Capítulo 04

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Querida Mara,

Na manhã de quarta-feira, me assustei ao adentrar a sala de filosofia e me deparar com as carteiras organizadas em duplas.

— Arizona? Pode se sentar, sua dupla está lá no fundo. — o professor disse, manejando a cabeça na direção de Lavínia, que também me olhava.

Lancei-lhe um sorriso rápido e fui em direção a garota, mais ansiosa do que gostaria. Ela fechou o caderno em suas mãos quando me sentei ao seu lado e seus olhos azuis se encontraram com os meus, castanhos.

Por mais confusa que ela me deixasse, eu jamais seria capaz de negar sua beleza. Seu cabelo era raspado na nuca e nas laterais, gerando um estilo de corte "undercut", e sua franja loira escura quase chegava a altura de suas sobrancelhas. Seu maxilar era definido e seus lábios, que esboçaram um sorriso, eram carnudos.

— Trégua? — ela estendeu sua mão, causando um choque suave com a minha quando a aceitei.

— Acho que todos vocês conhecem o titio Ari. Até porque se não conhecerem Aristóteles, eu não sei como passaram de ano.

Alguns riram, mas, particularmente, aquele nome me irritava. Não por causa do filósofo, mas pelo homem que segundo minha certidão de nascimento era meu pai. Porém, não acho que essa história seja relevante no momento.

— Poderíamos começar com a sua definição de amizade: uma alma com dois corpos. Ou, segundo Platão, que dizia ser uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente zelosos pela felicidade um do outro. Mas não acho que vocês tirariam proveito disso, pois ainda não estabeleceram laços. — o professor continuou. — Por isso, preparei um questionário com oito perguntas para serem discutidas durante o semestre. Vocês decidem como fazer, quando responder, que ordem seguir. Eu sei que nem todos pretendem se comprometer, mas eu garanto que essa matéria será muito mais prazerosa se vocês se esforçarem.

No final da aula, eu e Lavínia pegamos uma das folhas na mesa do professor e a analisamos:

  No final da aula, eu e Lavínia pegamos uma das folhas na mesa do professor e a analisamos:

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— Você tá livre hoje a tarde? — eu balancei a cabeça positivamente. — Quer fazer o trabalho lá em casa?

— Por mim, tudo bem. O problema é que talvez eu não saiba como chegar lá.

Era a primeira vez que eu trocava palavras com a garota sem estarmos na defensiva. Sinceramente? Eu estava mais nervosa do que nunca.

— Não tem problema, a gente pode ir logo depois da aula. — ela sugeriu, aumentando ainda mais minha inquietação.

— Ok, pode ser.

— Beleza, a gente se encontra no estacionamento depois da aula.

E, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a garota se virou e seguiu na direção oposta enquanto eu a observava. Foi só então que eu me dei conta: como eu explicaria para a minha mãe?

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