— Vocês bem que poderiam me dar uma folga — falo após um suspiro cansado — Não se cansam de ficar olhando pra minha cara por tanto tempo?
— Está preocupado com a ideia de não conseguir se livrar da gente? Você também deveria estar preocupado com o que irá acontecer amanhã — proferiu com pressa o lagarto gigante, ele dedicava-se a segurar uma corrente de metal que se prendia a meu braço esquerdo, tentando me puxar para a fissura que havia a esquerda daquela arena.
— Talvez ele simplesmente não ligue mais pra gente, ou tampouco para o amanhã... Do que adianta afinal? — disse a toupeira com tom triste, seus olhos se mantinham presos em mim, diferente do lagarto que eram agitados e não paravam quietos, além de ter grandes olheiras.
Não consigo evitar o grunhido de dor quando a toupeira, que permanecia a direita puxou mais a corrente que estava presa em meu braço direito. Hoje eles estão forçando tanto as correntes que não sou capaz de ficar de pé, as forças se diferenciam tanto para cada lado que me desestabilizam. As vezes sinto que eles vão acabar me partindo ao meio.
— Suas preocupações provavelmente são acertadas, será que você não deveria fazer algo a respeito? — disse rápido o lagarto, cuja atenção mal parecia focar em mim.
— Você acha mesmo que eu não quero? Não suporto mais a presença de vocês — digo irritado, meus joelhos já estão machucados, não é muito agradável arrastá-los nesse chão com uma camada de areia por cima da terra.
— Não se preocupe, permanecerei ao seu lado, deixe de se importar com o resto — disse a toupeira
— Será mesmo que você estaria melhor sem nós? Tenho dúvidas sobre isso, além do mais, tem certeza que você está preparado para amanhã? — falou o lagarto
Olho cansado para os dois, baixando a visão em seguida, não sei há quanto tempo e nem por quanto mais tempo serei refém desses dois, já enfrentei tantos e tantas coisas nessa arena enquanto estava sendo puxado pelos mesmos, as coisas definitivamente não parecem justas.
— Não são, provavelmente nunca serão. — disse o lagarto
É. Entretanto, tenho que tentar me manter forte por eles, não posso cair nessa arena.
— Sinceramente eu não entendo por que vocês não decidem simplesmente me puxar os dois para o mesmo lado, assim seria muito mais fácil para conseguirem me jogar no abismo — falo irritado.
— Somos forças antagônicas e complementares, como polos opostos. — disse a toupeira
— Você parece bem ansioso com a possibilidade de acabar com tudo logo. — falou o lagarto animadamente
— A culpa provavelmente é sua, mas é o melhor não é? — falou a toupeira
Encaro os dois novamente, realmente sinto que vou rachar por dentro e por fora com a forma com que eles forçam as correntes de cada lado.
Sinto então braços envolverem-me por trás num terno abraço, todo o meu espírito parece estar sendo remendado em um só. Observo que as duas criaturas estão falando alguma coisa, mas nada sai de suas bocas, por todo o meu ser só escuto ecoando uma melodia calorosa que envolve-me por completo.
Sinto novamente o calor da alegria, como se uma grande chama fosse reacendida dentro de mim, não deixo de sentir o peso das amarras ou a dor das marcas, porém novamente elas parecem bem mais leves, como se fosse possível enfrentar tudo e aquilo tudo fosse efêmero e passageiro.
De olhos fechados vejo seu sorriso, retribuo e digo o mais profundo obrigado, queria que soubesse o que significa para mim.
— O que está fazendo? — força a fala o lagarto
— Como pode não estar triste? — reclamou a toupeira.
Sinto eles novamente puxando, mas não consigo evitar a risada.
— Sabe, é como dizem... — falo enquanto me levanto, finalmente dando um descanso para os joelhos, os repetidos puxões nas correntes parecem infinitamente fracos agora — Nada como uma gentil bruxa para afastar os males.
— Ela não está o tempo todo com você. — disse o lagarto
— Tampouco terá como saber que você está sendo afligido. — afirmou a toupeira
Olho para eles, o sorriso em meu rosto se curva de maneira arrogante e eu levanto mais o rosto.
— Pode ser que não, mas a marca que ela deixou em meu coração é um lembrete eterno de que eu sou mais poderoso do que vocês — digo isso e puxo fortemente as correntes assumindo a situação — Posso ter meus problemas para lidar com vocês, vocês podem até mesmo se aproveitarem de minhas marcas para me derrubarem, mas...
Puxo com tudo as correntes soltando das mãos gananciosas dessas criaturas, que apenas continuam a me observar aturdidas.
— Não esqueçam que apesar dos obstáculos que surgem, eu ainda sou um mago, será preciso muito mais que isso para me derrotar. — brado apontando para eles em desafio
Os dois acabam por se dissolver em uma nuvem de partículas pretas até sumirem por completo, olho para os vestígios disso e não consigo evitar de ficar enojado.
— Até o próximo embate.
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Acorrentado
FantasyPrimeira história de um novo universo que criei, sobre um misterioso sujeito em uma situação realmente problemática