Invitation to hell

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CAPÍTULO 1

Alice pov's
O grande problema de ser atriz é a habilidade nata para o drama, pensei rindo histericamente comigo mesma. Era verdade, embora eu preferia fingir que não. Mas sim, sou a pessoa mais dramática, histérica, ansiosa e afobada que já conheci. E isso se aplica em cada aspecto da minha existência-desde coisas simples (como comer rápido, falar rápido, digitar rápido, chorar rápido) até coisas maiores (como os problemas que não me deixam dormir à noite).
Acho que meu drama se resume, basicamente, viver a vida em ansiedade. De qualquer forma, não tinha como eu duvidar dessa palavra que simplesmente representava minha história.
Ansiedade.
É só analisar a situação atual! Qual é, o convite tinha sido entregue em minha casa há o que? Uns 20 minutos? Menos que isso? Provavelmente menos do que isso! E eu já estava em pânico, com o pequeno papel que parecia ter sido forjado do inferno exatamente para me torturar.
Me joguei em minha cama dramaticamente, enquanto meu cérebro criava milhões de paranóias para mim mesma.
Eu não entendo porque existe o passado. Tem coisas que deveriam ficar ali, intocáveis e esquecidas e, se possível, inexistirem.
Até então, eu fingia que não tinha um passado. Fingia maravilhosamente bem que minha vida mudou quando a garota do interior se mudou para a cidade grande. E isso estava funcionando tão agradavelmente bem! Eu mudei de cidade, de continente. Atravessei o oceano para mudar de vida. Estudei na universidade dos meus sonhos, me formei na profissão que sempre quis exercer, mesmo com os protestos da minha família que alegava que eu passaria fome trabalhando como atriz-ate porque, para eles, arte não é profissão.
Mas eu atuei. Fiz testes, participei de peças, séries, filmes. Fui reconhecida. Fiz outros personagens. E depois outro e mais outro. E depois perdi as contas de quantos personagens já atuei.
As maiorias dos filmes ganharam prêmios e outros estão em cartazes. Não passei fome como minha família praguejou que eu passaria. Muito pelo contrário, na verdade.
Arrumei um excelente namorado, que me pediu em casamento há exatamente três semanas atrás, e que me trata como uma rainha e que jamais me humilharia. E tenho ótimos amigos que me apoiam e realmente se importam comigo. Minha vida é maravilhosa em Londres!
Mas é claro que o destino acha uma forma de te fazer voltar para o passado, onde tudo era um pesadelo. E agora, sinto a sensação de que as merdas que fiz, as pessoas que machuquei, as pessoas que me destruíram, estivessem, através deste convite de casamento em minhas mãos, me avisando, ou me lembrando, de quem sou essencialmente. De que não importa o quão longe eu vá, o quão distante eu chegue, sou a mesma vadia de sempre.
Viu, só? Talento nato para o drama!
Levantei da minha cama e rumei para o meu escritório, enquanto tropeçava na minha própria bagunça.
Abri a gaveta da minha mesa de vidro, enquanto empurrava os milhares de papéis e documentos para o canto, ou os espalhava pelo chão. Vasculhei a gaveta, até conseguir encontrar a caixinha de papel preta e simples.
Em um dos lados da caixinha, estava escrito em vermelho "Feliz aniversário pra pessoa que mais ama aniversários do mundo, marrenta. Mas saiba que sem esse dia, minha vida não teria nenhum sentido. Mais que inimigos, alma gêmea. Sammy Wilk."
Uma lágrima escorreu no canto do meu olho enquanto eu passava os dedos pelo meu coque desarrumado.
Pela primeira vez desde muito tempo, lembrei de uma parte boa do meu passado. Lembrei do meu melhor arco inimigo de infância. Inimigo que eu ainda sentia uma falta destruidora. Embora todas as merdas que fizemos o tivesse afastado da minha vida. Apesar de eu tê-lo afastado da minha vida.
Quem ele era agora? O que ele faz pra viver? Quem ele se tornou como ser humano?
A pior parte, é que em breve eu teria as repostas para essas perguntas. E acredite em mim, independente do quanto eu sinta saudades dele, eu não quero ter essas respostas!
Abri a caixinha cuidadosamente e encontrei a foto que ele me deu de presente ainda ali dentro. A foto de nós todos reunidos. O último verão, acho, antes de nós realmente termos todas as coisas que nos uniam fodidamente de uma vez.
Encarei a imagem. Eu era exatamente como sou hoje; os mesmos cabelos lisos, mas encaracolados nas pontas. Longos e com uma cor de mel. Os mesmos olhos que tendiam sempre ao azul claro, a pele inacreditavelmente translúcida. Corpo esguio, magricela. Só tinha volume no seio. Mas eu até que gostava de ter apenas essa curva, e acho que gosto dela até hoje.
Em cima da foto, estava escrito "No clube da luta, finja que não me conhece". Reconheci a letra feia e deplorável que citava um dos meus filmes prediletos, "O clube da Luta".
Era a letra horrível do Jack Jonhson, o garoto loiro, que sempre estava com a jaqueta do time de futebol da escola (acho que por estar orgulhoso de ter entrado como reversa dos reservas do time. Mesmo que ele não jogasse quase em nenhum jogo). Os olhos azuis em seu rosto angelical são penetrantes, como sempre me lembro. A carinha de bebê do menininho popular.
Shawn Mendes e minha prima, Tessa Grier, estavam se beijando na foto. Os olhos castanhos dos dois estavam fechados, os cabelos escuros e curtos de ambos estavam molhados. Eu os amo muito, e com certeza eles são os únicos integrantes do grupinho que ainda mantém amizade com o restante do pessoal.
Mal posso acreditar que eles me mandaram um convite para o casamento deles. Caralho, eles vão se casar! Quanto tempo já se faz desde que tiramos essa foto? Uns 7 anos, imagino... Mas, ainda assim, estou aqui, egoísta como uma adolescente, não pensando nos meus melhores amigos que me enviaram um convite para o próprio casamento deles e me intimaram a sair de férias com ambos. Só pensei em como seria terrível encarar todos os outros membros do clube do Scooby-Doo novamente.
Ri comigo mesma enquanto desviava o olhar para a garota ao lado de Tessa. Não dava para ver seu rosto, apenas suas costas cobertas pelo uniforme de líder de torcida, que ela tanto amava. Sabia quem era essa magricela. Amber Winchester.
Encarei a parte de trás de Amb na fotografia, enquanto me perguntava aonde ela estaria agora.
Amber estava virada de costas discutindo e rindo com Matthew Espinosa, atrás de si. Provavelmente por causa de alguma merda inútil que ele tinha feito para provoca-lá. Ele ria, com os seus cabelos meio mel, bagunçados e os olhos castanhos revirados.
De todos do grupo, Amber sempre foi a mais próxima de mim. Pena que ela me traiu. Pena que todos me traíram. E pena que eu os trai.
Nash Grier, meu irmão de 1 ano de diferença, estava sorrindo na foto, com a covinha em sua bochecha bem pronunciada. Seus cabelos pretos, estavam amarrados em um topete com bastante gel, enquanto seus olhos azuis penetrantes destacavam-se na imagem. Enquanto sorria, carregava em seu colo, de cavalinho, a loira mais baixinha de todas, Emma Smith. "Tamanho não é documento", essa era a frase em que Emma mais falava e com certeza foi feita pra ela. Seus olhos azuis cristal realçavam de longe, e mesmo fazendo careta, ela conseguia ser linda.
Ali estava Cameron Dallas, provavelmente tentando fazer alguma merda, carregando meu ex namorado em seu colo. Dallas tinha o sorriso mais simpático do mundo, seu cabelo era castanho e seu uniforme de jogador de futebol, explicava seus olhos escuros, orgulhosos.
Então, olhei para o seu colo e o vi. O famoso Jack Gilinsky. Moreno, alto, musculoso e o cara mais bonito da escola. Mas é claro que ele seria o namorado da patricinha da Alice Grier, vulgo eu. Ao mesmo tempo que ele ria da futilidade do amigo, ele me encarava, com o olhar mais profundo do que nunca. Eu amava isso. Ou amei.
No canto, vi Valentina Martin e Rachel Harriet se abraçando e gargalhando consigo mesmas, chapadas. Provavelmente por causa da maconha. Eles fumavam pra caralho nessa época.
Os cabelos ruivos e ondulados de Tina, estavam amarrados em um nó, e seus olhos pretos, os mais escuros que já vi, estavam vermelhos por conta do baseado.
Já Rachel, a dona dos pesadelos de todo nosso grupo e possivelmente de toda a East High, estava sorrindo, com o seu sorriso único, totalmente sem emoção, mas misturado de forma cruel e psicopata. Típico dela. Com os cabelos rebeldes, pretos, e repicados em todas as direções na altura de seus ombros. Olhar pra ela me dá calafrios.
E bem ali, observei o elemento da foto que não queria me lembrar, nem nos meus melhores sonhos. Nem nos meus piores pesadelos. Mas nunca consegui me esquecer completamente dele.
Vestindo uma camiseta do Nirvana. Eu tinha dado esse merda pra ele.
Seus cabelos descoloridos, possivelmente sua marca registrada, estavam desarrumados. Seu sorriso ainda era a coisa mais sexy que já vi em toda minha vida. O chupão estava em seu pescoço. Acho que eu tinha dado o chupão alguns dias antes também. Ou tinha sido a namorada dele. Ou talvez tenha sido outra garota, sei lá. Vai saber.
Eu estava em sua frente; Sammy segurava minha cintura, enquanto eu beliscava seu braço de propósito. Ele provavelmente estava enchendo meu saco, como sempre.
O copo de alto teor alcoólico estava na mão livre dele. A gente sempre, por mais de todas as brigas diárias, dividia a bebida, que era basicamente um drink apaixonante, que ele aprendeu a fazer quando foi visitar seu pai no Brasil, se chama Caipirinha. Parece impossível falar esse nome, mas é só você beber, que falará todas as línguas possíveis. Nunca mais tomei esse drink, mas se eu pudesse, beberia essa bagunça até entrar em coma alcoólico. Como já fiz na adolescência. Talvez por mais de uma vez.
Mas apesar de tudo, eram seus olhos castanhos e tempestuosos que me davam arrepios. Arrepios que eu não sabia muito bem o que significavam, então geralmente só os ignorava quando lembrava de sua existência.
Merda. Esses olhos.
Esse olhar. Tudo começou com esse olhar.
Com esses arrepios.

Abyss of PassionOnde histórias criam vida. Descubra agora