71 | Happiness.

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| N i n a |
 

— Tenho medo. — Murmuro.

Natalie inclina a cabeça para o lado e puxa as sapatilhas da minha mão. Já costurei ao menos cinco sapatilhas de ballet essa semana na esperança vazia de poder dançar de novo.

— Pare de costurar isso. — Ela revira os olhos. — Tem medo de quê?

— Não poder dançar balé de novo.

Natalie se levanta e se senta ao meu lado. Anna desvia seu olhar do livro que está lendo e se aproxima assim como Natalie.

— Eu tinha medo de não me sentir boa o suficiente de novo depois de sair do hospital e ter que comer. — Anna diz.

— E eu tinha medo de nunca ter amigos de novo depois de sair das líderes de torcida. Não que eu tivesse antes, mas eu fiz e saí. — Natalie deita sua cabeça em meu ombro. — Mesmo que a Anna ainda não tenha me engolido, tenho amigos de verdade agora.

— Eu não te odeio nem nada. — Anna diz e Natalie ri.

— Eu sei que não. Fui má com você e mereço que leve tempo até ter confiança em mim. — Nat assente. — Mas, Nina, assim como as coisas deram certo para mim e estão dando para a Anna, a gente sabe que vai dar para você.

— E se não der? O que eu faço se não puder mais usar essas sapatilhas?

— Encontrar outra coisa que ame, Nina.— Anna pega minha mão. — Eu sei que sente que sempre é o fim do mundo, mas não é. Claro que temos fé de que a veremos dançando naqueles tutus fabulosos. Acredito que a fisioterapia dará certo.

— E se não der?

— Então você vai se encontrar em outra coisa. Acredito que isso não te conforte.

— Conforta um pouco. — Sorrio. — O que me conforta mais é que vocês estão aqui.

Puxo Anna para se sentar ao meu lado e assim fico entre ela e Natalie. Para uma esquisita que começou o ano em uma escola nova, andando pelos corredores ao lado de uma melhor amiga adoecendo, estou terminando com duas melhores amigas — uma que é ex do meu namorado e a outra que está saindo mais forte do que nunca da espiral do transtorno alimentar que achávamos ser infinita. Elas me dão uma esperança estranha, mas verdadeira.

— Você é fofa. Não me faça derreter. — Anna bufa. — Eu te amo.

— Eu também te amo. — Beijo sua têmpora. — E eu te amo, Natalie.

Ela me encara com um olhar estranho.

— O que foi? — Indago.

— Nunca... ouvi isso. Não de verdade. — Suspira.

— Habitue-se. Vai ouvir pelo resto da sua vida. — Anna sorri para ela.

— Obrigada por serem minhas amigas e por acreditarem em mim. — Natalie balbucia. — E eu amo vocês.

 
(...)

Adam, Natalie e Max pulam no lago. Anna revira os olhos quando Max reclama ao ver que ela não pulou. Ele sobe pelo cais e a puxa para cair no lago. Eu e minha mãe sorrimos sentadas na escada da varanda de casa, assistindo.

— Você não vai entrar? — Adam grita do lago.

— Já estou indo. — Sorrio.

Pode ser que eu tenha perdido o balé e ainda não saiba. Por mais que esteja com medo, não estou triste. Fazia tempo que não me sentia feliz profundamente dessa forma.

— Estou orgulhosa de você. — Mamãe diz. — De tê-los deixado entrar.

— Eu te amo. — Beijo seu rosto. — Nunca mais duvido de quando disser que está fazendo algo pelo meu bem.

— Eu te amo, querida. Agora vá lá e afogue o Adam.

Nós cinco passamos a tarde no lago depois de eu, Natalie e Anna termos passado a manhã na casa da Natalie tentando estudar. Esse foi um dos melhores dias da minha vida. Adam e Anna apostaram quem chegava até o outro lado do lago mais rápido e Anna ganhou. Minha mãe pediu pizza e comemos no cais, enrolados em mantas e com o cabelo pingando. Ouvimos música, comemos sorvete e assistimos o anoitecer no céu alaranjado.

— Nina. — Adam chama quando entramos depois de Anna, Natalie e Max irem embora.

— Sim?

— Eu pensei que estava bem e feliz e que sabia ter lidado com a morte da minha mãe, mas eu não sabia o que era felicidade, Nina. — Ele me beija. — Você trouxe tudo isso para a minha vida e parece que todos os anos antes de você foram um enorme borrão e você trouxe a nitidez para todos os segundos da minha existência.

— Não seja bobo.

— Eu tenho amigos de verdade, uma família, um amor e uma vida incrível. Se a minha mãe estivesse aqui, ela te amaria mais que eu te amo. Você é exatamente o que Tori disse que era: um raio de sol.

— Ela me chamava assim quando eu era criança, Adam. Não sou mais assim.

— Você é o sol inteiro, Nina. Obrigada por trazer luz para a minha vida. E a da Anna, do Max e da Natalie também.

Abraço-o. Eu amo Adam com todo o meu coração.

— Eu quero casar com você, Nina Davis. Quero você e toda essa felicidade a vida inteira.

— Eu te amo, Adam. — Beijo-o.

Eu e Adam tomamos banhos juntos e depois nos deitamos. Mandamos mensagens aos nossos amigos perguntando se chegaram bem. Na manhã seguinte, sentamos juntos no refeitório na hora do almoço. Sentada à mesa, segurando a mão de Adam por debaixo dela, vendo Natalie falar e falar contando sobre como xingou a nova capitã das líderes de torcida. Anna disse que queria ter visto isso e Adam concordou.
Durante muito tempo, senti-me perdida no tempo, nas ruas dessa cidade e dentro de mim. Esse é meu lugar. Não o refeitório dessa maldita escola, mas entre essas quatro pessoas extremamente diferentes e que me aceitam como eu sou. Gosto de momentos assim, mas odeio os vislumbres em que percebo que eles são como a retração da água do mar avisando a chegada do tsunami. Enquanto Natalie falava e Adam não parava de rir imaginando a situação, quis estar presa naquele instante para sempre. Nos olhos estreitos e lacrimejando de Adam, no sorriso aberto de Max, nas gargalhadas inaudíveis de Anna e na empolgação de Natalie ao contar a história. A mão de Adam apertava a minha sob a mesa e ele nem ao menos percebeu. Não pensei nas cosias que aconteceriam depois desse dia, só que o mundo cairia aos meus pés e eu teria que assistir inerte.

O Silêncio Entre Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora