Prólogo

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Antonella Quatro anos antes... Ilha de Ardócia, Sul da Itália...

 Eu ando até a janela do meu quarto e olho para fora, tentando e falhando esconder meu abalo pela notícia que minha mãe acaba de me dar. Amanhã será o meu aniversário de dezessete anos e Mike não virá. Como? Ele nunca perdeu meus aniversários desde que me entendo por gente. Meu primo sempre esteve aqui. Sempre. Meu coração aperta, esse sentimento louco que comecei a sentir por ele, levando a melhor sobre as minhas emoções. Por que ele não vem? Arrumou outra de suas muitas prostitutas e vai lhe dar atenção em vez de mim? Abraço a mim mesma, sentindo frio em minha pele com tal pensamento. — Por que ele não me ligou? — pergunto com voz chorosa. Estou tão desapontada. Eu não sei como passar um aniversário sem ele. Minha mãe faz um som em sua garganta. — Talvez estivesse prevendo exatamente essa reação, Ella... — sua mão pousa em meu ombro e eu fecho os olhos para controlar a decepção tomando conta de mim. — você está fazendo uma birra, princesa? — ela suspira quando permaneço em silêncio. — vamos, querida, ele está preso em Dubai. Uma tempestade de areia invadiu a cidade e os aeroportos estão fechados, os voos cancelados. — Que droga! — eu resmungo sob a minha respiração. — Ei, controle essa boca, mocinha. — ela me repreende. Mas, seu tom é suave. Seu tom é sempre doce e suave comigo e meus irmãos. — uma princesa não deve falar dessa forma. Eu sorrio baixinho e me viro para ela. Minha mãe é uma mulher muito bonita. Eu me pareço com ela. Sou muito sortuda. Quase o mesmo tom de pele. Cabelo loiro com cachos pesados nas pontas, olhos verdes expressivos e um corpo de modelo. Estou ficando quase da sua altura e isso me deixa envaidecida. Estou virando mulher. Só espero que Mike perceba isso logo. Não aguento mais vê-lo envolvido com suas muitas mulheres. Eu odeio essa parte. Odeio ser dez anos mais jovem. Odeio que ele me veja apenas como sua bonequinha, uma eterna menininha. Ele não vê que cresci? Oh, Dio, como pode não perceber meus seios? Eles estão ganhando cada vez mais forma, cheios, redondos e firmes. E minha bunda? Como é possível que não perceba que meus quadris estão ficando mais amplos e minha bunda mais empinada do que antes? Eu sou uma mulher agora. Por que meu primo não vê isso? Eu suspiro longamente. Está bem, não uma mulher, mulher. Droga. Estou longe de me parecer com as mulheres lindas e glamorosas com quem tenho visto Mike ao longo dos anos. — O que foi? Por que está com essa expressão, meu amor? — minha mãe me tira dos devaneios adolescentes mais uma vez, pronunciando as últimas palavras em Português. Sorrio, abraçandoa. Ela é brasileira, mas falamos essencialmente o Italiano em Ardócia. No entanto, meu pai, meus irmãos e eu aprendemos a sua língua materna por amor e respeito à nossa rainha. — Mãe, posso lhe perguntar uma coisa? — eu sondo, puxando-a para o banco acolchoado abaixo da janela. Ela assente, pegando minhas mãos entre as suas quando nos sentamos. — Qualquer coisa, minha princesa. — meu coração amolece e tenho vontade de me enrolar em seu colo quando me chama assim. Oh, certo. Eu acho que isso me diz que ainda sou uma menininha da mamãe, embora esteja completando dezessete anos. — Como soube que estava apaixonada pelo meu pai? — eu solto de uma vez antes que perca a coragem. Os olhos idênticos aos meus arregalam, seu cenho franze um pouco, então ela sorri suavemente. Seu semblante indica que está viajando para longe, revisitando memórias. — Eu acho que no momento em que meus olhos encontraram os dele, querida. — seu sorriso se torna sonhador, me fazendo sorrir também. — seu pai era um homem tão bonito. — seu tom abaixa um pouco. — ainda é. Sempre será para mim. Eu aceno concordando. Mio papà é mesmo um homem muito bonito. Minha mãe costuma dizer que é o DNA Di Castellani. Eu acho que é mesmo. O museu do palácio está repleto de retratos dos nossos antepassados e os homens Di Castellani são todos indiscutivelmente belos. — Você acha que o amor é sempre assim, nós o sentimos instantaneamente quando encontramos a pessoa certa? — indago. Se o amor é assim, como é possível meus sentimentos por Mike terem mudado? Eu o conheço a minha vida toda. Mamãe sorri e me olha atentamente. Olhos de mãe, vendo que sua filha está crescendo. — Não, princesa. O amor assume diferentes formas. — diz no tom sábio que admiro tanto. — às vezes você o sente imediatamente, mas há outras vezes em que esse sentimento é construído com a convivência entre duas pessoas. Eu sorrio, essa última parte me agradando muitíssimo. É isso. Então, eu não sou uma aberração por amar meu primo da forma que amo agora. Isso foi construído. Minha mãe é simplesmente a melhor. — Grazie,[1] mamãe. — eu agradeço. Ela levanta a mão tocando meu rosto com carinho. — Alguma razão especial para essa pergunta? — sonda-me com seus olhos amorosos. — há algum menino especial que ganhou a atenção da minha princesinha? Um menino? Não. Um homem. O homem mais bonito, mais viril, encantador. Mais... Tudo. Suspiro e sorrio, meneando a cabeça. Não posso partilhar meus sentimentos sobre meu primo com ela. Não agora pelo menos. Todos ainda me veem como uma criança. Ela não entenderia. Ou entenderia? Pergunto-me. Melhor não arriscar, no entanto. — Nenhum menino. — digo e ela sorri sem desconfiar que há, pelo menos uma verdade nessa afirmação. — apenas curiosidade. Ela se inclina e beija suavemente a minha bochecha. — Você está crescendo tão rápido. — seus olhos estão brilhantes de emoção agora. — minha menininha está se transformando em uma mulher. Uma linda e encantadora mulher. Eu a beijo também. Eu não disse que ela é a melhor? — Quando ele disse que chegaria mesmo? — volto ao assunto, meu humor mudando para sombrio. Minha mãe sorri, meneando a cabeça. Há um brilho misterioso em seus olhos. Antes que me responda ouço uma batida na porta do meu quarto. — Entre! — ela diz elevando a voz. Eu franzo as sobrancelhas e quando uma figura alta para na porta que divide a sala de estar e meus aposentos, meus olhos não podem acreditar no que estou vendo. Madonna mia! Ele está aqui! Mas, como? Eu olho minha mãe que está sorrindo amplamente agora e compreendo que ambos me aplicaram uma peça. No entanto, não posso ficar com raiva. Não quando o meu Mike está aqui, um dia antes do meu aniversário para me ver. — Ella? — Mike sussurra, abrindo um sorriso matreiro por ter me enredado. Sua voz é máscula, profunda e faz coisas engraçadas com meu estômago. Meus olhos marejam de emoção, correndo por seu físico robusto. Ele está tão bonito em calças jeans e uma jaqueta de couro preta. Eu amo quando se veste assim, parecendo um bad boy. Como é possível que fique mais bonito a cada vez que o vejo? Ele abre os braços, seu sorriso aumentando. — venha aqui, bonequinha. — Mike! Oh, Dio mio! — eu me levanto, saindo do meu torpor e corro, pulando em seus braços estendidos. Ele me envolve num abraço de urso, levantando meus pés do chão e gira comigo. --Você é tão bobo! — reclamo, mas estou sorrindo, gargalhando, cobrindo seu rosto moreno e bem barbeado de beijos. Ele me coloca em meus pés e beija minha testa. Um beijo casto de primo mais velho, mas não me importo nesse momento. Ele veio. — Você caiu como um patinho, não é? Rolo os olhos, mas o sorriso não sai do meu rosto. Seus braços me deixam e eu quero protestar. O empurro no ombro de brincadeira. — Não teve graça. — faço beicinho. Ouço minha mãe sorrir e me lembro de que não estamos sozinhos. — mãe, como pode me enganar assim? — reclamo. Ela meneia a cabeça e anda até nós. — Desculpe, querida. Mike acabou me convencendo a entrar em sua brincadeira. Ele disse que precisava preparar seu presente antes... Mamãe se justifica. Porém, já esqueci tudo com a mera menção do meu presente. — Meu presente? O que é? — pergunto, não conseguindo manter a euforia longe do meu tom. Mike gargalha, mas aperta os lábios em seguida, se negando a responder minha pergunta. — per favore, Mike. — eu uso meu biquinho que sempre funciona com ele. Minha mãe sorri e me beija na têmpora. — Cuide dessa criança crescida, querido. — ela se inclina e o beija na bochecha também. — Com a minha vida, tia. — Mike diz em tom solene. — Você. — ela aponta para mim. — comportese. Não vá se aproveitar do fato de ser declaradamente a preferida do seu primo. Eu faço uma cara totalmente inocente que nem minha mãe nem Mike compram. Ela nos deixa em seguida. Arrasto meus olhos para ele. Seus olhos escuros estão sobre mim. As borboletas se agitam em meu estômago agora que estamos sozinhos. — Declaradamente a sua preferida? — sorrio, provocando-o. Os olhos negros ficam mais intensos. — Sempre, boneca. — sussurra em sua voz profunda e eu praticamente derreto em uma poça. Nos olhamos por alguns segundos em silêncio. — vá ficar pronta para mim. Tenho planos. — abre um meio sorriso charmoso, matador.

Princesa (P de C livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora