Prólogo

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— Doutora Catherine, eu não sei por onde começar... — fora a primeira coisa que ela me falou, ao sentar no meu sofá. Olhei-a atentamente, reparando em cada detalhe, a perna direita se movendo, a unha do dedo indicador em seus lábios, ela estava a roendo, dando sinais de puro nervosismo, era bastante claro de que ela não se sentia à vontade ali.

Não era a primeira e nem a última, muitos dos meus pacientes ficavam nervosos em seu primeiro dia de terapia. Falar o que está sentindo, o que está passando para um estranho não é algo fácil de se fazer.

E meu dever era deixá-la mais relaxada, mais segura, para que ela pudesse se sentir a vontade em falar, em soltar os seus problemas.

— Pode começar do início, poderia me falar o que te fez vir aqui?... — agora eu olhava com mais atenção o rosto dela. Notei que ela tinha a pele bem clara, pálida, deixando mais visível as olheiras profundas, sinais de que ela não estava dormindo direito, os cabelos escuros estão ressecados, são lisos e desciam pelo ombro, chegando até a metade das costas dela, seriam bastante bonitos, se fossem bem cuidados. As unhas estavam pintadas de preto, mas o esmalte já estava saindo, havia algumas unhas pintadas, outras não e outras pela metade.

— Eu quero esquecer uma pessoa... — Ela disse num tom desesperado, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, e cruzou os braços, olhando ao redor, talvez estivesse reparando em cada canto da sala.

Apoiei meu lápis em meus lábios, ajeitando os óculos em meu rosto.

Então escrevi no caderno: Depressão e coloquei um ponto de interrogação.

— Certo... seria um ex-namorado? — perguntei, e ela concordou, balançando a cabeça.

Jennifer Young, vinte e dois anos, trabalhava de balconista em uma cafeteria, era o que já sabia sobre ela, agora sei que ela decidiu fazer terapia porque tinha um namorado, e provavelmente ainda não superou o término do relacionamento.

— Estávamos juntos há dois anos, fora o primeiro homem da minha vida e o único, ele dizia que iriamos nos casar, só me iludiu! — Ela olhou para baixo. — Terminamos há dois meses, e já vi de papo com outras mulheres...

— Então você ainda o vê? — indaguei.

— Bom, ele trabalha numa boate, como barman, as vezes vou lá e fico o observando de longe, já seria um sinal de que ele não ficaria de luto como eu fiquei com término, não é? — Ela disse e riu dela mesma.

— Ele deu que motivo para terminar com você? — questionei, franzindo as sobrancelhas.

— Disse que eu estava o sufocando, mas não é verdade! Eu tinha ciúme dele, mas era normal, ele trabalha em uma boate e sempre está em volta de monte de mulheres e... acho que ele me traía! — seu tom de voz era de angústia.

— Ele deu sinais de que traía você?

— Bom, eu via as vezes falando no telefone, mas toda vez que eu me aproximava ele desligava rapidamente, me dando impressão de que ele estava falando com uma mulher, mas quando perguntava, ele falava que era só um amigo... mas, as vezes eu ia lá na boate, e sempre tinha alguma garota no balcão conversando com ele, e acredite não estava apenas pedindo uma bebida, ai ele falava que eu era uma paranoica, que eu estava o sufocando... — os olhos dela encheram-se de lágrimas. — Aí ele me dava um drink, para que eu esquecesse tudo, mas eu nunca esquecia...

Fui anotando no caderno um resumo do que ela narrava para mim.

— E aí teve um momento que ele terminou com você?

— Sim... ele me falou muitas coisas que não são reais, se fez de vítima, dizendo que sempre fez de tudo por mim, e eu sempre o magoava com minhas desconfianças, que sou louca, que não confio nele e nem em mim mesma, que eu deveria me tratar, ai estou aqui... mas, acho que já é tarde, ele... ele não me quer mais!

— Você não precisa fazer terapia por ele, pode fazer por você, para se sentir melhor, superar isso que foi que você disse, não é? Quer esquecer ele! — falei, ela deu um meio sorriso, e assentiu com a cabeça, seus olhos começaram a marejar.

— Eu não consigo esquecê-lo, sonho com ele quase todas as noites, quando acordo sempre tenho a impressão de que ele está do meu lado, quando ando pela rua, as vezes penso que vou encontrá-lo em uma esquina, é desesperador, você já se sentiu assim por alguém? — dizia, o tom de voz era choroso, os olhos estavam vermelhos.

Abri os lábios, abanei a cabeça.

— Não, mas imagino como seja, o quanto isso deve te afetar todos os dias, como deve estar sendo difícil conviver com isso...

Ela concordou, assentindo com a cabeça.

— E qual é o nome dele? — perguntei, voltando a escrever em meu caderno.

— Giles, Giles Wright...


Perigosa ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora