Eloá

Turbilhão de sentimentos

    O dia hoje foi uma eternidade, acho que porque a minha irmã vai passar um tempo comigo, então fico ansioso por nada. Preciso relaxar de alguma forma mais tarde, acho que vou aceitar o convite do Tomaz de ir para a reunião na casa dele, antes de buscar minha irmã no aeroporto. Mas por agora, preciso terminar de organizar essas planilhas. Assim que término tudo, me despeço do pessoal e vou olhando meu Whatsapp até chegar no carro.
    Mana: Acabei de decolar, assim que pousar te aviso. Vê se não se atrasar. 19:00
    Eu: não vou esquecer, até mais tarde.
E tinha a resposta que eu estava esperando.
    Eloá: Claro. 09:03
Bom, ela aceitou sair comigo, num encontro de verdade. Estou bem animado com isso, se tive uns 10 encontros de verdade, foram muitos! Normalmente conheço as garotas em lugares e já fico com elas. Só que ela nem se jogou pra cima de mim de primeira, e eu sei que ela se sente atraída por mim, porque nos beijamos na casa dos pais dela, acho que vamos nos dar bem.
    Vou pra casa e tomo um banho, me arrumo e sento pra comer alguns cereais, já que não vou jantar tão cedo. Vou para o apartamento do Tomaz, chegando lá vejo que ele juntou o pessoa. Falo com todo mundo e fico sentado ao lado do Tomaz.
    - Gostou do novo investidor? Pergunto bebendo meu energético. Não posso beber pois vou buscar minha irmã daqui a poucas horas.
    - Gostei, ele entrou já ajudando bastante. Acho que deveríamos investir mas em sócios também. Tomaz fala.
    - Bom, já temos 25 sócios grandes, que esta o sempre presentes e nos ajudam a lucrar mais com a rede, se você acha que quanto mais melhor, então vamos fundo. Falo e ele da um tapinha no meu ombro.
    - Agora deixando o assunto de lado, o Evan falou que você e a Eloá se beijaram. Eu fiquei em dúvida se ele tava falando do mesmo Adam que eu conheço que já teria transado e esquecido. Ele fala e dá um sorriso.
    - Bom, não sei porque com ela não rolou assim. Mas não é nada demais. Ela é gente boa. Eu falo meio cauteloso.
    - Cara, ela é incrível, a gente tem sido bastante amigos ultimamente. Inclusive chamei ela pra vim hoje. Ele fala e não entendo o motivo, mas aquilo não me soa bem.
    - Como assim? Vocês ainda tão ficando?
    - Não, pelo menos não agora. Você se importaria se a gente ficasse? Pensei que vocês não tinham nada. Até porque você é o Adam! O cara de todas elas.
Aquela pergunta e comentário me deixa com raiva, não é assim que eu sou... ou talvez seja.
    - Não, não me importaria.
Já falaram alguma coisa e no mesmo instante se arrependeram? Pois é. Fiquei meio constrangido de voltar atrás, eu ia parecer um idiota. Fico mais um tempo conversando e depois saio pra buscar minha irmã lá pra 21 horas, prometendo não voltar mais.
Chego ao aeroporto que fica um pouco distante, espero por uns 20 minutos a minha irmã na saída, fico só lembrando de como aquilo me incomodou, eu preciso falar com o Tomaz. Minha irmã chega, levo ela pra comer e levo ela comigo pra casa do Tomaz. Só preciso dar uma passadinha rápida. Quando chego lá, percebo que só tem ele e o Matheus, um cara do trabalho.
    - Tomaz quero falar com você rapidinho. Eu digo em sinal de que precisa ser a sós. Vou caminhando pro quarto dele pra termos privacidade quando entro, vejo que tem alguém na cama, quando me aproximo um pouco mais, percebo que é a Eloá. Só com uma blusa e quase toda desenrolada. O ódio me sobe a cabeça, fico muito puto, trinco meu maxilar involuntariamente, sinto meu sangue correr rapidamente pelo meu corpo e meu coração acelerar. Quando me viro ele tá entrando no quarto.
    - Cara, não sabia que ia se deparar com essa cena. Ela só falou que ia tomar banho...
    - Você disse que não tava ficando com ela.
Eu falo tentando controlar o tom da minha voz. Ele parece confuso e exita antes de perguntar.
    - Você disse que não se importava, porque tá desse jeito?
    - Eu me importo! Falo em um quase grito e suspiro fundo vendo que não tenho motivo ou razão alguma naquela situação.
    - Foi mal cara, eu tô indo nessa.
Saio do quarto sem escutar mais nada além dos meus pensamentos e entro no elevador. Porque eu fiquei tão estressado? Não tenho motivo. Ela não é nada minha, mas porque isso me machucou tanto? Imaginar que eles estão juntos, que aquele beijo que ela me deu, também vai dar nele... Tento esquecer esses pensamentos, entro em casa e me jogo no sofá, tentando entender o que está acontecendo comigo. Passam alguns minutos e escuto alguém abrindo a porta, então lembro da minha irmã.
    - Obrigada por lembrar de mim tá? A Gabi fala e entra com raiva pro quarto de hóspedes. Nem me dou o trabalho de me preocupar agora.
    - Cara, o que foi aquilo? A voz do Tomaz ecoa pela sala. Eu vejo ele se aproximando do sofá.
    - Eu não sei. Não entendi também. Acho que bebi muito energético.
Não olho pra ele, só falo, porque a situação foi constrangedora.
    - Eu entendo que você goste dela, é normal. Só não quero que a minha amizade com ela, atrapalhe a minha amizade com você.
    - Cara eu sei que não tenho direito de achar ruim, a gente não tem nada.
    - Eu sei que o jeito que ela tava lá deitada não pareceu ser uma amiga, mas eu juro que nao aconteceu nada entre a gente. Olho pra ele e ele parece preocupado, com medo de me magoar. Me sento.
    - Tá tudo bem irmão. Eu nem sei o que aconteceu, eu não sabia que gostava dela, ou se gosto. Falo e coloca as mãos na cabeça.
    - Olha, eu não tenho muita experiência com gostar de alguém, além da Débora, você sabe disso. Mas o que você tá sentindo parece com isso. Só não quero que você quebre a cara. Como eu quebrei, então primeiro vai devagar, até porque pelo jeito você já tá indo né? Ele fala e começa a rir. Dou um murro no braço dele.
    - Idiota. Falo e abro um sorriso.
    A gente conversa mais um pouco e ele vai pra casa, mesmo eu dizendo que podia ficar. Fui falar com a Gabi mas ela já tava dormindo, então só cobri ela e sai do quarto. Tomei um banho de água quente, passei um bom tempo debaixo do chuveiro, pensando em tudo o que aconteceu. Acho que deixei minhas emoções tomarem conta de mim, mesmo que só um pouco, e isso não é bom, me trás lembranças de momentos ruins em que isso aconteceu. Como à alguns anos, em uma festa, um cara deu em cima da Gabi e ela o recusou com muita educação, eu estava com ela então ele não fez nada, mas eu me descuidei, fui no bar sem ela comecei a conversar com uma garota e quando dei por mim, não estava mais vendo ela na nossa mesa, então fui atrás dela dentro da festa toda, Evan e Tomaz também estavam e foram procurar, não a encontrei. Quando sai pra procurar lá fora ouvi alguns gritos vindo de um corredor ao lado da casa noturna, eu corri até lá e vi a minha irmã no chão e o cara chutando ela, naquele momento eu não estava em mim, eu caí em cima dele e bati nele, com toda força que eu tinha, bati mais na cara dele com mais raiva do que no resto do corpo, lembro de ouvir de longe minha irmã chorando pedindo pra eu parar, mas eu não conseguia, ou simplesmente não queria, eu tinha que fazer ele sofrer. Até o momento em que eu peguei uma pedra grande e pesada no chão, e quando eu ia tacar na cabeça dele já desacordado, Tomaz segurou o meu braço. Então o ouvi pedindo pra eu largar a pedra antes que aquilo acabasse muito mal. Larguei a pedra, levantei, peguei minha irmã e levei ela para o hospital, tive que engessar minha mão porque quebrei um dedo. Enquanto esperava a Gabi fazer os exames, lembrei de quando eu era novo e tinha que ver meu pai gritar com a minha mãe, ela chorando, ele bêbado, eu tinha vontade de matar ele. Ele nunca foi realmente um pai, sempre foi um estúpido nojento, que se aproveitava da minha mãe e traia ela sem tentar nem esconder. Até que um dia ele bateu nela, só que nesse dia, eu já estava grande o suficiente pra espancar ele até ele ter que ir pro hospital as pressas. Naquela noite fui conversar com a Magnólia, ela é psicóloga, ela me disse pra controlar esses impulsos com todas as minhas forças, que eu libertasse de outra forma, porque se isso acontecesse de novo e eu não tivesse um motivo para parar, tudo poderia sair do meu controle. Saio do banho, me enxugo e me deito para dormir. Amanhã será um novo dia.