Sol

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E, de forma tão simples quanto um piscar de olhos, quando uma de suas mãos finalmente encontrou o espectro de luz que saía dali, Izuku foi levado para dentro.

Sua aliança dourada caiu no chão, ficando esquecida ali.

// Izuku //

Quando eu tinha menos de dez anos minha mãe insistiu que eu deveria fazer natação. Seria muito bom para o meu corpo, ela dizia, me ajudaria a desenvolver minha força e me faria uma pessoa disciplinada em muitos sentidos.

Claro que, como sempre, minha mãe havia acertado naquilo. Mesmo que fosse um exercício considerado simples, quando eu tinha dez anos, a natação me ajudou em muitos sentidos. Eu cresci rápido, um pouco mais alto para minha idade, e disciplinado em todas as matérias e sentidos possíveis.

Mas, naquele momento da minha vida, nenhum daqueles detalhes fez a menor importância.

Quando meus olho se abriram, minha primeira reação foi gritar - ou pelo menos, tentar. Meus olhos queimavam, eu estava dentro d'água. A água era espessa, suja, cheia de lodo, pedras e lama que se agitavam enquanto eu tentava, desesperadamente, ir para a superfície. Por mais que eu me movesse para tentar subir, era como se houvesse alguém puxando meus pés, trazendo-me para baixo.

Meus pulmões doíam ali dentro, como se a pressão fosse mais forte do que qualquer coisa. Eu me virei na água, tentando achar a direção certa para ir, mas tudo era a mesma coisa: o mesmo verde escuro repleto de sujeira.

Eu iria morrer ali. Iria morrer dentro de um lago sujo que eu não sabia onde ficava, um no qual eu jamais ouvira falar. Eu iria morrer longe da minha mãe, do meu marido, das minhas filhas e dos meus amigos. Iria morrer longe da minha cachorrinha. Esses pensamentos se reviraram dentro de mim a ponto de eu querer chorar. Enquanto estava sufocando, sentindo todo o pouco ou nenhum ar que eu tinha dentro de mim ir embora, algo chamou minha atenção.

O colar de pedra rosada de Zaraya era a única luz ali dentro; eu podia vê-lo flutuando na água, na minha frente, para cima... Para cima! Movi meus braços e pernas depressa, tentando alcançar a superfície.

Eu ofeguei tão alto que o som da água se balançando ao meu redor quase passou despercebido. Tossi enquanto me debatia para sair da água, nadando até a margem, onde havia uma pequena beirada cheia de grama. Quando finalmente saí da água, virei-me para olhar o lugar onde eu estava.

O céu ali não tinha estrelas; tudo era escuro e o ar era pesado como se não houvesse circulação. Era estranhamente... Parado. Atrás de mim, o lago onde eu estivera me afogando segundos atrás era como um espelho d'água que refletia o céu que parecia uma ferida aberta, sangrando preto.

A grama alcançava meus joelhos, mas o único movimento nela era o dos meus passos. Longe, próximo ao horizonte, havia um amontoado de folhas negras e troncos cinzentos que deveriam formar uma floresta. Se não fosse aquilo, talvez, o céu se confundisse com a água. O lago parecia não ter fim. Eu não podia nem mesmo ver o final dele e estava surpreso com o quanto ele parecia ser profundo. 

Respirei fundo algumas vezes enquanto olhava ao meu redor. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Talvez fosse. Será que eu havia caído e batido a cabeça? Kacchan ficaria preocupado, então eu precisava acordar logo. Mas... Ao mesmo tempo que eu me alimentava com aquela esperança, sabia que estava somente mentindo para mim mesmo. Eu não estava sonhando, eu havia caído dentro de um buraco. Parte de mim começava a se perguntar por que inferno algo como aquilo estava na minha cozinha. Eu me lembrava daquele buraco no piso; Kacchan havia reclamado sobre ele e nós decidimos colocar a mesa por cima, para cobri-lo. Ah, ele iria ter um ataque do coração quando descobrisse aquilo. 

INSTANT SHOCK | BAKUDEKU Onde histórias criam vida. Descubra agora