As estrelas de um e os mitos do outro

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Yugyeom ouvia a música tocar ao fundo de forma abafada. Boiava na piscina, observando as nuvens escuras tomando conta do céu anteriormente tão cheio de vida e cor. Para a maioria das pessoas era tedioso passar os fins de semana de forma tão monótona, contudo para Yugyeom não havia coisa melhor; era um amante extremamente esquisito do sentimento da calmaria e solidão. Sentia-se melhor na própria companhia, apesar dos momentos tristes tornarem-se realmente preocupantes uma vez que precisa vivê-los. No restante do tempo, entretanto, Yugyeom se entretinha em ficar observando as pequenas coisas. Mesmo as gotas da chuva de fim de tarde eram importantes para ele, qualquer formiguinha passando por ali também.

Sua mente antes já tão caótica, contudo, encontrara-se uma bagunça ainda mais irreconhecível quando conheceu Im Jaebum. De início, ficou realmente ofendido com a pose prepotente que o mais velho demonstrara, os olhos frios o encarando com uma confiança quase irritante, entretanto teve outra chance de encontrá-lo e percebeu que tudo aquilo não passava de uma fachada boba pelo orgulho da briga que tivera com Jinyoung no dia que se conheceram — Jaebum era péssimo em disfarçar seus próprios sentimentos. No fundo, ele era apenas um grande homem com uma personalidade extremamente tranquila e instigante, sábio como um verdadeiro monge.

Ele não era uma pessoa realmente extravagante como Jackson Wang do curso de engenharia civil. Não, não. Jaebum era bem simples, na realidade ressaltava constantemente o quão minimalista conseguia ser. Tinha alguns gatos, morava num apartamento minúsculo perto da faculdade, andava de bicicleta porque se preocupava com o meio ambiente, comprava um café sem muito açúcar para não ceder a diabetes tão rapidamente — o nível de doces que Jaebum comia era assustador. Yugyeom não precisava pensar por muitos segundos para encontrar alguém mais "interessante" que Jaebum, uma pessoa cheia de manias estranhas, alguém que realmente levaria a curiosidade, entretanto não conseguia tirá-lo de sua mente.

Era engraçado como agora se via preso no emaranhado de galáxias que era Im Jaebum. Pegava-se pensando nele constantemente durante as aulas, amaldiçoando o moreno mais velho sempre que um sorriso besta surgia em seus lábios ao se lembrar da gargalhada gostosa dele. Astronomia era o seu curso dos sonhos, uma paixão que nasceu consigo, mas Yugyeom não negava admitir que as constelações favoritas que passara a gostar de estudar eram as pintinhas de Im Jaebum. Ele por inteiro era um estudo interessante, mas Yugyeom tinha gostos peculiares demais para prestar atenção no conjunto de beleza, gracinha e fofura que era seu hyung ao todo; não queria morrer de amores ainda.

Abriu os olhos lentamente, vendo como o céu agora estava tomado pelas nuvens cinzas. Suspirou, levando o olhar até a lateral da piscina. Jaebum usava seus fones de ouvido — implicava tremendamente com o gosto musical de Yugyeom, então resolveu entreter-se com as próprias músicas — e balançava as pernas dentro da água, totalmente distraído. Yugyeom nunca se cansaria de ligar os pontos da pele dele, era uma atividade simplesmente viciante. Ajeitou-se dentro da água, tendo a atenção do mais velho. Jaebum era uma pessoa muito mutável; se mexessem minimamente em seu cabelo, ele se tornava uma pessoa completamente diferente. Naquele momento, com os fios molhados cobrindo-lhe a testa, ele parecia uma criancinha. Yugyeom quis beijar os olhos gentis dele.

— O que foi? — Jaebum perguntou, retirando um lado dos fones. Yugyeom sorriu.

— Vai chover, hyung.

Havia momentos que Jaebum também se via preso no conjunto de fios vermelhos que era Yugyeom, esses momentos talvez bem mais presentes do que aparentam. O Im se via preso na forma dele de ser, agir, responder e até mesmo respirar. Em como era educado, mas também tinha os olhos macios e perigosos, como se escondesse o mais perigoso veneno por trás de cada ato gentil. Contudo, Jaebum sabia bem que era apenas uma impressão causada pela imagem dual de Yugyeom; no fundo, o garoto era extremamente doce como uma barra de chocolate, e igualmente fácil de derreter, aliás. Mas não negava ficar entretido em observá-lo, era um exercício de reflexão muito sutil e prático. Ambos tinham admirações mudas sobre o outro, qualquer um que os conhecesse poderia perceber isso.

— E você quer tomar banho de chuva? — Questionou, não realmente feliz com tal ideia.

— Acho que sim. Vamos?

Jaebum torceu a boca, mas não negou companhia a ele. Retirou seus pés da piscina e juntou todas as coisas dentro da casa, pois não gostaria que nada queimasse. Quando voltou, Yugyeom rodopiava dentro da água como se pertencesse a ela, as gotas tímidas da chuva dançando entre as poças de água presentes, indicando que logo o temporal enfim chegaria. Jaebum sabia que não era inteligente permanecer na água, mas não conseguia negar as vontades malucas de Yugyeom mesmo que elas fossem perigosas. Mergulhou de cabeça na piscina, sendo amparado pela pele escorregadia do mais novo ao submergir. Era um toque engraçado, pois estavam rodeados de água e a textura parecia mudar, mas não deixava de ser gostoso sentir os braços dele em volta de seu ombro.

Deu voltas pela piscina carregando Yugyeom. A relação de ambos nunca fora normal, principalmente porque nenhum dos dois realmente eram pessoas consideradas normais, contudo não se importavam com rótulos. Segurando na cintura de Yugyeom, dançou com ele pela água, até que a chuva antes tão sutil passou a engrossar, dando lugar aos trovões pesados. Jaebum observava o caos que o céu tinha se tornado enquanto Yugyeom tracejava o dedo indicador pelas pintinhas visíveis em suas enormes costas. Ambos eram tão esquisitos que aparentavam dar certo. Por fim, após alguns minutos, Yugyeom soltou-se de si, fitando-o mesmo que fosse difícil por conta da espessura das gotas que caíam em meio a tempestade que invadia os céus.

Contudo, ao que Jaebum fitou Yugyeom de volta, ele sentiu: maior que o céu desabando sobre eles era a conexão estranha que compartilhavam sempre que se encaravam.

— Por que mesmo estamos aqui? — Jaebum questiona alto e em bom som, tentando amenizar o arrepio que sobe seu corpo quando Yugyeom sorri extremamente belo em sua direção.

— Porque eu queria saber como é beijar você na chuva. — Respondeu o Kim, tão baixo que Jaebum quase não o ouve.

O som da água era ensurdecedor, ainda mais batendo contra a superfície igualmente molhada da piscina, mas o silêncio que caiu entre os dois gritava tanto que Jaebum se viu obrigado a aproximar-se de Yugyeom para ter certeza que realmente tinha ouvido direito. Ao fazê-lo, entretanto, se vê novamente preso na beleza simplesmente estonteante do mais novo, sentindo a conexão entre os dois enrolar seu corpo como um feitiço. Há tanto que Jaebum deseja a dizer a ele quanto quer ouvir, mas Yugyeom sempre foi uma pessoa silenciosa e misteriosa, então suas palavras também sempre ficaram presas em sua garganta. Entre a tempestade, contudo, ele sente que pode dizer tudo porque, no fim, talvez Yugyeom não o ouça.

— O que você disse? — Perguntou a que se aproxima o suficiente de Yugyeom.

— Disse que queria saber como é poder beijar você na chuva. — repetiu com outro sorrisinho, Jaebum de repente perdeu o fôlego. — Mas se você quer mesmo saber, eu também queria saber como é me perder com você nos lençóis e ouvir como sua voz ficaria gemendo o meu nome, ou poder estudar todas as pintinhas do seu corpo e ligá-las com minha caneta permanente, ou te deitar sobre um mapa do céu e entender quais pontos no seu corpo formam pequenas galáxias. — colocou seus braços novamente nos ombros de Jaebum, tão perto que poderia simplesmente beijá-lo naquele momento. — Por agora, eu aceito apenas o beijo.

Jaebum não viu mais motivos para não envolvê-lo entre seus braços e realizar a vontade que sequer sabia ser tão forte. Quando a pele de Yugyeom deslizou contra a sua, sua língua já dançava com a dele mesmo que as gotas pesadas tentassem interromper o momento. Naquele instante nem mesmo a finíssima camada de água os separava, eram um e enfim sabiam que gostavam de ficar dessa forma. A sensação de estar completo era idiota, mas muito gostosa de se sentir. Mesmo ao que o ar faltou, continuavam se beijando, traçando linhas imaginárias pelo pescoço e ombros, as partes que a água não cobria. No fim, a tempestade ficou do lado de fora, pois não demoraram a procurarem abrigo dentro de casa e, ao entardecer, dentro um do outro.

Yugyeom estudou cada pintinha de Jaebum, cada constelação e cada estrela solta, enquanto o mais velho envolvia-o dentro em seu sistema de fios vermelhos calmamente, sereno e tranquilo como sempre fora.

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