deixaram tão perturbado que ele mal conseguiu dormir, mal conseguiu pregar os olhos com medo daquele episódio assustador. Izuku não tinha o costume de mentir. Todoroki sabia daquilo porque o conhecia desde criança, mas os últimos dias estavam deixando suas crenças abaladas.

Mentir sobre sua própria sexualidade deveria ser algo comum, e gostos não dizem respeito a ninguém, mas eles eram melhores amigos. E melhores amigos compartilham segredos. Todoroki gostaria de ter descoberto sobre a sexualidade de Izuku e o ajudado a entender, ele gostaria de ter estado mais presente na vida de seu melhor amigo, e olhar para esses acontecimentos o entristeciam de tal modo que fazia com que ele se sentisse falso. Talvez Izuku não se importasse, mas Todoroki sim.

— O relatório.

O lobo levantou a cabeça e fitou sua assistente, que sorria tão radiante quanto os primeiros raios de sol.

— Perdão?

— O relatório que você me pediu mais cedo — Toruu voltou a dizer. Ela pôs uma mecha prateada de seu cabelo atrás da orelha e continuou ali, imóvel. Todoroki pegou o relatório, deixou na mesa e sorriu incomodado.

— Obrigado, pode ir.

Toruu assentiu, mas não se moveu. Sua cauda balançava timidamente e seu sorrisinho fazia Todoroki ter uma sensação ruim. O tipo de sensação que antecipava um acontecimento vergonhoso e traumático que seria relembrado todas as noites antes de dormir.

— Senhor, eu posso tirar uma dúvida?

— Claro.

Ela pôs suas mãos para trás, mexeu as orelhas e corou. Não precisou de nenhuma outra frase para que ele soubesse do que aquele assunto se tratava.

— Nas últimas semanas eu tenho ouvido muitas suposições sobre o senhor, sei que não tenho esse direito de perguntar, mas todos acham que o senhor tem namorado um homem coelho. Isso é verdade, senhor?

Todoroki suspirou e se ajeitou naquela cadeira. As fofocas corriam como cheetahs naquela empresa, não o admirava que todos pensassem que Izuku era o seu amante.

— Não. O tão misterioso coelho que todos falam é apenas o meu melhor amigo — respondeu.

Mas algo em sua resposta lhe incomodava, lhe fazia sentir como um tolo. Desde o beijo forçado ele tem sido mais cuidadoso, não porquê sentia repulsa da sexualidade de Izuku, mas porque estava começando a duvidar da sua própria sexualidade.

Ora, Todoroki Shouto nunca desenvolveu um sentimento amoroso-sexual por alguém, logo não poderia confirmar ser hetero ou gay. Todoroki nunca teve tempo de pensar sobre relacionamentos, uma vez que Izuku ocupava sua mente 24 horas por dia, e era aí que morava o problema. Nenhum outro melhor amigo agia assim.

Ele estava chegando na casa dos trinta, solteiro e totalmente sem esperança. A solidão o assustava, e a ideia de Izuku ir embora também lhe tirava o sono. Todoroki simplesmente não sabia se podia conseguir conciliar mais uma crise caso descobrisse gostar de homens, era muito tarde para descobrir algo novo, era muito tarde para tentar algo novo. Sentimentos nunca foram o seu forte e ele se culpava constantemente por não ter dado devida atenção ao que seu coração falava. Porque agora ele não sabia como explicar a Izuku todos aqueles sentimentos tão confusos, não sabia como dizer a ele que eles se beijaram casualmente no banheiro, não sabia dizer a ele que todas as suposições sobre eles serem namorados já estava passando do limite. Shouto não queria machucar Izuku, não queria ser aquele que destruiu o resto de sua saúde mental.